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Como TikTok expôs o medo dos Estados Unidos de perder poder no reino das mídias sociais

Após rejeitar proposta da Microsoft, ByteDance fez um acordo com Oracle. Todavia, analistas alertam para um maior escrutínio regulatório dos EUA
Redação Sputnik Brasil
Sputnik Brasil
Brasília (DF)

Tradução:

Em 13 de setembro, o grupo de software estadunidense Oracle fechou um acordo com a empresa-mãe do TikTok, a chinesa ByteDance, para se tornar o “parceiro de tecnologia confiável” nos EUA.

O acordo, que será analisado pelo Comitê de Investimento Estrangeiro dos EUA (CFIUS, na sigla em inglês) nesta semana, também prevê a criação de 25 mil novos empregos e de uma empresa com sede nos EUA.

Citando questões de segurança, o presidente estadunidense Donald Trump já havia ameaçado proibir o popular aplicativo chinês de vídeos curtos no país, a menos que as operações do TikTok nos EUA fossem transferidas para uma empresa local.

Embora os detalhes do acordo entre Oracle e ByteDance permaneçam em sigilo, a empresa estadunidense não está se referindo a ele como uma venda ou aquisição. A oferta anterior da Microsoft para comprar o TikTok foi rejeitada pela empresa chinesa.

Após rejeitar proposta da Microsoft, ByteDance fez um acordo com Oracle. Todavia, analistas alertam para um maior escrutínio regulatório dos EUA

Direito a Comunicação
O alvoroço sobre o popular aplicativo chinês "nada mais é do que Washington tentando preservar o monopólio dos gigantes da mídia sociais

“Oracle será olhos e ouvidos do governo dos EUA”

O pacto Oracle-ByteDance é sobre uma parceria para supervisionar os dados, não uma venda, que é o que a Microsoft buscava, explica à Sputnik Internacional Daniel Ives, diretor-gerente de pesquisa de ações da Wedbush Securities, em Nova York, EUA.

A Microsoft nunca quis uma parceria com a empresa chinesa, garante Ives. Em vez disso, a empresa fundada por Bill Gates queria adquirir o TikTok e seus algoritmos.

No entanto, o canal de televisão China Global Television Network informou que no final de agosto o governo chinês divulgou uma nova lista de tecnologias que estão sujeitas a proibições de exportação. “Parece sugerir que a tecnologia usada no algoritmo do TikTok não poderia ser exportada sem permissão do governo”, relata a mídia.

“A Oracle será um parceiro de tecnologia do TikTok, e os olhos, e ouvidos do governo dos EUA em relação às questões de segurança nacional”, aposta Ives.

O foco da Casa Branca no TikTok indica que a administração Trump “visa controlar as operações das empresas estrangeiras impondo políticas e regras rígidas sobre como [essas empresas] administram os dados e informações dos usuários norte-americanos”, comenta à Sputnik Internacional Pierluigi Paganini, analista de segurança cibernética.

“A Oracle representará o governo dos EUA no monitoramento das operações da empresa chinesa […]. Do ponto de vista funcional do usuário final, nada mudará, pelo menos se o parceiro técnico for a Oracle. A operação visa evitar que dados de usuários norte-americanos sejam coletados ou abusados pelo governo chinês”, clarifica Paganini.

O aplicativo de compartilhamento de vídeos curtos, por sua vez, nega terminantemente as alegações de coleta ilegal de dados do usuário.

O alvoroço em curso sobre o popular aplicativo chinês “nada mais é do que Washington tentando preservar o monopólio dos gigantes da mídia social dos EUA”, presume Caleb Maupin, jornalista e analista político.

“A mídia social é dominada por entidades sediadas nos EUA e há um grande temor da inevitável mudança para a multipolaridade […]. TikTok representa o medo de que a mídia social escape do controle de Wall Street e Londres”, ressalta Maupin.

O TikTok não é o único aplicativo baseado na China que foi alvo do governo dos EUA. Paralelamente à proibição do TikTok, Trump também proibiu o WeChat, um aplicativo de mensagens, mídia social e pagamento móvel multiuso desenvolvido pela chinesa Tencent, utilizando argumentos semelhantes ao usado para banir o TikTok, como preocupações de segurança nacional.

Além disso, o presidente dos EUA deu início a uma cruzada contra os gigantes chineses das telecomunicações. No final de junho de 2020, a Comissão Federal de Comunicações dos EUA designou formalmente as empresas chinesas Huawei e ZTE como “riscos de segurança nacional para as redes de comunicações norte-americanas”, alegando que ambas “têm laços estreitos com o Partido Comunista Chinês e o aparelho militar da China”. As empresas de telecomunicações chinesas negam repetidamente “espionagem” em nome do governo chinês ou dos militares.

Acordo Oracle-ByteDance longe da clarificação

Vários especialistas cibernéticos e fontes de veículos de comunicação dos EUA já compartilharam suas dúvidas sobre o acordo Oracle-ByteDance, enquanto Trump, que começou o imbróglio no final de julho, ainda não deu uma palavra final sobre o negócio fechado recentemente.

O portal The Verge alerta que embora o status de parceiro confiável da Oracle possa “incluir algumas auditorias de código”, não há garantias de que seria capaz de impedir ByteDance de “contrabandear algum malware de rastreamento, se quiser”.

Por sua vez, o ex-chefe de segurança do Facebook, Alex Stamos, argumentou no Twitter que “um acordo em que a Oracle assume a hospedagem sem código-fonte e mudanças operacionais significativas não resolveriam as preocupações legítimas sobre o TikTok”. Se a Casa Branca aceitar tal acordo, “demonstraria que este exercício foi pura fraude”, sublinha Stamos, em uma referência à ordem executiva de Trump banindo o aplicativo em 6 de agosto.

É improvável que o acordo Oracle-ByteDance resolva rapidamente as questões do aplicativo de vídeos curtos nos EUA, acreditam os observadores ouvidos pela Sputnik.

“TikTok fez enormes esforços para se conformar aos desejos do aparato de política externa dos EUA, mas não fez diferença”, ressalta Maupin.

Por fim, Ives prevê ainda “mais escrutínio da plataforma e do conteúdo pode estar no horizonte, dada a situação agravada em torno do TikTok entre Pequim e Washington”.

Redação Sputnik Internacional News


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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