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Inflação, baixos salários, alta de juros: Reino Unido pode não escapar da recessão em 2023

"Famílias com menos renda podem ficar submersas ou atingidas gravemente", afirma o economista cubano Luis René Fernández Tabío
Danay Galletti Hernández
Prensa Latina
Havana

Tradução:

As disputas salariais entre o governo e os representantes do setor público no Reino Unido constituem hoje uma das problemáticas fundamentais, agravada desde o último ano e mediada por uma crise econômica e política.

Enquanto as organizações sindicais pugnam por aumentos de salário, superior à cifra inflacionária “definida em dezembro de 2022 acima de 10%”, o governo encabeçado por Rishi Sunak, em muitos casos não assume o valor real das demandas.

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Do ponto de vista de uma interpretação macroeconômica geral, o economista e professor titular cubano Luis René Fernández Tabío disse a Prensa Latina que a inflação em qualquer país do mundo cria tensões, sobretudo nos grupos mais vulneráveis.

Isso ocorre porque este aumento mantido e generalizado dos preços tem como consequência a redução dos salários reais, com maior impacto nos trabalhadores menos remunerados, o que poderia explicar os protestos por aumento dos salários e assim “cobrir a deterioração ocasionada pela inflação”.

Para lidar com este fenômeno, o Banco da Inglaterra aplicou uma política monetária restritiva e incrementou as taxas de juros (até quatro%, seu nível mais alto em 14 anos), medida que “aumentou o custo por serviço dos créditos ou da dívida associada ao uso dos cartões de crédito, o chamado dinheiro plástico”, afirmou.

O que se disse acima, afirmou ainda, levou também ao aumento nos valores dos bens de consumo e no custo das hipotecas, daí que “as famílias com menos renda podem ficar submersas ou atingidas gravemente por esta realidade”, em um país ainda afetado pelas sequelas da pandemia da Covid-19.

Isto já sucede no país europeu, argumentou o analista, depois de 13 anos de governos conservadores, caracterizados pela aplicação de políticas neoliberais com nítida tendência ao incremento das desigualdades socioeconômicas e índices de pobreza.

E o panorama futuro tampouco exibe números alvissareiros, pelo contrário, organismos como o Gabinete de Responsabilidade Orçamentária Britânico e o Fundo Monetário Internacional vaticinam uma contração da economia este ano.

"Famílias com menos renda podem ficar submersas ou atingidas gravemente", afirma o economista cubano Luis René Fernández Tabío

Foto: Tim Dennell/Flickr
De acordo com os dados oficiais, o Reino Unido permanece como a economia com piores prognósticos G-7




Um 2022 convulsionado?

Embora, no ano passado a nação europeia tenha “escapado” da recessão, considerada pelos especialistas como iminente, o Produto Interno Bruto (PIB) não revelou crescimento ou queda, de acordo ao 0% anunciado recentemente pela Oficina Nacional de Estatísticas (ONS).

A cifra traduz, ainda, um mercado de trabalho esgotado por falta de gente e pela diminuição da atividade produtiva, depois do que os supermercados restringiram a aquisição de algumas verduras e aumentaram o preço de alimentos incluídos na cesta básica.

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Junto ao estancamento da economia e ao alto custo de vida, as sanções impostas à Rússia depois do começo, em fevereiro de 2022, da operação militar especial na Ucrânia, constituíram um bumerangue para o Ocidente, com um impacto significativo no fornecimento de energia.

Esse foi, aliás, o ano do falecimento da rainha Elisabeth II, depois de 70 anos no trono, e da renúncia do primeiro ministro Boris Johnson, que com uma longa lista de escândalos, sepultou a estabilidade política da nação e a própria credibilidade de seu cargo.

Com um Partido Conservador um tanto golpeado, Liz Truss foi a terceira mulher a ocupar a responsabilidade de premier, durante uma breve passagem de 44 dias no Governo; seguida pelo atual Rishi Sunak, que ainda não deslanchou sua estratégia de “corrigir erros” e “governar com lisura”.


Presente e futuro mais promissores?

De acordo com os dados oficiais, o Reino Unido permanece como a economia com piores prognósticos do Grupo dos 7 (G-7), fórum político intergovernamental integrado pelos países mais industrializados: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália e Japão.

Não chega aos níveis de crescimento anteriores à pandemia, e na última semana, durante a apresentação do orçamento, com entrada em vigor no próximo mês de abril, o ministro da Fazenda, Jeremy Hunt, enfatizou o que todos já sabiam: “A inflação destrói o valor dos salários ganhos com esforço, desestimula os investimentos e fomenta os conflitos trabalhistas. Inflação alta é a causa fundamental das greves dos últimos meses. Seguiremos trabalhando duro para resolver estes conflitos”, afirmou.

Depois de sua intervenção na Câmara dos Comuns, Keir Starmer, líder do Partido Trabalhista “uma das opções favoritas para as eleições de 2024” acusou o governo conservador de disfarçar o atual estancamento e colocar o país europeu no caminho de um declive controlado.

O advogado especializado em direitos humanos afirmou que a economia precisa de uma cirurgia maior, mas o orçamento estatal anunciado “nos deixa na sala de espera com um band aid” e “sabemos que o armário tory está tão vazio como a prateleira de saladas no supermercado”.

O que é uma clara referência ao racionamento na venda, primeiro de ovos, depois de tomates, alfaces, pepinos, pimentões, brócolis, couve-flor e framboesas, devido ao aumento do custo dos fertilizantes e da redução da produção na Espanha e no Marrocos.

Igualmente, experimentaram problemas de transporte, escassez de trabalhadores agrícolas temporários e elevadas faturas de energia elétrica e gás; enquanto isso, adquirir uma casa (com os preços mais altos desde 1876) ou pagar um aluguel torna-se hoje menos acessível.

Danay Galletti Hernandez | Prensa Latina
Tradução: Ana Corbisier


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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