Pesquisar
Pesquisar

Confuso, inconsistente e contraproducente: governo de Trump é exposto por coronavírus

“Os Estados Unidos terão que fazer ainda mais para fortalecer seu sistema de saúde falido, e no processo, restabelecer confiança nas instituições estatais”
Mariane Barbosa
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Em artigo publicado na revista Foreign Affair, o professor do Departamento de Economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts Daron Acemoglu critica a ação do governo dos EUA diante do coronavírus, chamando a resposta à pandemia de “confusa, inconsistente e contraproducente”, ao ressaltar que mesmo com todos os dados fornecidos por países que foram infectados há meses, a administração governamental pouco fez para fortalecer o sistema de saúde estadunidense.

Além da negligência com a saúde do povo, o professor denuncia o ataque do presidente às instituições estadunidenses que, segundo ele, começou muito antes do surgimento do novo coronavírus e “será sentido muito depois que ele acabar”.

“Ao atacar incansavelmente as normas de profissionalismo, independência e conhecimento tecnocrático, e priorizar a lealdade política acima de tudo, Trump enfraqueceu a burocracia federal.”

Comparado por ele com o início de estados autocráticos que “oferecem pouco espaço para contribuições democráticas ou críticas ao governo”, a administração de Trump criou uma leva de burocratas acostumados a dizer “sim, senhor”. “Quanto mais os burocratas estadunidenses se parecerem com homens autocráticos, menos a sociedade confiará neles e menos eficazes serão em momentos de crise como este.”

“Os Estados Unidos terão que fazer ainda mais para fortalecer seu sistema de saúde falido, e no processo, restabelecer confiança nas instituições estatais”

George Guariento
A administração de Trump criou uma leva de burocratas acostumados a dizer “sim, senhor”

Trator autoritário

No artigo, Daron Acemoglu aponta que em pouco mais de três anos, Donald Trump derrubou muitas “normas políticas” que anteriormente faziam o sistema político dos EUA funcionar (incluindo o fato de não se esperar tantas mentiras do presidente de uma potência mundial).

Entre elas, não se interferir em processos judiciais, não obstruir investigações policiais e não se beneficiar materialmente do poder executivo e seus privilégios e não discriminar cidadãos com base em raças, etnias, ou religião. Segundo o professor, “ao eviscerar essas normas, Trump acelerou a polarização da política dos EUA”. 

O economista aponta que o governo de Donald Trump não apenas “falhou em manter a infraestrutura de saúde que protege o país contra doenças contagiosas”, mas também enfraqueceu o serviço público.

“A hostilidade do presidente à perícia imparcial obrigou muitos dos funcionários federais mais capazes e experientes a deixar o cargo apenas para serem substituídos pelos partidários de Trump”, ressaltando que seus ataques àqueles que o criticam ou contrariam, criaram uma atmosfera de medo, que “impede os burocratas de se manifestarem”.

“O ataque de Trump à burocracia federal está levando os Estados Unidos a um caminho de decadência institucional seguido por muitos países outrora democráticos, agora autoritário”, diz o professor ao citar exemplos como o de Viktor Orban — aliado de Trump e presidente da Turquia —, e ressaltar que o ponto de virada desses governos, foi a perda da independência no serviço público e judiciário.

“À medida que a confiança do público nas instituições estatais diminui e os funcionários perdem seu senso de responsabilidade perante o público em geral, a transformação para o estado autocrático pode ser rápido.”

Luz no fim do túnel

Apesar de tudo, o professor Daron Acemoglu ainda enxerga esperança para o povo estadunidense: “não é tarde demais para reverter o dano que Trump causou às instituições americanas e à burocracia federal”.

Daron Acemoglu explica que, com a Constituição fracassando em restringir o presidente estadunidense e o serviço público sob ataque, será necessário um envolvimento não só das lideranças de governos estaduais e locais, mas de empresas privadas e da sociedade civil na política.

“Não será suficiente eleger um novo presidente em novembro de 2020”, ressalta no artigo. “O trabalho árduo deve envolver a sociedade civil e empresas privadas trabalhando em conjunto com o Estado para enfrentar os principais problemas institucionais e econômicos”, diz.

“Os Estados Unidos terão que fazer ainda mais para fortalecer seu sistema de saúde falido, e no processo, restabelecer confiança nas instituições estatais”, conclui.

Maria Barbosa ´e jornalista da equipe da Diálogos do Sul

Veja também


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Mariane Barbosa

LEIA tAMBÉM

Com Trump, EUA vão retomar política de pressão máxima contra Cuba, diz analista político
Com Trump, EUA vão retomar política de "pressão máxima" contra Cuba, diz analista político
Trump quer desmontar Estado para enriquecer setor privado; Musk é o maior beneficiado
Trump quer desmontar Estado para enriquecer setor privado dos EUA; maior beneficiado é Musk
Modelo falido polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso (2)
Modelo falido: polarização geopolítica e omissão de potências condenam G20 ao fracasso
Rússia Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito
Rússia: Uso de minas antipessoais e mísseis Atacms é manobra dos EUA para prolongar conflito