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Pesquisas comprovam que os equatorianos já dizem: Adiós, Lenín Moreno

Lenín Moreno é visto pela esquerda como traidor, como incompetente pela direita e perdeu quase todo apoio popular; Seu "governo" já acabou....
Alfredo Serrano Mancilla
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

Ele vai embora e sabe disso. Nem sequer chegou aos dois anos e sua imagem positiva continua em queda livre. Segundo as duas últimas pesquisas realizadas pelo Centro Estratégico Latino-americano de Geopolítica (Celag), Lenín Moreno passou de um saldo positivo de 2,8 pontos em novembro de 2018 a um negativo em 19 de março deste ano. A esta altura, pouco acreditam que seja ele quem está governando. Segundo dados da mesma sondagem, a maioria dos equatorianos pensa que são os grupos econômicos, o governo dos Estados Unidos e Jaime Nebot os que realmente dirigem o país, muito à frente do próprio presidente. 

Olhando por qualquer lado, Lenín tem os dias contados e ele é consciente disso. Não tem apoio popular, como bem ficou demonstrado nos resultados das recentes eleições seccionais; tampouco tem estrutura partidária própria, e nem sequer tem ministério próprio, porque a maioria dos ministros são representantes de interesses corporativos. Por sua parte, os aliados políticos iniciaram um processo de afastamento sem retorno, porque já não precisam dele para o que foi a transição sonhada que devia pôr freio a Rafael Correa.

O setor empresarial também tem tomado distância do presidente; eles o veem muito fraco, sabem que se aproxima seu final e é melhor não continuar colado nele. A partir de agora, a pressão subirá. Os donos dos dólares deixarão de liquidar exportações e acelerarão o processo de levar dinheiro para o exterior graças, precisamente, à decisão de Lenín de eliminar o imposto de saída de divisas. Assim gerarão a tormenta perfeita baseada em uma sensação de caos e incerteza, terreno no qual se movem como peixe na água, auto erigindo-se como imprescindíveis. 

Desta forma, vai se esfumando do lado dele toda a bateria de “amigos”, salvo os meios de comunicação, que até agora não mudaram a linha editorial, embora falte pouco. Já conhecemos bem essas grandes empresas; são de fácil conversão e sempre gostam de jogar com o vento a favor. Seguramente já apostaram no novo cavalo vencedor. Ou seja, segundo eles, Nebot.

Lenín Moreno é visto pela esquerda como traidor, como incompetente pela direita e perdeu quase todo apoio popular; Seu "governo" já acabou....

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Sua última decisão desesperada, como esperneio de afogado, foi retirar o asilo de Julian Assange

Lenín fez tudo o que estava no papel. Cumpriu sua tarefa. E então chega a sua hora. Foi de usar a jogar fora, da mesma maneira que tem sucedido com tantos outros presidentes latino-americanos (veja-se o caso de Michel Temer no Brasil). Fez o que devia em todas as frentes a) perseguiu judicialmente Correa e muitos outros políticos da revolução cidadã até o ponto de prender seu próprio vice-presidente; b) rapidamente desmantelou tudo o que pode do Estado para enfraquecê-lo, como mandam os cânones neoliberais: c) reformou ao seu bel prazer toda a megaestrutura judicial substituindo promotores, juízes e membros do Tribunal Constitucional, assim como do Órgão Eleitoral; d) na parte econômica, deu seus primeiro passos (especialmente na área tributária) e deixou tudo pronto para que o Fundo Monetário Internacional entre com tudo, inclusive a reforma trabalhista, e e) no campo internacional foi rapidamente servir aos Estados Unidos em todas as frentes: abrindo escritórios dessa nação em seu país para que possam agir como na época das bases militares; lançou-se contra a Venezuela inclusive reconhecendo e recebendo Juan Guaidó como presidente interino; na Organização de Estados Americanos votou sempre segundo indicasse o país hegemônico; pediu a gritos para ser membro da Aliança do Pacífico e somou-se ao Prosul ao mesmo tempo em que quis enterrar a Unasul. 

Sua última decisão desesperada, como esperneio de afogado, foi retirar o asilo de Julian Assange, violando todas as normas do direito internacional e entregando-o de bandeja aos Estados Unidos para sua extradição. Com isso matou dois pássaros com um tiro só; por um lado, fazendo uso e abuso do Estado, vingou-se de quem descobriu uma trama de corrupção muito importante na qual o protagonista era ele mesmo, o mesmíssimo presidente e, por outro lado, seguramente fez seu último gesto a favor dos Estados Unidos para que lhe garantissem uma saída digna e confortável ao acabar seu périplo presidencial.

Lenín é uma magnífica demonstração de que não se deve confiar naquele que sorri demasiado no meio da cena política. Quem foi o máximo representante da Missão Ternura acabou entregando Assange, dando um passo definitivo para que se incrementem as possibilidades que o condenem à pena de morte. Outro paradoxo mais na vida política deste personagem, que se apresentou em seu momento como “centrista fanático”, para trazer paz em tempos de confrontação, e certamente sim, era verdade que não vinha para confrontar, pelo menos no sentido de defender a soberania do país, permitindo que os Estados Unidos tragam ao Equador o mesmo que faz em sua vizinha Colômbia. 

O final já está escrito. Não sabemos exatamente quando, mas seguramente será mais cedo que tarde. Já o disse até o próprio Nebot: não se pode esperar mais, 2021 é demasiado tarde. E, por sua parte, Correa continua mais vivo do que nunca, o que é inversamente proporcional ao tempo de vida política de Lenín. As vias para sair são múltiplas: morte cruzada, revogatória ou simples renúncia e antecipação das eleições. Seja qual for o canal institucional, a política já fixou a data de caducidade.

Good bye, Lenín!

* Diretor do Celag

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Alfredo Serrano Mancilla Doutor em Economia e diretor do Centro Estratégico Latinoamericano de Geopolítica (CELAG).

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