Correu muita tinta, fizeram-se acusações infundadas e defenderam-se conclusões precipitadas (tudo para corroborar as necessárias narrativas), mas a investigação aos ataques à Nord Stream não concluiu nada.
Duas explosões afetaram os gasodutos Nord Stream 1 e 2 no passado mês de setembro. Naquela altura, o portal AbrilAbril fez o enquadramento histórico, econômico, mas essencialmente político, de toda a história dos gasodutos que ligam a Rússia à Europa.
Como noutras situações, de que é exemplo o míssil ucraniano que atingiu a Polônia (para gáudio de ululantes belicistas, satisfeitos com o potencial agravar da guerra), uma parte significativa de comentadores com lugar cativo nas redações apressou-se a afirmar imediatas, e infundadas, certezas.
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Como o AbrilAbril defendeu, as explosões enquadraram-se num clima de incerteza onde cada parte desempenhava um papel num quadro de tensão geopolítica por demais evidente. Sobre o assunto, era indispensável compreender a importância estratégica dos gasodutos em questão e a quem é que poderia interessar mais a sua destruição.
Não coube (nem cabe) a uma análise meramente factual apurar os culpados das ações, algo que cabe às autoridades competentes. Além das fotografias, pouco se sabia sobre as explosões, para além da sua localização e o fato de os danos serem, possivelmente, irreversíveis, dado o avançado estado de corrosão pela água salgada.
Abril Abril
Três explosões, dois gasodutos e zero culpados
Numa tentativa de comprovar a autoria da Rússia, foi aberta uma investigação por parte de vários países europeus com jurisdição marítima sobre as zonas afetadas. Inesperadamente, esta investigação europeia, como o AbrilAbril reportou, foi realizada individualmente, tendo os países europeus rejeitado a opção de uma iniciativa conjunta.
De antemão, os comentadores já conheciam o resultado: as explosões correspodiam a uma ação de terrorismo de Estado, já que tudo apontava para um ato de sabotagem da Rússia contra os seus próprios gasodutos.
Há alguns dias, um artigo de investigação do Washington Post relata que, embora “os líderes mundiais tenham sido rápidos a culpar Moscou por explosões ao longo dos gasodutos submarinos de gás natural, alguns oficiais ocidentais começam a duvidar que o Kremlin tenha sido responsável”.
A teoria era de que, com a aproximação do Inverno, a Rússia tivesse provocado as explosões nos Nord Stream para estrangular o fluxo de energia para milhões de pessoas no continente europeu, “um ato de chantagem”, como o descreveram alguns líderes europeus, mais precipitados.
Com um resultado inconclusivo nas investigações, o ministro dos Negócios Estrangeiros finlandês, Pekka Haavisto, não pode fazer mais do que confirmar que, com a quantidade de explosivos utilizados, o ataque “tem de ter sido perpetrado por um ator a nível estatal”.
Mesmo sem provas, a Rússia continua a ser, nos meios ocidentais, a principal suspeita, muita embora o estado alemão se tenha apressado a inventar desculpas para não responder a questões colocadas por deputados.
Isto levou a que Sergei Lavrov, ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, afirmasse ao The Guardian que “após as explosões no Nord Stream – que, ao que parece, ninguém na União Europeia vai investigar objetivamente – a Rússia teve de interromper o transporte de gás pelas rotas do norte”, expressando ainda o seu desagrado por não terem sido incluídos no processo.
Redação | Abril Abril
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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