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Rússia reitera advertências aos EUA por aumento no envio de armas à Ucrânia

Dizemos a nossos interlocutores estadunidenses que têm que pôr fim a essa situação”, enfatizou o vice-chanceler russo Serguei Ryabkov
Juan Pablo Duch
La Jornada
Moscou

Tradução:

“Sem comentários”, respondeu nesta segunda-feira (26) o porta-voz da presidência russa, Dmitri Peskov, aos repórteres interessados na reação do Kremlin à advertência dos Estados Unidos no sentido de que usar o armamento nuclear na Ucrânia teria “consequências catastróficas” para a Rússia. 

Quem disse isso foi Jake Sullivan, assessor de segurança nacional da Casa Branca, em uma recente entrevista televisiva, quando revelou também que altos funcionários de Washington mantêm abertos os canais de comunicação direta com suas contrapartes em Moscou, os quais – segundo ele – são utilizados com frequência sobretudo nos últimos dias.  

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Peskov confirmou que os contatos entre a Rússia e os Estados Unidos “se mantêm no devido nível”, mas minimizou a declaração de Sullivan: “Há certamente canais de diálogo, embora os contatos tenham um caráter bastante esporádico”. Peskov acrescentou que esses canais de comunicação “permitem, pelo menos, transmitir com urgência à outra parte mensagens e notificações”. 

Em contraste, o vice-chanceler Serguei Ryabkov, encarregado da relação com os Estados Unidos, foi muito mais explícito: “O trabalho não se deteve. Chamadas telefônicas, intercâmbio de notas diplomáticas, cartas pessoais, contatos entre as embaixadas, tudo isso se mantém e se manterá”, assinalou na noite da segunda-feira ao canal de televisão Rússia 1.

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“Temos enviado uma infinidade de sinais de aviso aos nossos colegas estadunidenses no sentido de que o incremento desmesurado de seu apoio a Kiev, junto com o apoio de seus aliados, nos acerca a todos a um limite perigoso. Dizemos a nossos interlocutores estadunidenses que têm que pôr fim a essa situação”, enfatizou Ryabkov, que reconheceu: “O trabalho (da diplomacia) é diferente. Agora nos encarregamos literalmente de administrar a crise”.

Na véspera, o secretário estadunidense de Estado, Antony Blinken, declarou que Washington já tem “um plano de ação” para o caso de Moscou cumprir sua ameaça de empregar armas nucleares na Ucrânia e, sem entrar em detalhes, adiantou que se trata de “uma resposta contundente”.

Para as autoridades russas, a doutrina nuclear da Rússia define em que circunstâncias se pode usar o armamento nuclear e uma delas é para rechaçar uma agressão externa, situação que eventualmente poderia se dar se, uma vez anexadas Donetsk e Lugansk, assim como as partes sob ocupação das tropas russas em Kherson e Zaporíjia, o exército ucraniano seguir tentando recuperar esses territórios que o Kremlin já vai considerar como parte da Federação Russa.

Dizemos a nossos interlocutores estadunidenses que têm que pôr fim a essa situação”, enfatizou o vice-chanceler russo Serguei Ryabkov

Kremlin
O analista da emissora Kommersant FM, Dimitri Drize, disse na segunda (26) que “parece que por ora é pouco provável um apocalipse nuclear”




Putin não deve usar armas nucleares

O economista Viacheslav Inozemtsev e outros analistas locais consideram que o presidente Vladimir Putin, ao anunciar a “mobilização parcial” de 300 mil reservistas, não tem a intenção de empregar armas nucleares na Ucrânia, mas ao brandir essa possibilidade busca que alguns dos países que proporcionam armamento à Ucrânia desistam de fazê-lo e pressionem o governo de Volodymyr Zelensky a negociar com a Rússia sob as condições dela. 

O analista da emissora Kommersant FM, Dimitri Drize, disse na segunda que “parece que por ora é pouco provável um apocalipse nuclear”, mas tampouco pode descartar totalmente que a Rússia, em um dado momento e dependendo de como evoluam os combates, decida recorrer às armas nucleares na Ucrânia. 

Nesse sentido, crê que a única coisa positiva no atual contexto de extrema tensão é que “o tema nuclear está a ponto de ser incluído na ordem do dia e ainda existem possibilidades de que as partes sejam escutadas”.


Snowden, cidadão russo

O ex-analista da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos, Edward Snowden, que vive na Rússia desde 2013, país que lhe outorgou proteção depois de difundir numerosos documentos confidenciais que exibiram o ilegal volume da ciberespionagem de seu governo contra todos, inimigos e até aliados, é agora cidadão russo. 

Snowden obteve a cidadania russa, sem perder a estadunidense, conforme um decreto do presidente Vladimir Putin que beneficiou também outras 74 pessoas que a solicitaram. 

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De acordo com seu advogado, Anatoly Kucherena – que desde o refúgio que mantém Snowden exerce uma espécie de enlace com o mundo – a esposa de Snowden, Lindsay Mills, também terá passaporte russo. O primeiro filho de ambos, de dois anos de idade, é russo por nascimento. 

Alguns perguntaram, nas redes sociais, se Snowden podia ser mandado à guerra na Ucrânia. “A legislação russa estabelece quem pode ser recrutado em uma mobilização parcial. Como Edward nunca serviu no exército russo nem tem prática ou experiência militar, não pode ser recrutado”, respondeu Kucherena à agência de notícias Interfax.

Putin concede cidadania russa a Edward Snowden

“É claro que Edward está muito agradecido à Rússia por não ter dado as costas a ele em um momento muito difícil e está muito contente de receber a cidadania russa”, disse o advogado. 

Juan Pablo Duch | Correspondente do La Jornada em Moscou.
Tradução: Beatriz Cannabrava.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Juan Pablo Duch Correspondente do La Jornada em Moscou.

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