Sob a liderança de Matteo Salvini, ministro do Interior e vice-primeiro-ministro da Itália, ases da extrema-direita europeia realizaram um grande encontro em Milão, sob o aplauso de milhares de militantes da Lega, ex-Lega-Nord. Além de Salvini, que além de líder da extrema-direita local e cada vez mais da europeia, estavam presentes estrelas da França (Marine Le Pen), Holanda (Geert Wilders), além de lideranças de outros países, como Alemanha, Áustria, Finlândia, Eslováquia, Bulgária etc.
Nas ruas ecoavam gritos de “Itália primeiro”, “fechem as portas”, “a europa é cristã e não muçulmana”, e outros cantos da exacerbada xenofobia local. Salvini prometia “libertar” a Europa do pró-financismo e pró-imigração das “lideranças de Bruxelas”. Reivindicava-se a origem “cristã” da Europa, bem como sua “fundação” por Atenas e Roma e pelo “Iluminismo” – apesar do manifesto obscurantismo das teses defendidas. Os discursos espalhavam o autoelogio de ali estarem os “verdadeiros europeus” e “patriotas”.
A esperança dos militantes e líderes da extrema-direita é atingirem o percentual de pelo menos 30% dos 751 membros do Parlamento Europeu a serem eleitos entre 23 e 26 de maio próximos. Isto transformaria este bloco na terceira ou mesmo a segunda força no Parlamento. Entretanto é muito difícil fazer previsões gerais sobre a eleição, uma vez que cada país da União tem seu próprio método para eleger os deputados a que têm direito.
Há de momento um único dado certo: o número de indecisos ainda é muito alto, beirando os 100 milhões de eleitores, dentre os mais de 370 milhões que podem votar.
O outro lado desta esperança é que estes parlamentares eleitos consigam de fato formar um bloco. Há dificuldades no caminho. Salvini e Le Pen são favoráveis a uma maior aproximação com Vladimir Putin, visto como um aliado potencial na sua luta contra o atual estado da União Europeia.
Desenvoltura e desacatos
Já muitos líderes da extrema-direita nos países do antigo Leste europeu vêm Putin com desconfiança e com um temor que beira o terror e a paranoia.
Durante algum tempo Steve Bannon, com seus métodos de ação, foi outro fator de desunião. Bem acolhido por Salvini, era olhado com desconfiança por Le Pen e os líderes do Alternative für Deutschland alemão. Mas estas diferenças parecem ter se aplainado graças à atuação do líder italiano e também graças a Bannon estar focando uma de suas bandeiras na luta contra um adversário comum: o Papa Francisco I. O próprio Salvini já foi visto com uma camiseta com os dizeres “Este é o meu Papa” e a foto… de Bento XVI!.
Há ainda as diferenças nacionalistas entre os países. Poloneses e alemães não se bicam devido aos contenciosos históricos que perduram até hoje, por exemplo.
Pesquisas vêm apontando resultados muito promissores para a Lega na Itália. Se isto se confirmar, Salvini consolidaria sua posição de liderança na Europa. As pesquisas também apontam um bom resultado para a extrema-direita no Reino Unido, mas isto pode ser empanado pelo imbróglio complicado do Brexit.
No caminho para Milão, uma atitude controversa marcou a atividade de Salvini. Passando pela pequena cidade de Forli, na Emiglia Romana, Salvini foi também recebido entusiasticamente por uma multidão de mais de 2 milo pessoas, apesar da forte chuva que caía. Para dirigir-se a elas, dirigiu-se ao balcão do prédio em frente à praça da concentração. Acontece que chegar a este balcão e falar para uma multidão era um tabu na localidade, pois dali, em 1944, o Dulce Mussolini presenciou a execução de quatro partigiani pela forca, sendo que deles tinha apenas 20 anos. Graças a isto, enquanto se ouviam aplausos e vivas por parte dos partidários da Lega, ouviam-se também gritos de “fascista” e de uma das canções favoritas dos guerrilheiros anti-fascistas, a “Bella Ciao”.
Há um movimento na Itália em torno da recuperação da imagem do Duce. Aliás, seu corpo e o de sua companheira Claretta Petacci foram expostos e brutalizados na mesma Milão do comício do fim de semana, depois de ambos serem mortos por pelo menos um guerrilheiro (há controvérsias sobre quem praticou a execução) em 28 de abril de 1945, quando tentavam fugir para a Suíça.