Julian Assange tem sido torturado e ainda não recebeu os cuidados médicos adequados de que necessita, apesar da aproximação rápida das audiências de extradição, segundo especialistas. O editor do WikiLeaks enfrenta até 175 anos de prisão nos EUA e há a preocupação de que sua condição o impeça de participar adequadamente de sua defesa.
A proeminente revista médica The Lancet publicou uma carta de 117 médicos e psicólogos de todo o mundo exigindo o “fim da tortura psicológica” de Julian Assange.
“Desde que os médicos começaram a avaliar o Sr. Assange na embaixada do Equador em 2015, a opinião médica especializada e as recomendações urgentes dos médicos têm sido constantemente ignoradas”, diz a carta, escrita por um grupo de profissionais médicos conhecidos como Médicos por Assange (Doctors for Assange), publicada em 17 de fevereiro.
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Os especialistas médicos "condenam a tortura de Assange" e a contínua negação "do seu direito fundamental" a cuidados de saúde apropriados
Em maio de 2019, o especialista em tortura da ONU Nils Melzer, juntamente com dois outros especialistas médicos especializados na avaliação de vítimas de tortura, concluiu que o fundador do WikiLeaks apresentava sintomas de “tortura psicológica”
In London and we met with UN Special Rapporteur on Torture @NilsMelzer to discuss Julian Assange. Nils left us in no doubt that Assange is showing the effects of psychological torture and feels betrayed by the justice system in the UK, the USA & Aus #auspol #politas #FreeAssange pic.twitter.com/6q0OOKcUsX
— Andrew Wilkie MP (@WilkieMP) February 17, 2020
Em Londres, nos reunimos com o relator especial da ONU para Tortura, Nils Melzer, para discutir o Julian Assange. Nils não nos deixou dúvidas de que Assange está mostrando efeitos de tortura psicológica e se sente traído pelo sistema de justiça do Reino Unido, EUA e Austrália.
Melzer deixou claro que a tortura psicológica “não é uma tortura leve”, e deve apresentar um relatório sobre tortura psicológica à ONU até o final de fevereiro.
A primeira série de audiências de Assange sobre extradição terá início na segunda-feira (24) e se espera que seja realizada em Woolwich, no sul de Londres, perto da prisão de segurança máxima de Belmarsh, onde ele está preso. Até recentemente o editor era mantido em isolamento na ala médica da prisão, embora a pressão dos seus advogados, ativistas e colegas prisioneiros tenha resultado na sua recente transferência para uma ala coletiva em Belmarsh.
Apelos a clemência
Os especialistas médicos “condenam a tortura de Assange” e a contínua negação “do seu direito fundamental” a cuidados de saúde apropriados.
“Esta politização dos princípios médicos fundamentais é para nós motivo de grande preocupação, pois tem implicações para além do caso de Julian Assange. O abuso por negligência médica politicamente motivada estabelece um precedente perigoso, acabando por minar a imparcialidade da nossa profissão, o compromisso com a saúde para todos e a obrigação de não causar mal a ninguém”, se lê na carta.
Marise Payne, ministra das Relações Exteriores da Austrália, também recebeu uma cópia da carta. O evento coincide com a chegada dos deputados australianos Andrew Wilkie e George Robert Christensen, que viajaram para o Reino Unido para visitar Assange, falar com o especialista em tortura da ONU e deputados do Reino Unido e fazer pressão para a libertação de Assange. A carta endereçada a Payne apela para “agir com determinação agora” para garantir a libertação de Assange.
“Nossos apelos são simples”, escrevem os autores da carta, publicada na The Lancet: “Pedimos aos governos que acabem com a tortura do Sr. Assange e garantam seu acesso aos melhores cuidados de saúde disponíveis, antes que seja tarde demais”. Também apelam a outros profissionais médicos para que se juntem a eles.
Assange enfrenta até 175 anos de prisão nos EUA por acusações relacionadas com espionagem e com o seu papel na publicação de documentos classificados. As publicações, nomeadamente registos de guerra no Iraque e no Afeganistão revelaram crimes de guerra, cometidos por tropas lideradas pelos EUA, com outras formas de criminalidade e corrupção.
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