A descrição do carro batia e ao ver a cor da pele dos ocupantes, os militares não tiveram a menor dúvida. Ao contrário, tiveram 80 certezas, 80 tiros disparados contra uma família que ia a um chá de bebê e que havia escolhido aquele percurso por considera-lo seguro pela existência de um quartel.
Evaldo Rosa, músico que dirigia o carro foi assassinado no local e ainda há feridos de corpo e alma, para sempre.
No Brasil, o negro é suspeito padrão e essa é a lei num país que associa racismo e classe social.
Aos senhores patrões e chefes supremos que odeiam pobres e negros, um breve lembrete da história: se são saudosos com a escravidão, terão que enfrentar o “fogo no engenho” e “a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.
Não subestimem a força de um povo. Não pensem que suportamos sempre. Não julguem que esqueceremos o assassinato de Dinho da Uneafro em São Paulo ou do menino Marcus Vinicius no Rio de Janeiro, crimes que seguem o mesmo padrão do ataque à família negra que ia à um passeio de domingo em Guadalupe – RJ.
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Que Evaldo Rosa viva no grito daqueles e daquelas que tem a capacidade de se indignar sempre
O que queria o Exército com tal atitude? Arrancar as mesmas palmas hipócritas que soaram com os 11 assassinatos de Guararema? Uma emulação por cometer crime de pena de morte? Por conferir sentença sem julgamento?
As vidas do povo negro e pobre importam, da mesma forma que importam as vidas das mulheres, LGBTs, indígenas e sem terras. Importam a vida de Marielle, Anderson Gomes e Dilma do MAB.
No caso da família de Evaldo, por enquanto existe comoção nacional e 10 militares presos. Mas isso passa. E qual vai ser a punição efetiva destes e de tantos outros criminosos? Da parte do Presidente, do Ministro da Justiça e do Governador do Rio de Janeiro não tem justiça para os pobres e os negros. Estes senhores são do açoite, da exploração, do sangue, do ódio e da licença para matar (excludente de ilicitude).
Do judiciário provavelmente a justiça também não virá, pois seu compromisso em manter um preso politico sem prova, tapa os olhos desta instituição para realidade e para a Constituição. E finalmente do Exército e das Forças Armadas a injustiça segue protegida pela lei sancionada por Temer em 2017 que determina julgamento de militares em exercício, por seus pares, na Justiça Militar.
Tampouco a morte de Evaldo e do nosso povo deve ser vingada nas ruas, isso não resolve o problema.
O que resolve mesmo é a organização e a luta popular. Só esse poder destrói o racismo, o patriarcado e o extermínio violento dos trabalhadores e trabalhadoras.
Que Evaldo Rosa viva no grito daqueles e daquelas que tem a capacidade de se indignar sempre.
*Kelli Mafort é da direção nacional do MST