Os augúrios numéricos da mais recentes pesquisa sobre intenção de voto para as eleições gerais de outubro levaram o candidato opositor Carlos Mesa a manipular a dívida externa da Bolívia.
Mesa: “A dívida externa atual é a mais alta da história.”
Gustavo Pedraza, há 10 dias: “A porcentagem da dívida externa atual é razoável. A dívida atual é de 25 por cento em relação ao PIB. A Dívida com Mesa foi de mais de 50 por cento.”
“Sabemos que seu forte não é a economia, mas pelo menos ponham-se de acordo”, escreveu em 18 de setembro em sua conta do Twitter o ministro de Comunicação, Manuel Canelas.
Agência Boliviana de Informação
As cifras publicadas a 34 dias das eleições indicam que Evo Morales poderia conseguir sua reeleição no primeiro turno
Dessa forma, Canelas refletiu as contradições nesse sentido entre o líder da Comunidad Ciudadana e o aspirante à vice-presidência por esse agrupamento nas eleições programadas para 20 de outubro.
A afirmação de Mesa apareceu nas redes sociais apenas 24 horas depois da publicação de uma sondagem nacional de intenção de voto que situou o mandatário, Evo Morales, com 21,9 pontos de vantagem sobre ele.
Difundida por una rede de meios televisivos e elaborada por Viaciencia, o estudo dá ao mandatário e candidato do governante Movimiento al Socialismo (MAS) uma preferência eleitoral de 43,2 pontos percentuais, o que reflete um crescimento em relação a agosto, quando obteve 39,1 por cento. Uma tendência inversa se observa no seu mais próximo seguidor, Mesa, que de 22 por cento no mês anterior baixou agora a 21,2, sempre segundo a Viaciencia.
Permanece na terceira posição, com 11,7 por cento o representante de Bolivia Dijo No, Oscar Ortiz, o que reafirma a tendência de arrebatar votos a Mesa, pois em agosto só alcançou 9,5 por cento.
As cifras publicadas a 34 dias das eleições indicam que o atual mandatário poderia conseguir sua reeleição no primeiro turno, pois segundo a legislação vigente, isso é possível com 40 por cento dos votos e pelo menos 10 pontos de vantagem em relação ao ocupante do segundo lugar.
Viaciencia realizou esta sondagem urbana-rural entre 2 e 11 de setembro para a aliança de meios televisivos Unitel, PAT, rede Uno e Bolivisión.
O universo consultado incluiu 2.647 pessoas dos nove departamento do país.
Segundo relatório, Morales encabeça a votação departamental em La Paz (56,1 por cento), Cochabamba (50,5), Santa Cruz (35,6), Oruro (47,4), Potosí (36) y Pando (30,1).
Acrescenta que em Chuquisaca, Tarija y Beni, o mandatário está em segundo lugar com a seguinte porcentagem: 32,9, 26,3 e 25,7, respectivamente, superado por Mesa, que acumula 34 por cento em Chuquisaca, 35,4 por cento em Tarija e 27 pontos percentuais em Beni.
A manipulação
Mesa sustentou em sua conta do Twitter que “o MAS está nos deixando a dívida externa mais alta de nossa história: mais de 10 bilhões de dólares que os bolivianos teremos que pagar em décadas, postergando o desenvolvimento. Muito dinheiro se perdeu em corrupção, desperdício e a dívida com a China cresce exponencialmente”.
A esse respeito, o presidente do Banco Central da Bolívia, Pablo Ramos, explicou que seu país ocupa o segundo lugar entre os países latino-americanos com menos dívida total, só superada pelo Brasil (17,7 por cento de seu PIB).
Segundo o especialista, em 31 de julho de 2019 a dívida externa pública boliviana de médio e longo prazo alcançou os 10 bilhões e 605,3 milhões, equivalente a 24,6 por cento do PIB.
Ramos comentou que este indicador é sustentável com relação a gestões anteriores, quando ultrapassou 50 por cento do PIB, e inclusive chegou a 99 por cento em 1987.
Por sua parte, o vice-ministro do Tesouro e Crédito Público, Sergio Cusicanqui, qualificou de falsa e enviesada a análise do candidato da Comunidade Cidadã.
“O que escreveu o senhor Mesa é falso no sentido de que, para começar, ele esquece o que sucedeu em seu Governo e faz uma análise enviesada do que é a dívida externa”, advertiu Cusicanqui em entrevista à Rede Patria Nueva.
Explicou que a dívida externa não deve ser olhada apenas pelos montantes em termos absolutos, mas contrastar-se com os índices do produto interno bruto “para ter um dado mais próximo da realidade e ser comparável no nível internacionl”.
Dados do Ministério de Economia e Finanças Públicas confirmam que em maio de 2019 o saldo da dívida externa pública da Bolívia foi de 10 bilhões e 302 milhões de dólares, equivalente a 23,6 por cento do PIB.
Este indicador está muito abaixo dos limites fixados como ponto de equilíbrio pelos organismos internacionais, o que confirma a sustentabilidade econômica do país desse ponto de vista com relação aos governos anteriores a 2006, data da chegada ao poder do presidente Evo Morales.
Segundo Cusicanqui, esse índice é inferior ao que estabelecem os foros financeiros internacionais para qualificar uma dívida externa alta, e deplorou que Mesa esqueça que durante o seu mandato como presidente (2003-2005) o índice da dívida externa superou os 50 pontos percentuais com relação ao PIB.
“O que esquece o senhor Mesa é que no período do seu Governo essa relação entre endividamento externo e PIB (…) teve os níveis mais altos – detalhou o vice-ministro – superando os 50 por cento e os limites dos organismos internacionais, chegando a seu ponto máximo com 64 por cento de dívida externa no país”.
De acordo com as estatísticas, em 2004, durante a gestão governamental de Mesa, o endividamento da Bolívia chegou a cinco bilhões e 46 milhões de dólares, o que significou 50 por cento em relação ao PIB, 10 por cento menos que os cinco bilhões e 772 milhões de dólares alcançados pela administração de Hugo Banzer (1971-1978) quando foi registrado um nível recorde.
Cusicanqui também lamentou que Mesa se contradiga com seu candidato à vice-presidência, Gustavo Pedraza, que no início de setembro qualificou como “razoável” a atual porcentagem da dívida externa.
*Correspondente de Prensa Latina na Bolívia
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