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TogglePresidentes e representantes de 33 países da América Latina e do Caribe reúnem-se a partir desta terça-feira (24) em Buenos Aires na VII Cúpula de Chefes de Estado da Comunidade de Estados da América Latina e do Caribe (Celac), em uma demonstração de diálogo e fortalecimento regional, com o regresso do Brasil ao espaço e a presença de seu novo presidente, Luiz Inácio Lula da Silva.
O governo dos Estados Unidos enviará o ex-senador Chris Dodd, amigo pessoal de Joe Biden. Obviamente, o convite fora para o presidente Biden, mas nem mesmo há uma relação entre a Celac e os Estados Unidos. Biden ressentiu-se que em seu “quintal” também fosse convidado o presidente chinês Xi Jinping.
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As políticas e ações de Washington bombardearam durante os últimos anos os organismos regionais de integração como a Celac e a União de Nações Sulamericanas (UNASUL), tentando “dirigir” os estados latino-americanos e caribenhos a partir da Organização de Estados Americanos (OEA).
Nesta oportunidade, a atenção não só estará centrada na irrupção da ultradireita brasileira, como na piora da situação no Peru depois da destituição do presidente legítimo Pedro Castillo e a assunção de Dina Boluarte. Desde então as mobilizações contra ela foram duramente reprimidas: já são 60 mortos e a situação preocupa todos os diplomatas que assistirão à cúpula, especialmente porque não há uma posição comum sobre o caminho a seguir.
A chancelaria argentina espera entrar em consenso sobre um documento final focado em apoiar o processo democrático no Brasil e condenar o ataque da ultradireita que contou com o apoio de setores militares. É possível que no debate surjam diferenças entre os mandatários quanto aos caminhos a seguir. Sobre esta discussão paira o risco de uma nova intervenção pública da Organização de Estados Americanos (OEA), digitada pelo governo dos EUA.
Lula – Flickr
A Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) foi criada em Caracas entre os dias 2 e 3 de dezembro de 2011
Cúpula da Celac: os Estados Unidos confirmam sua participação
Um dos objetivos de Alberto Fernández durante a condução da Celac foi evitar que a OEA volte a usar seu poder institucional corrosivo em cenários regionais de conflito, como fez na Bolívia durante as eleições bolivianas de 2020. O tema não é secundário e depois das cenas de Brasília ganha uma dimensão preocupante para os demais sócios da comunidade de Estados, afirmaram altos funcionários da chancelaria argentina.
A direita internacional e a regional fizeram todo o possível para descarrilhar o encontro, tentando impedir a presença dos presidentes da Nicarágua, Venezuela e Cuba, por um lado, enquanto a chancelaria britânica quiz abrir outra frente, convidando parlamentares uruguaios a visitar as Ilhas Malvinas, território argentino que ocupam desde 1833.
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A oposição direitista argentina esteve toda a semana desacoplada, tentando boicotar o encontro da Celac, tendo seus deputados apresentado um projeto para declarar Maduro “persona non grata”.
Os britânicos conseguiram que representantes da coalizão de governo – os partidos Colorado, Nacional, independente e o Cabildo Abierto – fossem às ilhas, enquanto a Frente Ampla rejeitou a oferta por considerá-la um “mau sinal”, entendendo que a soberania do território “é da Argentina”.
“Nós reconhecemos que existe um diferendo entre a Argentina e o Reino Unido quanto à soberania das Ilhas (Malvinas) que deveria ser resolvido pela via do diálogo e de acordo com instâncias de negociação entre ambas as partes, que é algo que o Reino Unido rejeita”, afirmou o deputado Sebastián Valdomir.
“Dificilmente poderíamos aceitar um convite para um lugar que está sendo questionado por parte de um país vizinho e irmão, importante sócio comercial e onde vivem milhares de uruguaios”, insistiu.
Após o encontro
Nesta quarta-feira (25), depois do encontro da Celac, o Presidente argentino terá reuniões bilaterais com alguns de seus pares, como a primeira ministra de Barbados, Mia Mottley; o do Haiti, Ariel Henry; o presidente do Conselho Europeu, Charles Mitchel; Christopher Dodd, ex-senador e assessor para as Américas do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o diretor geral da FAO, Qu Dongyu.
A possível presença do cubano Díaz Canel e do venezuelano Nicolás Maduro – e a possível participação do presidente do México que estará presente na quarta tomada de posse de Daniel Ortega na Nicarágua, que finalmente não virá – gerou o repúdio da oposição que durante toda a semana prévia encarregou-se de provocar um escândalo para tratar de boicotar o encontro mediante repúdios e denúncias.
Além de Ortega, tampouco estarão presentes o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador, que nunca viaja – em seu lugar virá o chanceler, Marcelo Ebrard –, e a presidenta do Peru, Dina Boluarte, que substitui Pedro Castillo. Quem também foi convidado de forma simbólica, mas que não poderá comparecer, é o presidente chinês, Xi Jinping. No entanto, será projetada uma mensagem gravada enviada por Xi. Já Nicolás Maduro acabou por cancelar sua participação, denunciando um possível plano de atentado.
A semana internacional terminará no sábado com a chegada à Argentina do primeiro ministro alemão, Olaf Scholz.
A futura presidência da Celac
No evento deve ser definido o próximo presidente pró tempore do organismo. Segundo o acordado, deverá ser o primeiro ministro de São Vicente e das Granadinas, Ralph Gonsalves, porque é a vez de alguém da comunidade do Caribe presidir o espaço. Argentina e México votarão nele, mas ainda falta o acordo de todos os membros.
Se não se chegar a uma decisão unânime, poderão pedir à Argentina que prorrogue seu mandato por alguns meses até uma definição ou até que outro país queira assumir a presidência. Neste caso, um dos interessados é a Colômbia de Petro. Este ano, um dos eventos mais importantes da Celac será o encontro com a União Europeia, que terá lugar em Bruxelas, em junho. Se o mandato de Fernández for prorrogado, este irá.
A Celac
A Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac) foi criada em Caracas entre os dias 2 e 3 de dezembro de 2011, no contexto da IIIª Cúpula da América Latina e do Caribe sobre Integração e Desenvolvimento (CALC) e da XXIIª Cúpula do Grupo do Rio. A reunião realizou-se como parte das comemorações do bicentenário do início dos processos de independência dos países da área.
Precisamente, em um 2 de dezembro, mas de 1823 e em Washington, James Monroe, quinto presidente dos Estados Unidos, anunciara em seu discurso anual ao Congresso da União a doutrina que levaria seu nome. 188 anos mais tarde, nesse mesmo dia, nasceria a Celac, uma das iniciativas estratégicas mais importantes dos povos e governos da região.
A crescente ingerência norte-americana nos assuntos internos de nossos países chegou a níveis escandalosos, de onde a necessidade de uma Celac forte para pôr freio a tanta prepotência imperial. Só uma ação articulada entre nossos países poderá evitar a brutal recolonização da América Latina e do Caribe, montada sobre uma direita radical e violenta que é promovida, assessorada e financiada de Washington por meio de numerosos canais.
Claudio della Croce | Economista e professor argentino, pesquisador associado ao Centro Latino-americano de Análise Estratégica (CLAE, www.estrategia.la)
Tradução: Ana Corbisier.
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