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ToggleAs gerações mais jovens acreditam que o futebol foi inventado há dez anos e que os campos sintéticos ou gramados sempre estiveram ali, assim como a proximidade e a superexposição nas redes sociais que tudo magnificam a favor das grandes empresas da exploração tecnológica e de máfias que rodeiam o futebol. Daí acreditam nos investimentos milionários em propaganda, a cada dez anos, a jogadores estrelas, que lhes servirão para venda de camisetas, audiência televisiva e entradas nos estádios. Impõem assim um ídolo às massas mundiais, que são tão manipuláveis.
Além de tudo isso está Pelé, que jogou com pedra como bola, em campos enlodados e sem regulamentos de futebol renovados ano a ano que facilitassem, cada vez mais, o desenvolvimento do jogo para o único fim de ser um espetáculo além do esporte e do espírito do jogo limpo.
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Muitos poderão ser contra isso, mas essas opiniões não tiram de Pelé o fato de ser o maior jogador de futebol de todos os tempos havidos e por haver. Por que? Simples, porque ele inventou tudo, por onde o vejam, por onde raspem, Pelé inventou tudo. Tudo o que veio depois no futebol é sua escola, são os meninos aprendendo com o mestre. Foi Pelé quem abriu os caminhos não só para os futebolistas brasileiros, mas sim para os latino-americanos. Foi quem pôs o Brasil e a América Latina no mapa do futebol mundial. Graças a Pelé, o futebol latino-americano existe no futebol mundial.
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Pelé é dessa geração que não voltaremos a ver, porque com ele quebrou-se o molde
Estética, talento e disciplina
Sua beleza estética, seu talento e disciplina. Seu jogo bonito, a magia de amortizar a bola acariciando-a com as coxas, sem golpeá-la, porque aprendeu quando era menino treinando com mangas maduras que seu pai lhe dava, sem sapatos, devido à pobreza extrema em que viviam. Devido a essa luta contra o impossível pelas circunstâncias de seu entorno, sua técnica é impecável, porque foi feita pelo sacrifício e a fome, pela necessidade e o amor à paixão maior de todas, o futebol, anseio que a exclusão social não lhe pôde arrebatar.
Arte, sensibilidade e genialidade: ninguém escreveu sobre futebol como Nelson Rodrigues
O grande fazedor, o mago, a negritude do Brasil, a dignidade da favela. Os que nascemos de quarenta anos para cá não pudemos ver em ação o maior jogador da história. Nos impuseram como ídolo a qualquer um que chute uma bola. Somos tão manipuláveis até como espectadores. Mas a história não mente: nos vídeos que se guardam de Pelé em ação, pode-se observar a imensidão de sua grandeza, de seu talento, de sua beleza, de sua índole como esportista. De seu respeito ao opositor, ao campo, ao futebol. Sua defesa do jogo limpo.
Pelé é atemporal, passarão e passarão falsos ídolos que, quando as máfias que rodeiam o futebol os abandonarem, serão esquecidos. Mas Pelé seguirá reinando porque com ele se inventou o verdadeiro futebol. Ele é o futebol, o jogo bonito que tanto orgulha o Brasil e todos o invejam. E o mais importante de tudo é que Pelé é um jogador exemplar para os meninos e as meninas que queiram praticar esse esporte. Esse é seu verdadeiro legado, ser semente para as gerações que vêm pelo caminho. Isso, só ele pode ser.
Pelé é dessa geração que não voltaremos a ver, porque com ele quebrou-se o molde. Fica seu legado como luz e senda embelezando a favela e os arrabaldes do mundo inteiro. Louvor à sua majestade, Rei Pelé, por ter dignificado a periferia latino-americana com sua negritude tão sui generis própria da herança da Mãe África.
Ilka Oliva-Corado | Colaboradora da Diálogos do Sul em território estadunidense.
Tradução: Beatriz Cannabrava.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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