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Steve Bannon une extrema direita com movimento anti-Europa e ódio a imigrantes

O coração da União Europeia está em Bruxelas e foi a capital que o estadunidense escolheu para quartel general do seu The Movement
Celso Japiassu
Carta Maior
São Paulo (SP)

Tradução:

A ofensiva da extrema direita, herdeira ideológica do nazi-fascismo, tenta ocupar espaços no solo da Europa, onde um dia a sua matriz construiu uma triste e trágica história. Países como a Polônia e a Hungria estão virtualmente ocupados e vários outros abrigam partidos que, dentro da democracia, trabalham para desestabilizá-la e substituí-la por regimes populistas, radicais e reacionários. Um ardiloso agente dessa ação que pretende subverter por dentro os sistemas democráticos europeus chama-se Steve Bannon.

O estadunidense Steve Bannon tem 66 anos, foi executivo de mídia no site direitista Breitbart News, onde veiculava material de cunho racista, antissemita, sexista e xenofóbico. Ajudou a eleger Donald Trump, em cujo governo atuou como estrategista chefe até ser demitido em 2017. Transformou-se então no grande inspirador dos movimentos de direita em todo o mundo. Ególatra e megalomaníaco, não se contentou em ficar nas sombras e expôs o seu rosto. Viajou para todos os quadrantes dando forma a “The Movement”, um organismo de extrema direita que ele próprio fundou utilizando recursos financeiros que ninguém sabe de onde vêm, mas todos desconfiam ou têm a certeza de quais são suas origens: os milionários das sombras, da estirpe de George Soros, dos irmãos Koch e do multibilionário August vom Finck, que vive na Suíça e financiou a criação e as campanhas do partido de extrema direita alemão AfD (Alternativa para a Alemanha).

O coração da União Europeia está em Bruxelas e foi a capital que o estadunidense escolheu para quartel general do seu The Movement

Alainet.org
O estadunidense Steve Bannon tem 66 anos, foi executivo de mídia no site direitista Breitbart News

O ovo de Colombo

Além de Trump, Bannon ajudou a eleger Jair Bolsonaro no Brasil, foi consultor da campanha que levou ao Brexit e ajudou na eleição de outros extremistas de direita pelo mundo afora. Desenvolveu um método de uso da comunicação através de plataformas da internet, segmentando públicos-alvo por opinião, tendências políticas e intenções de voto.

Por meio de disparos em massa de mensagens personalizadas recheadas de informações falsas que se convencionou batizar de “fake news“, consegue influenciar e dirigir o voto de suas audiências. Um ovo de Colombo posto de pé pelos recursos fartos colocados a sua disposição por aqueles milionários que pretendem a construção de um mundo onde eles possam reinar absolutos sobre os países, explorando as suas riquezas, suas populações e governando seus governos.

O palácio de Bruxelas

Bruxelas, a capital da Bélgica, é uma das sedes da União Europeia e onde se encontra sua principal instituição, o Parlamento Europeu, além de outras importantes instâncias, como é o caso do Conselho Europeu e a Comissão Europeia, que equivaleria ao poder executivo. Outras instituições estão localizadas em Estrasburgo, Luxemburgo e Frankfurt. Nesta última abriga-se o Banco Central Europeu.

O coração da União Europeia está em Bruxelas e foi a capital que Steve Bannon escolheu para quartel general do seu The Movement na Europa. No centro de um belo jardim, distante apenas poucos quilômetros do Parlamento Europeu, encontra-se o quartel general do movimento que pretende instalar e dar apoio primeiramente a governos de extrema direita nos 27 países membros. E depois pelo mundo afora.

Nessa empreitada Bannon tem como sócio o advogado e político belga também de extrema direita Mischaël Modrikamen. Este último define The Movement como um clube de líderes populistas que se opõem à globalização e que pensam que é necessário mais soberania para os Estados nacionais, “de modo que os cidadãos possam ter o controle do seu futuro”.

Ele diz que na Europa de hoje existem dois campos ideológicos em confronto. Um deles é o campo do globalismo, que defende a transferência das decisões políticas para entidades supranacionais, como as Nações Unidas e a União Europeia. E o campo inverso, que insiste na preservação de todo o controle nas mãos de cada estado.

Na Itália, Bannon e Modrikamen se reuniram com Matteo Salvini e Georgia Meloni. O primeiro é o líder do partido neofascista denominado Liga e Meloni é a nova musa do fascismo italiano, chefe do partido Fratelli D’Italia. Ambos estão hoje associados a The Movement. A poucos quilômetros de Roma, Bannon arrendou um antigo mosteiro que pertenceu à Ordem dos Beneditinos para organizar uma universidade destinada à formação de líderes da extrema direita política. O projeto encontra-se em compasso de espera porque o governo italiano desconfia de fraude no processo de licitação. Bannon diz que “tudo isto é poeira lançada pela esquerda”.

O que estes personagens têm em comum é o antieuropeísmo, o ódio aos imigrantes e um tipo de nacionalismo que, segundo disse uma vez François Mitterrand, um dos fundadores da União Europeia, significará novamente a guerra.

Bannon é um sujeito sinistro, mas não é estúpido nem ignorante. Nem é tampouco um fanfarrão como Donald Trump, Bolsonaro, Boris Johnson ou os Le Pen. Foi analista da Goldman Sachs e conhece com profundidade o sistema financeiro internacional. Reconhece a força da publicidade e a influência que ela exerce sobre a opinião pública. Qualquer publicidade. “There is no such thing as bad publicity. All publicity is good publicity” é um dos lemas em que acredita.

O consultor de comunicação Gonçalo Ribeiro Telles disse, com razão, em artigo no jornal Público, de Lisboa, que a esquerda europeia “só fala para nichos, e deixou de o saber fazer para as camadas sociais mais baixas dos seus países. A extrema-direita está a saber ocupar cada vez mais esse espaço maior.” Não apenas a esquerda europeia, acrescento eu. Sabemos disso muito bem no Brasil.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Celso Japiassu

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