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Desperdício de recursos e ineficiências no Pentágono

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

aviones lockheed
Aviões de caça da Lockheed Martin Corp

Roberto García Hernández *

O orçamento militar dos Estados Unidos que, segundo o previsto, deve chegar a mais de 638 bilhões de dólares em 2014, é maior que o total somado das outras 10 nações que mais gastam nesse campo. No entanto, este ano, a crise fiscal atual obrigou o pessoal da defesa a reduzir sensivelmente seus gastos.

Os cortes fiscais obrigarão o Exército estadunidense a por fora de serviço mais de 10 brigadas de combate terrestre, do total das 47 que possui, cada uma delas com cerca de quatro mil soldados, como anunciou o chefe do Estado Maior dessa arma, general Ray Odierno, em relatório ao Congresso de final de junho.

Isso constitui uma redução significativa de seu poderio combativo, o que é prejudicial para a estratégia militar e mina a disposição combativa das tropas.

Nesse contexto existe um fator negativo adicional que afeta suas prioridades em matéria de disponibilidade de recursos: o Pentágono possui um ineficiente sistema de aquisições de técnica e armamento.

Um exemplo é o caça F-22 Raptor, que o comando militar estadunidense pensava fornecer a vários países asiáticos este ano. No entanto, nas últimas semanas só foi capaz de enviar dois deles para a Coreia do Sul, em meio à crise mais recente com a República Popular Democrática da Coreia.

Isso fez lembrar que o Departamento de Defesa conta com muito poucos aviões desse tipo, porque ordenou a interrupção de sua produção, depois de gastar 67 mil 300 milhões de dólares em apenas 188 aparelhos, o que obrigou a Força Aérea a manter na ativa aeronaves com mais de 30 anos de serviço.

O F-22, produzido pela companhia Lockheed Martin Corp., transformou-se em um símbolo de um processo de aquisição fraturado e ineficiente, que nunca consegue a entrega de sistemas avançados a tempo, dentro dos custos previstos e nas quantidades planejadas, segundo um artigo recente do jornal Los Angeles Times.

Esta aeronave estava destinada a substituir todos os F-15 da Força Aérea que datam da década de 1970, e que continuam em atividade, com algumas modificações tecnológicas.

No centro dos problemas da aquisição destes equipamentos está o fato de que, no principio, o Pentágono e o Congresso não reconheceram o verdadeiro custo e as dificuldades técnicas de construir sistemas complexos como o F-22.

Os militares concebem programas ambiciosos baseados em estimativas superficiais dos fornecedores, e ao mesmo tempo os congressistas, ávidos por estimular os centros industriais em seus respectivos territórios, aprovam verbas dedicadas à defesa até antes que os projetos passem pelas provas cabíveis, diz o Times.

Quando os problemas técnicos previsíveis vêm a público, em geral o Congresso reage e trata de bloquear o dinheiro; a produção dos equipamentos é interrompida e o Pentágono busca então novas propostas de armamentos de mais baixo custo, o que se transforma em um círculo vicioso.

O Raptor experimentou quase todas essas dificuldades, pois a Força Aérea elaborou os planos no princípio dos anos 80; uma década depois percebeu que o projeto levaria nove anos e 12 mil e 600 milhões de dólares, mas na realidade demorou outros  vinte anos, além do que o preço superou os 26 mil e 300 milhões de dólares.

No final do processo, cada F-22 chegou a um preço de 412 milhões de dólares, muito mais que o projeto original de 149 milhões por unidade.

Outra aeronave de combate em situação similar é o caça de ataque conjunto F-35, produzido pela mesma companhia, cujo custo está acima dos 400 bilhões de dólares, razão pela qual transformou-se no programa mais caro da história do Pentágono, com un custo de 150 bilhões de dólares acima da estimativa inicial.

A isto se soma o roubo recente de informação digital sobre o F-35 das computadores de um fornecedor, o que poderia ajudar países adversários dos Estados Unidos a acelerar a construção de sua própria versão desse aparelho, segundo um informe de final de junho da cadeia de televisão ABC News.

