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Jornalista filma uso de gás lacrimogêneo contra crianças e acaba torturado na Bolívia

Rene Huarachi, da Rádio e Televisão Bartolina Sisa, foi perseguido, preso e torturado pela polícia após documentar efeitos causados pelo gás em escola
Leonardo Wexell Severo
Diálogos do Sul Global
La Paz

Tradução:

O jornalista Rene Huarachi, da Rádio e Televisão Bartolina Sisa, foi perseguido, preso e torturado pela polícia boliviana após documentar na última quinta-feira as crianças do Colégio 25 de Julho, do bairro de Senkata, em El Alto, recebendo nuvens de bombas de gás lacrimogêneo próximas aos protestos contra a presença da autoproclamada presidenta Jeanine Áñez. Com cerca de mil estudantes, a escola precisou ser evacuada pelos professores, em meio ao choro e ao medo dos pequenos.

“Quero tornar público agora que no dia 5 de março fui detido injustamente por realizar o meu trabalho como jornalista. Aqui tenho como provas os vídeos que circulam em todas as redes sociais, fruto do meu trabalho. Me detiveram das formas que fui fotografado. Quero denunciar o seguinte: houve perseguição, quero denunciar detenção ilegal sem prévia notificação e, por último, quero denunciar a tortura”, informou o jornalista.

Segundo Rene Huarachi, além da tortura, quando lhe colocaram “policiais em cima de suas costas”, espancaram “com uma viga de madeira” ou “dos inúmeros chutes e insultos recebidos”, “o que lhe dói são as ameaças aos filhos pequenos”, e por isso pede proteção e segurança à família.

Às duas sessões de honra das comemorações dos 35 anos da “mais jovem cidade boliviana” acabaram se transformando em “atos de repúdio à violência golpista”. Entoando “Añez assassina”, sobreviventes e familiares das vítimas recordaram o massacre realizado no ano passado em Senkata por tropas do Exército e que deixou ao menos 10 moradores mortos e 30 feridos.

Rene Huarachi, da Rádio e Televisão Bartolina Sisa, foi perseguido, preso e torturado pela polícia após documentar efeitos causados pelo gás em escola

Foto: Rene Huarachi
Crianças do Colégio 25 de Julho, do bairro de Senkata, em El Alto, recebendo nuvens de bombas de gás lacrimogêneo

Golpista, Ministro da Defesa é destituído

Após ser censurado pela Assembleia, o ministro de Defesa da Bolívia, Fernando López, foi finalmente destituído. López é acusado de ter ordenado igualmente a repressão militar nos massacres de Senkata e de Sacaba, em Cochabamba, que juntos deixaram 35 mortos e 800 feridos, segundo o Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). Ex-militar que estudou nos Estados Unidos, López foi diretor de Luis Fernando Camacho, de Santa Cruz, considerado como cabeça do golpe de Estado contra o presidente Evo Morales.

Como principal força do parlamento, o Movimento Ao Socialismo (MAS) colocou na lista de espera para a interpelação pelo legislativo os ministros de Governo, Comunicação e Presidência golpistas, acusados de repressão e atentado à liberdade de expressão e informação.

Leia a íntegra do depoimento de Rene:

“Sou Rene Huarachi, jornalista da Rádio e Televisão Bartolina Sisa, atualmente sem credenciais porque foram retiradas de mim pelos policiais, com o meu celular, mas aqui tenho o meu documento, a minha designação. E também pertenço ao Sindicato de Empresas Jornalísticas, Foto-jornalísticas e Meios de Imprensa Digital de El Alto.

Quero tornar público agora que no dia 5 de março, quinta-feira, fui detido injustamente por realizar o meu trabalho como jornalista. Aqui tenho como provas os vídeos que circulam em todas as redes sociais, fruto do meu trabalho.

Me detiveram das formas que fui fotografado. Quero denunciar o seguinte: houve perseguição, quero denunciar detenção ilegal sem prévia notificação e, por último, quero denunciar a tortura.

Fui torturado como vocês podem ver após ter sido detido na ex-Prefeitura de El Alto. Me levaram a um quarto e depois disso nos subiram a um carro-patrulha, onde nos subiram policiais em cima de vários detidos. Ali nós todos fomos colocados com a barriga para baixo e os policiais ficaram subidos em cima de nós, parados. Posteriormente, chegamos à Felcc (Fuerza Especial de Luta contra o Crime) de El Alto, onde tinham me tirado o celular anteriormente, e vasculharam todo o meu notebook, me insultaram de tudo, me disseram de tudo e me ameaçaram de tudo. E, finalmente, após ver todo meu celular, me deram com um pau, uma viga como dizemos nós, batido fortemente umas cinco ou seis vezes, o que me geraram estas feridas que podem ver nestas fotos. Me chutaram e dito de tudo.

Isso não é o que me dói, isso não dói. Me dói é que hajam ameaçado e se metido com a minha família. Neste mesmo momento em que me batiam estavam dizendo que meus filhos, por minha culpa, não seriam nada na vida. Que minha família vai pagar por tudo isso. Que o futuro dos meus filhos, pelo que eu estava fazendo, será afetado. Tenho dois filhos, meus pais e minha família. Meus filhos inocentes de dois anos e meio, quatro anos e meio, e é isso o que mais me dói.

Por isso peço agora, estou em liberdade, mas peço garantias porque a polícia perguntou de tudo e investigou onde vivo, com quem vivo, a que horas saio, a que horas chego ao meu trabalho, tudo isso.

Portanto, peço garantias não somente para mim, peço garantias para todos os jornalistas, para todos os bolivianos. Porque o que passou a mim não queria que passasse a ninguém, a nenhum boliviano. Na realidade, não quero que passe a ninguém. Estamos em um Estado de direito e, portanto, peço garantias não somente para mim, mas reitero garantias para minha família, para os meus filhos que são o mais sagrado da minha vida.

Obrigado,”

Assista à íntegra do depoimento de Rene:

Leonardo Wexell Severo é colaborador da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Leonardo Wexell Severo

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