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Neiva Moreira: Testemunha privilegiada do Terceiro Mundo

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

“Quem conviveu com Neiva Moreira não esquece o humor transbordante, o magnífico contador de estórias, o dinamismo inigualável”.

Carlos Pinto Santos*

Neiva Moreira (1917-2012)
Neiva Moreira (1917-2012)

“Viveu intensamente a luta pelas liberdades no Brasil, e após retornar do exílio, ampliou sua trajetória política a partir de seu amado Maranhão. Fundador do PDT, junto com Leonel Brizola, lançou as raízes o trabalhismo no Brasil e em vários outros países latino-americanos”. Assim se expressou a presidente Dilma Rousseff, quando informada da morte de José Guimarães Neiva Moreira.

Jornalista durante toda a vida, Neiva Moreira -a partir de 1951- foi deputado estadual, deputado federal e senador. Preso, por pouco tempo, no golpe militar de 1 de abril de 1964, partiu para o exílio que durou 20 anos.

Na década de setenta viveu em vários países latino-americanos que teve, nalguns casos, de abandonar em consequência das ditaduras militares da época, como no Chile de Pinochet.

Funda em Buenos Aires, em 1974, os Cuadernos del Tercer Mundo e conhece Beatriz Bissio. Esta jovem estudante uruguaia de Engenharia Química, que ele «converteu» ao jornalismo, tornou-se sua companheira durante décadas, e meses depois já ocupava o cargo de editora e mais tarde diretora executiva dos cadernos.

Em 1977 surgem os Cadernos do Terceiro Mundo editados em Lisboa e, dois anos mais tarde, também na capital portuguesa sai a primeira edição do Guia do Terceiro Mundo, monografia de 500 páginas sobre centenas de países terceiro-mundistas, coordenado por quem assina esta crônica, e com grafismo de João Reis.

Ao longo do tempo, os cadernos e os guias tiveram edições em castelhano, inglês e português.

Quando Neiva Moreira pôde regressar ao Brasil, no estertor da ditadura militar, surgiu a versão brasileira dos Cadernos enquanto em Lisboa continuava a edição em «português» de Portugal distribuída nos PALOP.

Neiva Moreira e Beatriz fizeram várias voltas ao mundo em reportagens. A 11 de novembro de 1975 assistiram, junto a Agostinho Neto, à independência de Angola que Beatriz Bissio recordou em caderno especial na edição da África21 de novembro de 2010.

Ambos conheceram e entrevistaram líderes como Yasser Arafat, Gamal Abdel Nasser, Saddam Hussein, Siad Barre, Agostinho Neto, José Eduardo dos Santos, Samora Machel, Robert Mugabe, Julius Nyerere, Fidel Castro, Velasco Alvarado.

Quem conviveu com Neiva Moreira não esquece o humor transbordante, o magnífico contador de estórias, o dinamismo inigualável.

Muito da sua biografia está em “O pilão da madrugada”, livro com um depoimento recolhido por José Louzeiro, datado de 1989. Vale a pena procurá-lo na internet.

Neiva Moreira foi meu grande amigo.

 
* Carlos Pinto Santos, editor da Revista África 21 (Angola)


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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