Porta-vozes do Pentágono reconheceram que o roubo destes documentos constitui um problema de grandes proporções, e asseguraram que seriam tomadas as medidas adequadas contra os infratores.

O Departamento de Defesa planeja comprar uns dois mil 450 F-35 em diferentes versões para a Força Aérea, a Armada e a Infantaria da Marinha, a um custo de quase 137 milhões de dólares cada um.

Quando a companhia Lockheed Martin obteve o contrato para produzi-los, em 2001, prometeu que estariam prontos entre 2010 e 2012, mas problemas adicionais  no projeto e falhas nas provas de voo atrasaram ainda mais a entrega e, pelo visto, entrarão em atividade entre 2015 e 2019, segundo dados recentes do Departamento de Defesa.

Na Marinha de Guerra estadunidense existe outro exemplo evidente da ineficiência do sistema de aquisições do Pentágono: trata-se do navio de guerra LCS-1 Freedom, um dos mais novos no inventário naval mas que tem graves defeitos em seus principais sistemas de comunicação e combate.

Além disso, a Armada reconheceu, no final de abril passado que a embarcação enfrenta sérias vulnerabilidades quanto à cibersegurança, segundo o diário The Wall Street Journal.

O navio custou mais de 440 milhões de dólares e é o primeiro de uma série que se prevê adquirir nos próximos anos a um custo total de 37 bilhões de dólares, para combater em áreas próximas ao litoral.

O comando militar estadunidense informou que os computadores a bordo da unidade naval não resistiram a provas realizadas por equipamentos que simularam um ataque cibernético, o que se soma a problemas anteriores enfrentadas pelo Freedom.

Um relatório confidencial revelado pela cadeia de notícias Bloomberg News em 7 de maio último confirmou que a Marinha de Guerra estadunidense desconsiderou um relatório confidencial sobre as deficiências do programa do LCS.

O documento de 36 páginas afirma que os principais chefes da Marinha de Guerra dos EUA foram alertados em 2012 de que aquele projeto incluía muito poucos tripulantes e sistemas de armamentos.

Segundo a pesquisa, o fracasso no cumprimento dos requisitos e capacidades do LCS resultará na construção de um número maior de navios que não poderão satisfazer as necessidades dos chefes nos teatros de operações militares em nível global.

O relatório contradiz declarações de líderes da Armada, que afirmam que o projeto do LCS continua, para desenvolver uma embarcação de guerra rápida, pequena e adaptável, destinada ao patrulhamento efetivo de águas próximas ao litoral.

Embora o relatório não aconselhe cancelar o programa, diz que a Marinha deve resolver os problemas descritos tão logo quanto possível.

Um relatório similar, de maio de 2012, afirma que o barco falhou em 14 das 28 provas realizadas com ele até aquela data, inclusive avaliações de seus sistemas de comunicações, elétricos, de propulsão e contra incêndios; e 12 meses depois a nave continua com dificuldades similares.

O Diretor de Provas e Avaliações Operacionais do Pentágono, Michael Gilmore, considera que a embarcação não pode sair ilesa de um combate naval, entre outras coisas porque seus canhões de calibre 30 e 57 milímetros apresentam problemas de confiabilidade e são imprecisos quando o navio avança em alta velocidade.

Outro possível corte que o Pentágono pode realizar, segundo os especialistas, consiste na redução do número de aeronaves teledirigidas (drones) que estão em atividade nas forças armadas.

Nesse sentido o Departamento de Defesa já fez algumas contas preliminares, pois o gasto com esse tipo de aeronaves saltou de 284 milhões no ano 2000 para cerca de quatro bilhões em 2012, enquanto o número desses equipamentos aumentou de cerca de 200 em 2002 para pelo menos 7.500 atualmente.

Estes e outros exemplos evidenciam as irregularidades que existem no manejo dos recursos que o Governo dos Estados Unidos destina às forças armadas, apesar da crise fiscal que foi o pretexto da Casa Branca para reduzir este ano uma quantidade significativa de verbas para os já combalidos benefícios sociais.

*Da redação da América do Norte de Prensa Latina para Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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