Na fronteira entre Níger e Nigéria convergem dois perigos: a violência delinquencial e o terrorismo, que constituem riscos extremamente graves para residentes e deslocados por agressões da seita Boko Haram.
Enquanto as ações de terror são seguidas assiduamente pela mídia, os delitos comuns geralmente impactam e recebem cobertura midiática quando se comportam como processos sistemáticos que ultrapassam a rotina doméstica e podem gerar sérias crises em termos de segurança.
O terrorismo é uma página sombria, enquanto a delinquência comum assume um patamar menor, embora os atos denunciados pela população afetada impressionem, como ocorreu frequentemente durante os quase 10 meses do ano, quando a incidência de ambas variáveis fez com que mais de 40 mil pessoa cruzassem a fronteira nigeriana.
De acordo com o Alto Comissário da ONU para os Refugiados (Acnur), essas pessoas buscam segurança contra os ataques de grupos armados organizados contra homens, mulheres e crianças, e que em diferentes ocasiões incluem sequestros, torturas, extorsões, assassinatos, violência sexual, destruição de vivendas e outras propriedades.
Segundo descreve a agência das Nações Unidas, isso se deve à escalada de violência nos estados nigerianos de Sokoto, Zamfara e Katsina, onde perpetram as agressões grupos distintos do Boko Haram, tudo que levou a uma nova emergência humanitária nas regiões fronteiriças de Níger.
Sobreviventes dos assaltos detalharam que os grupos de delinquentes possuem armas de qualidade, suas ações estão bem organizadas e entre suas vítimas mortais houve chefes de comunidades e autoridades tradicionais. O modo de operar, além de assassinato, inclui o saque.
“Os atacantes, que tomam como reféns algumas pessoas, deixam outras em liberdade para advertir o resto da comunidade das consequências se não pagarem resgates e não fugirem de suas casas”, sintetiza a mídia acerca da difícil situação dos habitantes que tendem a se converter em deslocados e/ou refugiados.
O porta-voz de Acnur, Babar Baloch, declarou a jornalistas em Genebra, Suíça, que sua agência não tinha informação clara sobre os autores da violência nos estados de Sokoto, Zamfara e Katsina, mas o governo da Nigéria acusou desses fatos aos bandidos armados.
A escalada de violência nos três estados fronteiriços nigerianos fez com que, por exemplo, em 11 de setembro passado, 2.500 deslocados cruzassem para o Níger, após sofrer uma série de ataques, ampliou a ONU para sublinhar a forma como se vai engendrando um problema humanitário ao qual trata de solucionar com o trabalho de suas dependências.
ACNUR/UNHCR/Hélène Caux
Refugiados nigerianos carregam lonas de plástico para cobrir suas casas no campo de refugiados de Sayam Forage, em Diffa, no Níger
Segurança e conivência
Por iniciativa de Zakari Oumoru, governador da região de Maradi, Níger, as autoridades dos dois lados da fronteira firmaram um memorando de entendimento, cujo texto se centrou nos delitos transfronteiriços, na bandidagem, no rapto de pessoa e no roubo de gado.
Os governadores relacionados com o acordo de 8 de setembro são Aminu Tambuwal, de Sokoto, Aminu Masari, de Katsina, e Bello Matawalle, de Zamfara, o que evidenciou a preocupação com o problema, que de fato se relaciona com o âmbito de terror imposto pelo grupo terrorista Boko Haram desde 2009.
Segundo estudiosos africanos, o perigo que representam os delitos comuns em um lugar tão sensível como a citada franja, é tão grave como os atentados suicidas perpetrados em lugares de ampla frequência como os mercados e as igrejas, onde em geral os habitantes se acham indefesos.
A equação, apesar de ser complexa e operar com muitas incógnitas, possui um fundamento comum que é a escassez de opções de subsistência e progresso que sofrem os dois Estados, o que constitui um caldo de cultura para cevar a violência, seja qual for a sua origem.
Com os catalogados crimes transfronteiriços, seus autores, delinquentes comuns, buscam melhorar seus status econômicos em um ambiente estreito; por sua parte os hierarcas de Boko Haram chegam a oferecer dinheiro, uma moto e uma mulher para seus recrutas…
De fato: terrorismo e delinquência dão as mãos devido à vivência de fatores socioeconômicos totalmente contrários, em todos os sentidos, ao melhoramento humano.
*Julio Morejón, Jornalista da Redação África e Oriente Médio de Prensa Latina.
**Tradução: Beatriz Cannabrava
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