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Início de ação na TI Yanomami mira máquinas e garimpeiros; PF garante punição a empresários

Fiscais do Ibama encontraram isopores com quilos de carne embalada que alimentavam os garimpeiros, enquanto os Yanomami passavam fome
Felipe Medeiros
Amazônia Real
Manaus

Tradução:

Agentes da Força Nacional de Segurança Pública, do Ibama e da Funai apreenderam aeronaves, mantimentos, embarcações e armas de fogo no primeiro dia da operação de desmonte do garimpo na Terra Indígena Yanomami (TIY). Um helicóptero, um avião, um trator de esteira (utilizado para abrir ramais no meio da floresta) e estruturas de apoio logístico ao garimpo ilegal foram destruídos.

Foram apreendidos ainda duas armas de fogo e três barcos que transportavam 5 mil litros de combustível. Os fiscais encontraram ainda isopores com quilos de carne embalada que alimentavam os garimpeiros, enquanto os Yanomami passavam fome.

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A Força Nacional e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) montaram uma base de controle no rio Uraricoera para impedir a chegada de suprimentos até os garimpeiros. Desde o início da ofensiva governamental, que fechou o espaço aéreo do TIY, os garimpeiros tentam escapar pelos rios e até fazendo a chamada “varação” pela floresta, que é quando se tenta abrir trilhas na mata fechada.

Voadeiras (embarcações) de até 12 metros levavam aproximadamente uma tonelada de alimentos que abasteciam as áreas de garimpo. Freezers, geradores e até antenas de internet foram encontrados. O Ibama informou ainda que novas bases de controle serão instaladas, com auxílio da Funai, no território indígena, invadido por aproximadamente 20 mil garimpeiros.

Em Boa Vista, o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, garantiu que os culpados serão responsabilizados. “Vai ficar por conta da Polícia Federal e da Justiça ver quem são os culpados, que serão punidos. A Justiça que vai avaliar, a Polícia Federal também, cada um vai fazer a sua parte. E nós estamos esperando que essas coisas ocorram de forma tranquila e sem problema.

A gente precisa ter cuidado para não criar mais vítimas. Mas a Justiça vai julgar, a Polícia Federal vai fazer a sua parte”, disse Múcio. Os ministros Silvio Almeida (Direitos Humanos) e Sonia Guajajara (dos Povos Indígenas) e a presidenta da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana, também participaram dessa visita a Roraima.

Fiscais do Ibama encontraram isopores com quilos de carne embalada que alimentavam os garimpeiros, enquanto os Yanomami passavam fome

Foto: Ascom Ibama
Um levantamento da Hutukara Associação Yanomami apontou um aumento de 309% de área devastada desde 2018




Caçada aos financiadores

Já o delegado da PF Umberto Ramos informou que ocorreram prisões durante a operação em curso, mas não revelou números, nem nomes.

“Tivemos prisão de pessoas que estavam dentro da área. Obviamente que a gente precisa ter fases dessa operação para a retirada de todos os garimpeiros por completo, com vistas a fazer cessar toda essa atividade criminosa que vem acontecendo”, informou o delegado. Ele também afirmou que todos os invasores serão retirados da TIY.

A operação que tenta sufocar o garimpo ilegal na TIY investiga a participação de empresários e até de políticos na exploração de ouro e cassiterita. De acordo com a PF, cada um será responsabilizado por seus crimes.

“As pessoas que financiam, as pessoas que fazem lavagem daquele lucro auferido criminosamente com a retirada desse minério, elas têm uma responsabilidade muito maior e isso está sendo investigado já dentro dos inquéritos que foram instaurados pela Polícia Federal. Todos serão retirados da área indígena conforme determina a nossa Constituição e nossa Lei”, garantiu Ramos.

O delegado da PF não descartou a presença de políticos envolvidos no garimpo ilegal da TIY. “Esse é um dos vieses que também serão investigados. A leniência ou a inação dos agentes públicos, se estiverem comprovadas e, nós iremos buscar essa comprovação e autoria, serão também encaminhados essas pessoas ao sistema de justiça como precisamos fazer”, afirmou.

