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ToggleDiante da paralisação parcial da atividade industrial regiões da China por causa da pandemia do novo coronavírus (Covid-19), a Casa Branca reagiu dizendo que chegou a hora da rendição econômica. Há que se lembrar que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia declarado guerra comercial contra a China e conseguiu um acordo pífio no mês passado, acordo este que mal disfarça a derrota sofrida pelo decante império diante do poderoso país asiático.
Diante disso, o Ministério de Relações Exteriores da China, por meio de sua porta-voz, Hua Chunying, respondeu colocando as coisas no lugar:
“O que terminou é sua capacidade de intimidação econômica. É a sua hegemonia que acabou. Os EUA devem voltar a respeitar as leis internacionais, deixar de impor direitos ou mandatos extraterritoriais. Devem reaprender a respeitar seus semelhantes para assim salvaguardar intercâmbios diplomáticos e comerciais transparentes e não discriminatórios”.
Ela lembra que China e Estados Unidos tiveram, no passado, conflitos que foram negociados com bons resultados e, portanto, deixa a porta aberta para o diálogo, sempre sob a base do respeito e benefício mútuo.
E adverte: “enquanto persistam essas novas sanções comerciais, a China, de maneira recíproca e unilateral, informa ao governo dos Estados Unidos e ao mundo inteiro que de imediato decretou impor tarifas alfandegárias sobre 128 produtos de origem estadunidense. Ao mesmo tempo, começa a considerar a ideia de parar de comprar títulos da dívida pública dos EUA. É tudo. Boa noite”.
Essa declaração oficial foi emitida 24 horas depois de a China ter lançado o Yuan Ouro, ou seja, ter abandonado o dólar como referência. Acrescente-se que desde que iniciou o megaprojeto da Nova Rota da Seda, vários países já estão realizando intercâmbio comercial nas moedas locais.
The White House
"Sem ter ideia do que é cutucar um tigre com vara curta, Trump resolveu provocar a fera, digo a China."
China sustenta os EUA
A China deixar de comprar títulos da dívida do tesouro dos Estados Unidos de per se dá um grande susto no mercado financeiro global. Afinal, é com esses títulos que estão pagando a conta no final do mês, já que China, Rússia e Japão são os maiores credores dos EUA desde a crise de 2008, que provocou quebradeira geral da banca ocidental. A Rússia ainda em 2018 vendeu 85% dos títulos que possuía e passou a acumular ouro no tesouro nacional.
Só de não comprar, a China já provocou um choque. Imagine se ela resolver vender os mais de US$ 1 trilhão de títulos de seu estoque a preço de banana? O dólar simplesmente vira lixo.
Aliás, já é lixo. A economia dos EUA se sustenta com a maior dívida do mundo. Divida que vem crescendo a cada ano porque o país norte-americano não consegue fazer deslanchar sua economia.
Em 2008, ano da crise do subprime que custou US 1 trilhão para salvar os bancos, a dívida pública dos Estados Unidos era de US$ 10 trilhões para um PIB de US$ 14 trilhões. Em 2018, para um PIB de US$ 20 trilhões, a dívida era de US$ 21 trilhões. Em 2019, a dívida já era de US$ 22 trilhões para um PIB estacionado em torno dos 20 trilhões.
Em 2019, em represália às sanções econômicas, a China vendeu uma grande quantidade de títulos e talvez não tenha vendido mais por bom senso, pois poderia causar danos a muita gente inocente que tem sua economia fundada no dólar. No final de 2019 ainda possua US$ 1,12 trilhões em títulos.
A China, convenhamos, teve muita paciência com os Estados Unidos de Trump, que parece governar para aplicar sanções ao mundo. A lista de castigos unilaterais impostos à China é enorme, daria um livro. Vale mencionar os mais significativos:
- Há anos os EUA vêm impondo sanções à Huawei, a maior empresa de alta tecnologia de informação e comunicação, tentando barrar a tecnologia 5G. Não satisfeitos, impuseram sanções a cinco outras empresas que utilizam componentes chineses.
- Os EUA se negaram a entregar motores da General Electric (GE) para aviões da frota chinesa.
- Sancionaram uma empresa petroleira chinesa por ter comprado petróleo iraniano. É isso, os EUA querem que o mundo inteiro bloqueie o Irã, como está fazendo com Cuba e Venezuela.
