(De minha novela El oro de Atahualpa, Lima, Grijley, 2012. Adenda)
A conquista espanhola encorpou os povos da América à historia dos reinos de Espanha, até que estes povos, transformados pela dominação, conseguiram sua independência no século 19.
O episódio do qual tem início essa inserção foi o descobrimento da América por Cristóvão Colombo, contemporâneo à reconquista de Granada e com a expulsão dos judeus dos reinos de Castilla e Aragón. Seus protagonistas, na cúpula, foram os reis católicos Isabel I de Castilla e Fernando II de Aragón.
(…)
Wikipedia
Chegada de Cristóvão Colombo na América
O projeto de Cristóvão Colombo se inscreve nesse contexto.
Decepcionado pelo desinteresse dos reis católicos, e depois de ter rogado a uns e outros para que intercedessem por ele junto aos reis, Colombo está prestes a marchar para a França, em 1486, quando conheceu Luis de Santangel, um judeu convertido de Valência, empregado na corte de Fernando de Aragón. Foi este que, vislumbrando a importância do projeto, decidiu financiar por conta própria e entregou aos reis católicos um milhão e cento e quarenta mil maravedis, sem juros, para expedição e para ser pago com rendas castelhanas que ele mesmo se encarregaria de cobrar. Outros quinhentos mil maravedis foram aportados por Alonso de Quintanila, dos quais Gianotto Berardi contribuiu com cento e oitenta mil. Uma parte menor foi dada por Martín Alonso Pinzón.
Com o dinheiro nas mãos, os reis católicos subscreveram a Capitulação de Santa Fé, em 17 de abril de 1492, que estipula reserva de um quinto de quanta riqueza e bens conseguidos pela expedição de Colombo, a quem concedeu os títulos de almirante, vice-rei e governador geral dos territórios que descobrisse ou ganhasse durante a vida, assim como a décima parte dos benefícios obtidos, e um dízimo das mercadorias que encontrasse, ganhasse ou estivesse nos lugares conquistados. Este documento foi referendado por Luis de Santangel, secretário e homem de confiança do rei Fernando.
Em seguida, Colombo pode armar três caravelas e recrutar o pessoal necessário, para com isso navegar em direção ao Oeste, com a ideia fixa de chegar às Índias, dando volta à terra, que para muitos ainda era plana. Fixou como dia da partida do porto de Palos de la Frontera, sobre o oceano Atlântico, em 3 de agosto de 1492, mas ordenou à tripulação que embarcasse às 11 horas da noite anterior, posto que coincidia com o último dia que os judeus tinham para permanecer nos reinos de Castilla e Aragón. Levava vários judeus como tripulantes e/ou expedicionários. Ele mesmo jamais se descuidara em manter em segredo absoluto o fato de ser judeu oculto. Com a chegada da meia-noite, a soldadesca e o populacho, conduzidos por monges, saíram à caça de judeus.
Colombo avistou terra depois de setenta dias de navegação, depois de um começo de motim, promovidos por alguns tripulantes atemorizados pela prolongação da viagem, e tinham decidido atirar o comandante ao mar se antes de três dias não tocassem terra. Era 12 de outubro de 1492.
Apesar de ser Colombo o descobridor de um imenso continente, este não recebeu seu nome, e tampouco a coroa espanhola, principal beneficiária de sua façanha, prestou-lhe as homenagem que merecia. Ao contrário, em sua terceira viagem, o governador das Índias, nomeado deslealmente em seu lugar, Francisco de Bobadilha, devolveu ele à Espanha acorrentado, obedecendo ordens dos reis católicos.
Foi o cartógrafo italiano Américo Vespúcio, morador em Sevilha, quem constatou que Colombo tinha entregado ao mundo um novo continente, ao qual lhe deu o nome de sua obra, publicada em 1504, Mundus Novus, que foi traduzida para vários idiomas e teve muitas edições na Europa. No ano seguinte, o cartógrafo alemão Martin Waldseemuller insistiu nessa constatação do grande feito, em seu livro Cartay, de 1507, e denominou o continente de América, em homenagem a Américo Vespúcio, atribuindo a ele, erroneamente, o descobrimento. E assim ficaram as coisas para sempre.
*Colaborador de Diálogos do Sul, de Lima, Peru