Nesta quarta-feira (8), senadores que formam uma “tropa de choque” pró-garimpo defenderam, durante uma sessão no plenário, os “trabalhadores” e suas famílias que atuavam ilegalmente no território indígena, e deflagrou a maior crise humanitária e sanitária da história dos povos indígenas no Brasil.


Legislação

A legislação brasileira permite a mineração nas chamadas “áreas brancas”, desde que atendam uma série de condições. Mas é proibida dentro dos territórios indígenas.

Durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), os políticos desconsideram e contribuíram para a expansão do crime ambiental com criação e aprovação de leis inconstitucionais de políticos pró-garimpo, como o governador de Roraima, senadores e deputados.

Bolsonaro e militares ignoraram denúncias sobre a situação dos indígenas Yanomami

Antonio Denarium (PP), governador de Roraima, voltou a alterar seu discurso. Ele informou nesta quarta (8), enquanto acompanhava a comitiva interministerial, que “agora o governo do estado tem a consciência e todos sabem também que não existe legislação para garimpo e mineração em área indígena, é uma atividade ilegal e o governo do estado trabalha sempre pela legalidade”.

Denarium, em seu primeiro mandato, proibiu agentes de fiscalização de destruírem máquinas e equipamentos dos garimpeiros como noticiado pela Amazônia Real.


Base no Surucucu

Sonia Guajajara e Joenia Wapichana se esquivaram das perguntas em relação a Jhonatan de Jesus, aprovado pelo Senado nesta quarta-feira (8) para o cargo vitalício de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). “A escolha de qualquer membro do TCU é uma responsabilidade do nosso Parlamento”, respondeu a ex-deputada federal por Roraima. 

“Infelizmente, isso foge da nossa alçada, não somos nós que escolhemos e não temos uma autonomia sobre isso. Então a gente não pode aqui responder por atos que fogem da nossa alçada. Aqui estamos nessa ação interministerial para pedir agilidade. E no momento o que nós queremos e estamos detectando é a celeridade na finalização da reforma da pista lá da base do Surucucu. A finalização da base é o que vai alavancar todas as outras ações que precisam ser feitas. Nesse momento é garantir a assistência à saúde, uma saúde de qualidade tanto aqui na Casai quanto também reduzir essa vinda do povo Yanomami de lá pra cá pra Boa Vista”, disse Sonia. 

A ministra Sonia Guajajara, o ministro da Defesa José Múcio e Joenia Wapichana durante coletiva (Foto: Felipe Medeiros/Amazônia Real)

Na terça-feira, a ministra dos Povos Indígenas e o secretário de Saúde Indígena, Weibe Tapeba, disseram ser necessários dois hospitais de campanha na TIY. As unidades em funcionamento devem ficar prontas em até duas semanas devido a dificuldade de acesso à região por falta de uma pista de pouso para aeronaves de grande porte o que “depende também das condições meteorológicas para que se possa avançar com essa reforma”, concluiu a ministra dos povos originários. Enquanto isso, os hospitais de Boa Vista, para onde estão sendo levados os casos mais graves de doentes entre os Yanomami, estão lotados.

A reportagem da Amazônia Real foi até a Vila Reislandia, região conhecida como Novo Paredão, município de Alto Alegre, a 85 quilômetros de Boa Vista. O movimento de carros com tração 4×4 se intensificou desde a semana passada, segundo comerciantes da região que negociavam ouro com clientes e faziam alertas sobre a operação de retirada dos garimpeiros.

Diferente de outros momentos que a equipe teve acesso aos mineradores, o clima era de apreensão e não mais de agressividade – como foi nos últimos quatro anos – um levantamento da Hutukara Associação Yanomami apontou um aumento de 309% de área devastada desde 2018.

Os veículos que esperavam ali aguardavam a chegada dos familiares e clientes vindos de uma estrada de difícil acesso próxima ao Uraricoera. A viagem para Boa Vista custa em média 1,2 mil reais. Na RR 205 em direção à capital, a PM intensificou a fiscalização no entroncamento que dá acesso a Ilha de Maracá. Os policias informaram que a intenção é aprender materiais e o ouro extraído de forma ilegal.

Felipe Medeiros e Leanderson Lima | Amazônia Real


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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