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ToggleGenaro García Luna chegou a um acordo para pagar 25 milhões de pesos mensais ao dono do jornal El Universal para contra-atacar “rumores” sobre os vínculos do então secretário de Segurança Pública com integrantes do cartel de Sinaloa, declarou ontem (6) uma testemunha cooperante que participou no arranjo e também em um esquema de corrupção encabeçado pelo governador de Coahuila, Humberto Moreira Valdez, que gerou 200 milhões de dólares em fundos ilícitos.
O ex-secretário de finanças do estado de Coahuila, Héctor Villarreal Hernández, apresentou-se no julgamento de García Luna e contou como ele e seu chefe, em uma viagem oficial à Cidade do México em 2009, se encontraram por segunda vez com o secretário de Segurança Pública que lhe perguntou ao governador se conhecia pessoas no El Universal já que lhe preocupavam “rumores de que havia sido sequestrado” e que “estava relacionado com algumas pessoas do cartel” em alguns meios.
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Moreira, disse a testemunha, respondeu a García Luna que “era bom amigo do dono” do rotativo, e que “a aproximaria” a ele “sem nenhum problema”. O dono de El Universal, Juan Francisco Ealy Ortiz, era “compadre” de Moreira, afirmou Villarreal e agregou que ele e seu chefe o haviam visto várias vezes tanto na capital como em Saltillo.
Informou que se chegou a um acordo pelo qual pagaria ao El Universal 25 milhões de pesos mensais para contra-atacar as versões de outros meios de que estava relacionado com o narcotráfico e para reportar que “a Secretaria de Segurança Pública fazia um bem trabalho para o governo e para a cidadania”.
A testemunha foi enviada ao México por seu chefe para ajudar na entrega de um dos pagamentos, e contou como acompanhou Sérgio Montaño, um assistente de García Luna, aos escritórios de El Universal para fechar o trato. Montaño chegou com uma pequena maleta cheia de dinheiro e informou que o resto do pagamento estava na caminhonete em que chegaram.
Villarreal, sob o guia de interrogatório pela promotora Erin Reid, informou que em uma ocasião foram usados fundos do estado de Coahuila para completar um pagamento ao rotativo em nome de García Luna, depois que o secretário lhe solicitou ajuda no trâmite. “Eu dei as instruções” para efetuar o pagamento de 10 milhões de pesos e para que elaborasse um fatura que não se registrasse nas contas oficiais.
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Explicou que faturas “inconsistentes” como esta, ele as havia guardado pessoalmente em uma caixa: esta fatura foi mostrada ao júri na corte.
La. Lista.Com | Montagem ilustrativa
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Nota promissória
A nota promissória diz que o destinatário é “El Universal Periodística Nacional”, o conceito esta “publicidade de campanha de resgate do turismo 2009” datada de 24 de junho de 2009 pelo montante de 11.500.000”.
Perguntado por que o total era mais alto que os 10 milhões que foram solicitados, explicou: os 1,5 milhão é de impostos que são aplicados no México”.
Perguntado se havia visto García Luna em outras ocasiões, Villarreal explicou que ele e seu chefe foram a um apartamento “de luxo na cobertura” de um edifício em Santo Fé na capital onde se reuniram vários até a madrugada. Aí ele agradeceu a Moreira “porque tudo estava funcionando bem”.
Em outra ocasião, levou seu chefe a uma casa de García Luna em Cuernavaca “porque lhe ia dar um ride por helicóptero” ao governador.
Encontros
A primeira vez que Moreira e Villarreal se viram com García Luna, contou a testemunha, foi em 2008 quando foram ao México para solicitar fundos para programas de segurança pública em Coahuila. A segunda vez foi quando García Luna os invitou a um recorrido de um edifício de alta segurança e inteligência, conhecido como “El Bunker”, donde lhes mostraram como se recebia inteligência de todos os estados em tempo real, e lhes mostraram o sistema de monitoramento e intervenção de comunicações de celulares chamado Pegasus.
Perguntado se o compraram, Villarreal disse que não. Explicou: “não queríamos que nos estivessem escutando a todos os que estávamos no governo”. Foi ao concluir essa segunda visita que García Luna lhe pediu ajuda na relação com El Universal.
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Villarreal iniciou sua declaração identificando-se primeiro como ex-subsecretário de orçamento e depois secretário de finanças de Coahuila a partir de 2005 nomeado ao posto pelo governador Moreira, e que agora é uma testemunha cooperante que está esperando sua sentença no Texas depois de entregar-se às autoridades estadunidenses em 2014, levando só sua caixa de faturas e um servidor cheio de dados. Declarou-se culpado de conspiração de lavagem de dinheiro nesse mesmo ano e desde então está na espera de ser sentenciado, mas livre sob fiança e um acordo de cooperação com os promotores estadunidenses.
