Cidadãos israelenses da organização “Boycott from Within”, ativamente contra a ocupação israelense e o apartheid, se manifestaram para que Milton Nascimento, um dos principais nomes da música popular brasileira, cancele seu show marcado para o dia 30 de junho, na cidade em Tel Aviv, segunda maior cidade de Israel.
Em carta, os cidadãos relatam as agressões direcionados contra manifestantes pacíficos por toda a fronteira da Faixa de Gaza, e denunciam um regime de apartheid na Cisjordânia.
“O atual governo que controla Israel é um governo que representa os interesses coloniais e somente seus interesses em detrimento das massas de árabes palestinos nativos, aos quais nega os mais básicos direitos humanos.”
Confira a íntegra do documento:
Carta de cidadãos israelenses a Milton Nascimento – por favor, cancele o concerto em Tel Aviv.
Caro Milton Nascimento,
A organização Boycott from Within, grupo de cidadãos israelenses ativamente contra a ocupação israelense e o apartheid –boycottisrael.info – apoia o seguinte apelo do cidadão israelense Misha Treiger.
Saudações,
Meu nome é Misha. Sou um grande fã de sua obra aqui de Israel, desde Travessia a Clube da Esquina e Caçador de Mim e todas as outras. Cálice é uma canção que guardo junto de meu coração. No entanto, não soube como me sentir quando vi uma peça de publicidade para promover seu espetáculo em Israel, no dia 30 de junho, neste mês, em Tel Aviv. Eu adoraria mais do que tudo estar entre os presentes; contudo, minha consciência não me permite.
Veja bem, Israel é um país envolto em controvérsias, especialmente nestes tempos difíceis. Israel recentemente declarou a si mesmo a terra nacional do povo judeu e somente do povo judeu. O problema é que Israel é uma terra onde pessoas de muitas religiões e etnias vivem desde os tempos de Jesus até os dias de hoje.
O atual governo que controla Israel é um governo que representa os interesses coloniais e somente seus interesses em detrimento das massas de árabes palestinos nativos, aos quais nega os mais básicos direitos humanos, em favor da população de colonos judeus israelenses.
Israel administra efetivamente um regime de apartheid na Cisjordânia ocupada e um cerco violento contra a Faixa de Gaza, em situação de miséria. Semana após semana, Israel reprime as manifestações regulares, organizadas pela sociedade civil palestina em muitas aldeias da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, que clamam por ajuda da comunidade internacional contra as agressões israelenses, brutais e ainda impunes. Essas manifestações costumam enfrentar tiros de armas de fogo disparados por militares israelenses estacionados na Cisjordânia, além de tiros mortais de franco-atiradores direcionados contra manifestantes pacíficos por toda a fronteira da Faixa de Gaza. Quase toda semana, esses manifestantes presenciam o martírio de homens, mulheres, crianças, jornalistas e profissionais de saúde palestinos que são mortos pelo exército israelense, mesmo enquanto cuidam dos feridos.
Nenhum dos residentes palestinos de Gaza ou Cisjordânia pode viajar a Tel Aviv, não importa o quanto gostariam de presenciar um concerto realizado pelo lendário Milton Nascimento. São proibidos de sair de Gaza ou Cisjordânia pelo aparato de estado israelense. Na prática, trata-se da mesma situação que o caso de Sun City, símbolo do apartheid sul-africano, antigo, porém similar ao caso israelense em 2019.
Peço ao senhor, pessoalmente, como admirador judaico-israelense de sua maravilhosa obra, que não permita a si próprio ser utilizado pela campanha de relações públicas israelense para maquiar essa situação hedionda ao comparecer em frente a um público segregado na cidade segregada de Tel Aviv. Peço que assuma uma postura global pelos direitos humanos e diga “Não em meu nome”, como eu mesmo, um judeu israelense, reitero em minha carta:
Eu, Misha Treiger, não permitirei que meu nome seja usado para acobertar o apartheid israelense. Espero que o senhor possa fazer o mesmo e que cancele seu show em Tel Aviv, no próximo 30 de junho.
Meus melhores votos,
Misha Treiger
E Boicote! Apoie o chamado palestino pelo BDS – boycottisrael.info.
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