Em uma nota de 24 de setembro, o governo ucraniano acusou o Ministério das Relações Exteriores do Brasil de participação no envio de observadores internacionais para o referendo nos territórios das repúblicas de Lugansk e Donetsk e das regiões de Kherson e Zaporozhie. O Itamaraty negou a acusação, afirmando que não registrou um observador designado pelo governo brasileiro, relata o portal G1.
Por meio de um comunicado, o chamado “Ministério de Reintegração dos Territórios Ocupados Temporariamente da Ucrânia” tornou explícita a lista de oito países de onde foram esses observadores, assegurando que “os parceiros no crime também são criminosos” e ameaçando que os atores nessa situação “serão punidos”.
Henrique Domingues, especialista em Relações Internacionais e colunista do Portal Vermelho, apontou, em entrevista à Sputnik Brasil, que o MRE brasileiro não está participando da missão de observação eleitoral, enfatizando que não é uma prática dos ministérios das Relações Exteriores de nenhum país.
“Eu não tenho nenhuma relação com o Itamaraty […], eu sou apenas um cidadão brasileiro. Essa é a minha relação com o Itamaraty, nada além disso. E não foram eles que me mandaram vir aqui, nenhum dos outros brasileiros vieram porque foi o Itamaraty que mandou”, disse o especialista.
Observadores internacionais são assediados por acompanhar referendo na Ucrânia
Conforme lembra o entrevistado, as chancelarias não enviam observadores internacionais para monitorar o processo eleitoral. Trata-se de uma prática da mídia, instituições sociais e organizações internacionais, inclusive não governamentais. Os diplomatas ucranianos certamente devem saber disso, mas, mesmo assim, acusam o Itamaraty.
Na opinião de Henrique Domingues, as ameaças da Ucrânia visam tirar o Brasil da neutralidade quanto ao conflito na Ucrânia:
“A Ucrânia pressiona o Brasil para sair da neutralidade desde o início do conflito, e não só o Brasil como todos os outros países que declararam neutralidade, que são muitos. As pessoas dizem que a Rússia está isolada, mas, na verdade, a maioria dos países do planeta Terra são neutros quanto a esse tema, à exceção de EUA e União Europeia e uma meia dúzia de aliados. Então a Ucrânia usa qualquer coisa para forçar o Brasil a sair da posição de neutralidade.”
Sputnik | Valery Melnikov
Delegação é de "observadores independentes", interessadas em "exercer uma ferramenta democrática", afirma o brasileiro Henrique Domingues
De acordo com as palavras do colunista brasileiro, a sua presença nesses territórios “prejudica a narrativa” de Kiev, que está ameaçando a missão de observadores.
“A nossa presença aqui coloca em xeque a narrativa deles, que não tem nenhuma base, na realidade. Eles mentem descaradamente na mídia deles e nossa presença coloca outro ponto de vista para que as pessoas possam ter um mínimo de informação, para que as pessoas saibam o outro lado da história.”
Henrique Domingues já participou das eleições parlamentares na Rússia e fez referência ao caso, relembrando que nem UE, nem os EUA mandaram observadores para ver o que estava acontecendo durante as eleições no Estado russo, duvidando da legitimidade democrática delas, mas até antes do início, o Parlamento europeu já estava aprovando resoluções, afirmando que não reconheceria seus resultados.
“Ou seja, eles nem mandaram gente para ver o que estava acontecendo, e já declararam que não reconheceriam”, sublinhou.
Outro observador brasileiro, sob anonimato, que acompanhou o referendo na região de Lugansk, também nega que o Itamaraty tenha participado da observação da votação. Ele aponta que a delegação é de “observadores independentes”, interessadas em “exercer uma ferramenta democrática”, que é a verificação de processos eleitorais.
A fonte aponta que o trabalho do observador é importante para garantir maior compreensão sobre o conflito ucraniano e o diálogo internacional, notando que é necessário buscar garantias de que esse trabalho seja protegido, porque não é possível que pessoas sejam perseguidas “por exercer uma liberdade democrática”.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
Assista na TV Diálogos do Sul
Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.
A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.
Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:
-
PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56
- Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
- Boleto: acesse aqui
- Assinatura pelo Paypal: acesse aqui
- Transferência bancária
Nova Sociedade
Banco Itaú
Agência – 0713
Conta Corrente – 24192-5
CNPJ: 58726829/0001-56 - Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br
- Receba nossa newsletter semanal com o resumo da semana: acesse aqui
- Acompanhe nossas redes sociais:
YouTube
Twitter
Facebook
Instagram
WhatsApp
Telegram