Descreveu os delitos financeiros que cometeu junto com seu chefe o governador Moreira por meio de comissões ilícitas e superfaturamento de obras públicas no estado, e que o esquema de corrupção gerou aproximadamente 200 milhões de dólares entre 2006 e 2011.
40 milhões
Moreira, segundo a testemunha, ficou com aproximadamente 40 milhões. A testemunha e outros sete colaboradores ganharam 2,5 milhões cada um. Disse que os beneficiados gastaram seus ganhos na compra de propriedades como casas em Cuernavaca ou na praia entre outras coisas (Villarreal confessou que tinha desde pequenos centros comerciais, casas e um Mercedes McLaren entre outros investimentos).
A testemunha informou que também compraram meios e “fizemos pagamentos a muitos meios” tanto do estado como nacional com o propósito de “ter uma melhor imagem”, como também dar favores àqueles que apoiavam como para “prejudicar” a outros.
Perguntado o que fez depois da conclusão do período do governador, Villarreal disse que foi assessor de Moreira quando era presidente do PRI.
Quase ao final, Villarreal Hernández foi perguntado se conhecia a um Édgar Veytia, ex- procurador de Nayarit. Respondeu que conheceu seu chefe, o governador Roberto Sandoval em 2011. Veytia foi mencionado como possível testemunho neste julgamento.
Neste oitavo dia de audiências com testemunhas e apresentação de evidência no julgamento de García Luna, a última testemunha foi Earl Anthony Wayne, ex-embaixador dos Estados Unidos no México entre 2011 e 2015, que testemunhou que conhecia o acusado, e que havia participado entre 10 a 20 reuniões com ele, incluindo várias com delegações de funcionários e políticos estadunidenses que visitavam o México, interessados nos avanços na cooperação sobre segurança.
Ele foi questionado sobre a forma distinta de falar do réu e, aparentemente, para demonstrar que as reuniões com altos funcionários dos EUA com o então Secretário de Segurança Pública eram rotina.
Advogados de defesa buscam excluir testemunhos sobre subornos de García Luna ao El Universal
Os advogados defensores de Genaro García Luna solicitaram que o juiz encarregado do julgamento ordene excluir declarações de uma testemunha sobre o suposto suborno de seu cliente a um jornal nacional mexicano para suprimir cobertura negativa.
Os advogados defensores em sua missiva ao juiz revelam detalhes de que os promotores estão considerando apresentar evidência sobre o pagamento a meios por parte de García Luna para proteger sua reputação; o nome de um dos meios, o rotativo nacional El Universal, e uma nova testemunha no caso, Héctor Villarreal Hernández.
A carta enviada ao juiz federal Brian Cogan datada deste domingo argumentou que os promotores têm a intenção de apresentar testemunho sobre o aparente pagamento de subornos ao jornal El Universal por parte de García Luna para frear a publicação de notas adversas a sua reputação. Mais ainda, os promotores buscarão “introduzir evidência dos esforços do acusado para massagear (sic) essa reputação através de subornos a El Universal”.
Os defensores suspeitam que os promotores estão ao mesmo tempo buscando a oportunidade de apresentar as notas jornalísticas que acusam García Luna de corrupção.
A carta indica que os promotores têm a intenção de que sua testemunha Villarreal Hernández declarasse sobre os subornos que o acusado pagou a El Universal.
Segundo a carta, Florian Miedel e Cesar de Castro argumentam que “nem notas jornalísticas negativas ou positivas sobre o Sr. García Luna são relevantes nem admissíveis. O júri deve decidir se o governo comprovou seu caso; o que alguns jornalistas mexicanos creiam não importa e é profundamente prejudicial”.
Afirmam que “esforços para subornar um jornal para frear a publicação de notas negativas não necessariamente implicam uma consciência de culpabilidade, tal como sugere o governo [os promotores]”. Indicam que a testemunha do governo declarará que García Luna estava molesto com as notas “porque eram falsas, e as mentiras estavam tendo um impacto sobre sua reputação”.
Concluem que talvez uma demanda de libelo era a maneira mais apropriada de abordar o assunto, mas afirmam que “pagar subornos e lograr resultados rápidos não implica que o Sr. García Luna no implica que o Sr. García Luna reconhecia a verdade dessas alegações. De fato, o oposto é a verdade”. Portanto, solicitam ao juiz que deveria impedir que a testemunha declare tanto que García Luna pagou subornos a El Universal, como sobre a substância dessas notas jornalistas.
Em outros momentos deste julgamento e em audiências preliminares havia sido abordado o tema de pagamentos de integrantes do cartel de Sinaloa a jornalistas e meios sem identificá-los. Em argumentos anteriores entre as partes diante do juiz sobre a apresentação de evidências, também se havia mencionado como possível testemunha da promotoria a Anabel Hernández que, segundo a defesa, poderia declarar sobre supostas ameaças do acusado a jornalistas.
David Brooks | Correspondente do La Jornada em Nova York.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
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