“Este é um Estado narco, um governo que está junto do crime organizado”, afirmou Rosa Salazar, liderança do movimento estudantil e feminino equatoriano, na luta desde a década de 60.
“Já não podemos dizer que vivemos em uma democracia. Exigimos sua devolução”, enfatizou Rosa, dirigente da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM) e representante da Coordenação de Mulheres Trabalhadoras da área Andina do Mercosul.
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Participante do processo de promulgação da Lei para Prevenir e Erradicar a Violência contra as Mulheres (2018), Rosa é apoiadora da candidatura de Luisa González, do movimento Revolução Cidadã.
Confira a entrevista
Monica Fonseca Severo | O que está se passando no Equador? As notícias que nos chegam são de um país tomado pela máfia e a grande mídia nada fala sobre a realidade.
Rosa Salazar | Aqui trabalhamos em uma aliança estratégica para fazer um tecido social forte. Isso nos foi imposto pela realidade. Comparamos o que vivemos agora com o que tínhamos durante dez anos de muito reconhecimento dos nossos direitos como mulheres, como povo, como país no governo do economista Rafael Correa (2007-2017).
Depois de Correa, enfrentamos muitos problemas. Nós apoiamos a candidatura de Lenín Moreno porque era militante da Aliança País e seu sucessor. Entretanto nunca, jamais poderíamos imaginar que ele era um traidor.
Antes mesmo da pandemia, Moreno aumentou os impostos e a tributação, retirou o subsídio da gasolina e atacou os direitos que havíamos conquistado. Por isso o povo se levantou em outubro de 2019. E a resposta do governo foi com armas letais, assassinando nosso povo. Inclusive atacaram os lugares em que estavam hospedados nossos irmãos indígenas, as crianças, as mulheres, os idosos. E nossos companheiros morreram, muitos ficaram feridos, outros foram presos num ataque que foi condenado pela Corte Internacional dos Direitos Humanos.
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[Em outubro de 2019, durante 13 dias, o povo equatoriano realizou um levante popular contra as medidas recessivas apresentadas pelo governo, que recuou. No total, os números oficiais apontam para 11 mortos e 1507 pessoas feridas e 1.228 presos. A violência do Estado foi condenada pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e pelo Alto Comissariado da ONU].“O governo de Moreno escolheu pagar a dívida externa em vez de dar enterro digno e atender aos necessitados”
E depois disso tudo, ainda veio a pandemia e o governo de Moreno escolheu pagar a dívida externa em vez de dar enterro digno e atender aos necessitados nos hospitais.
Aqueles que nos mataram agora são candidatos. Não sei pronunciar o sobrenome raro que ele tem [Otto Sonnenholzner], mas era o vice-presidente e manipulava todo o governo. E hoje se faz de salvador, como se não os conhecêssemos.
E depois de Moreno foi eleito Guillermo Lasso.
Chegou Lasso e não sabemos se temos ou não governo, porque não fez nada. As máfias apareceram com mais força hoje estão institucionalizadas. Nas cadeias os criminosos têm armas de alto calibre, eletrodomésticos, todos os benefícios. Foi com Lasso que começamos a conhecer as máfias que por aqui se desenvolveram.
Por isso, para nós, este é um Estado narco, um governo que está junto do crime organizado. Alguém acredita nas investigações deste governo sobre o recente assassinato de Fernando Villavicencio? Ele fazia denúncias sobre os narcos generais, ou generais narcos. Será que eles o calaram?
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Não acreditamos em ninguém deste governo, que não existe. Eu não era simpatizante do candidato, mas nunca estaremos de acordo com a sua execução. Somos amantes da vida e da paz.
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Foto: Governo do Equador
Rosa Salazar: "Éramos um país sem violência e passamos a ser o que somos agora. Construíram uma crise política e de segurança"
Qual é a expectativa das pessoas para as eleições?
Nós queremos que no próximo domingo (20) ocorram as eleições e que tenhamos um novo governo. Sabemos que o nosso povo, as mulheres, os jovens, os trabalhadores, todos vão eleger quem realmente já soube governar em paz, pois já fomos o segundo país mais seguro da América Latina.
Erámos um país sem violência e passamos a ser o que somos agora. Vejam o que a direita fez ao nosso país, como construíram uma crise política e de segurança. Queremos nos livrar deles! Queremos que depurem a cúpula militar, que depurem a cúpula da Polícia Nacional, todas as instituições que estão cheias de corruptos.
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Para dar um exemplo, neste momento não existem médicos, que foram despedidos, não existe atendimento de saúde emergencial, imagine o de especialidades. Mas já tivemos hospitais muito bem equipados, quando governava o Revolução Cidadã.
“Temos um candidato da direita que imagina que não temos memória e outro foi mercenário, trafica armas, vive da guerra e quer nos fazer acreditar que pode garantir a paz”
E as demais candidaturas?
Aquele que tem o nome tão especial [Otto Sonnenholzner] imagina que não temos memória. Um outro [Jan Topic] foi mercenário, trafica armas, vive da guerra e quer nos fazer acreditar que pode garantir a paz. Todos os sete candidatos da direita são a mesma coisa.
No debate eleitoral Luisa Gonzáles disse que o Revolução Cidadã sabe como fazer, e é verdade, já o vivemos, isso ninguém nos faz esquecer.
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Já não podemos dizer que vivemos em uma democracia. Exigimos sua devolução. Por isso todos vamos às urnas no domingo. É isso que se passa em minha mente e em meu coração. A rebeldia que sempre me moveu exige que respondam pelo que fizeram contra o nosso país.
Uma última mensagem às brasileiras e brasileiros…
O povo brasileiro nos deu um grande exemplo. Não estou falando de Bolsonaro, que é um neofascista e muito amigo de Lasso. A direita é uma só, em toda a América Latina, no Caribe. O exemplo de que falo é o da eleição de Lula. E quando tentaram derrubar o presidente [8 de janeiro] o povo o defendeu.
A nossa força é a mesma, somos um país pequenino, mas a força do nosso povo é a mesma. Vocês sempre estarão em nossos corações. Aqui dizemos “vamos voltar a ser a Pátria grande que sonhamos”.
Monica Fonseca Severo | Especial para ComunicaSul desde Quito.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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