- Mais recentemente, impediram a entrada de estrangeiros que estiveram na China e proibiram viagens de cidadãos estadunidenses àquele país.
- Em novembro de 2019, promulgaram uma lei que pune autoridades de Hong Kong em meio a um cenário de grandes protestos contra a administração local. Como se Hong Kong fosse Porto Rico.
O Império do Meio
Muito antes da Roma Imperial e da era Cristã, a China era uma florescente civilização, de elevada cultura. Era o Império do Meio, entre o império do ocidente e o do Japão no oriente.
O expansionismo imperialista e colonialista da Inglaterra massacrou a China para impor sua hegemonia econômica e cultural. Só conseguiu com as armas e uma guerra total, como fazem até hoje para subjugar os povos.
Corromperam as elites do poder gananciosas; alienaram o povo por meio da guerra psicossocial levada ao extremo intoxicando e idiotizando a população com o ópio.
Livrou-se da Inglaterra, teve que enfrentar a invasão japonesa. Livrou-se do Japão, veio a guerra civil patrocinada pelas potências vencedoras, com intenção de colonizar o país. Nesta guerra, emergiu a Revolução Libertadora e socialista liderada por Mao Tsé-Tung.
Foram o ex-presidente estadunidense Richard Nixon e o ex-secretário de Estado do país Henry Kissinger que reconheceram que os EUA e seus aliados não poderiam continua ignorando e isolando a China, na época quase um terço da população mundial. Reconheceram, mas não abandonaram o plano de manter um cerco estratégico, abrangendo a China e a Rússia, para evitar a todo custo o desenvolvimento desses países.
Todas as doutrinas de segurança, desde Ronald Reagan até Trump, passando por Jimmy Carter ou Barack Obama, tiveram China e Rússia como adversários a serem contidos, principalmente a primeira, tratada como a inimiga a ser abatida, o novo demônio.
Confiando e utilizando as próprias forças, a China venceu mais essa batalha e se fez potência.
Sem ter ideia do que é cutucar um tigre com vara curta, Trump resolveu provocar a fera, digo a China.
O episódio põe de relevo a burrice dos novos bilionários que hoje conduzem a política nos Estados Unidos. Reconhece-se que há entre eles alguns gênios matemáticos, capazes de ganhar milhões de dólares por minuto, mas totalmente destituídos de cultura mundo, de senso de humanidade. Revela também, neste caso, a extrema burrice de governantes que, em países como o Brasil, seguem obsequiosos as ordens de Washington, abdicando da soberania.
Como manter um cerco à China e à Rússia já não funciona, Trump resolveu declarar a guerra comercial, sem avaliar corretamente a força do adversário. A China respondeu com a paciência de Confúcio e a inteligência do maior estrategista de todas as guerras:
A cada aumento de tarifas decretado por Trump, o país retaliava, ferindo onde mais afetava a economia e o eleitorado estadunidense.
Ao cerco imposto pelo Ocidente, o país respondeu com o projeto da Nova Rota da Seda. Começou com 70 países e hoje são mais de 100 os envolvidos na Ásia, na África e na Europa, onde já é possível pegar um trem em Madri ou Berlim e ir até Pequim.
Enquanto os Estados Unidos tentam manter sua hegemonia pelas armas de destruição em massa, por meio do terrorismo desestabilizador, como fez no Afeganistão, no Iraque e na Líbia e como está fazendo na Síria e quer fazer com Irã e Venezuela, a China chega com projetos de infraestrutura e financiamento para o desenvolvimento.
Mais difícil ainda está manter a hegemonia do capital financeiro e do pensamento único por esse mundo afora. A economia mundial está em crise, está estagnada a bordo de uma depressão e não há saída dentro do sistema.
Até a Igreja de Roma, a mais antiga das corporações transnacionais já se deu conta de que é preciso buscar alternativas, outro modelo. A Economia de Francisco, proposta pelo Vaticano é isso: salvar o capitalismo enquanto ainda é possível, enquanto é tempo, senão… o caos.
A estratégia do caos está em andamento faz tempo conduzida por aquela fração que se arvora o governo mundo. A China disse basta e o papa Francisco propôs uma nova economia.
Eis o dilema crucial que nos coloca a conjuntura. O caos ou um novo modelo livre da hegemonia dos Estados Unidos.
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