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A dívida externa é demencial na Argentina

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

“Entre o Estado e o Banco Central a dívida contraída este ano chega a 90 bilhões de dólares… caminhamos para uma crise a curto prazo.”

Alejandro Olmos

Alejandro Olmos é um especialista dos processo de endividamento ocorridos na Argentina. Sua visão sobre a política macrista: “É demencial, vamos à uma crise em curto prazo”.

Enrique de la Calle*
olmosAPU: Como analisa a situação da dívida no atual governo?

Alejandro Olmos: Sou um estudioso do tema da dívida externa. A atual é uma situação demencial. O Estado nacional e as províncias fizeram dívida em um ano por quase 50 bilhões de dólares. Mas isso não termina aí: o Banco Central fez dívida por 40 bilhões de dólares a partir das Lebacs. Esta última é dívida em pesos (moeda nacional) que paga juros muito altos. Caminhamos para uma nova crise da dívida em muito curto prazo, como ocorreu em 2001.

APU: Quanto o pagamento de juros incide no orçamento nacional?

Alejandro Olmos: Este ano temos que pagar 14 bilhões de dólares em juros. O ano que vem é bem mais. Caminhamos para uma crise da dívida. No caso do Banco Central, as Lebacs pagam uma taxa superior a 35%. Agora, recentemente, baixaram um pouco as taxas. Com o argumento de secar o mercado de pessoas vamos para uma situação demencial.

O governo não tem política econômica: de um lado está o que faz Alfonso Prat Gay, por outro, o titular do Central, Federico Sturzenegger. Até o presidente do banco Nación, Carlos Melconian, que é um velho conhecedor do que foi o endividamento dos anos 1990, está criticando o nível da dívida atual. É monstruoso o que estão fazendo. Não me agrada ser catastrofista, mas vejo uma situação de crise em muito curto prazo.

APU: O governo defendo o nível de endividamento com o argumento de que hoje é barato fazer empréstimos porque “sobram dólares no mundo”.

Alejandro Olmos: Esse argumento poderia ser defendido se tomassem dinheiro a 3 ou a 4 por cento, mas não é o que acontece. O governo se endivida a 7 ou 8%.

Há uma parte que foi contratada em pesos, que é a taxas fixas e baixas. Mas é a parte menor da dívida. Há que ler o decretos, não ficar com os discursos dos funcionários do governo. Outra vez voltamos a nos submeter à legislação internacional, violamos a soberania. Há um festival de bônus, porque nossos bonos são reclamados pelo mundo, porque Argentina sempre paga.

APU: O governo diz que faz dívida para o que chama uma “transição econômica”.

Alejandro Olmos: O governo não tem plano nenhum.

Estamos repetindo uma lógica que os argentinos conhecemos bem nos anos 1990: tomar dinheiro para pagar dívida velha e para cobrir gastos correntes. Falam da chegada de investimentos, porém não há investimentos para produção nem para gerar riqueza. Quando Domingo Cavallo anunciou o Plan Brady disse que em 2000 o tema da dívida externa ficaria para o passado. Sabemos o que realmente ocorreu. Hoje o macrismo nos diz algo parecido: vende uma fantasia em torno a uma chuva de investimentos que não chega e não fica clara se chegará.

*Original da APU – Agência Paco Urondo


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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