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A boa educação

Carolina Vásquez Araya

Tradução:

cropped-mandela-educacionQuando era criança me ensinavam a nunca contradizer os mais velhos.

Carolina Vásquez Araya*
As sociedades estão integradas por seres humanos diversos, nascidos em ambientes diferentes de pais únicos e em condições particulares, a partir das quais vão se modelando seu caráter e personalidade. A infância, na realidade, é etapa da maior vulnerabilidade durante a qual as pessoas são treinadas para pensar, comportar-se e crer, de maneira definida pelos adultos de seu entorno. Nesse processo incidem mães, país, familiares próximos, vizinhos, professores e guias espirituais.
Ninguém escapa a essa modelagem de iniciação em que são impressas, como folhas em branco, uma série de códigos, ideias, conceitos e atitudes como espelho de outros códigos, ideias, conceitos e atitudes herdados de gerações passadas e assim até o infinito. Não obstante, quando tem início a idade escolar começa um processo de reavaliação de todo o aprendido. Uma grande oportunidade para corrigir e aperfeiçoar o conhecimento acumulado. É como quando tirar de uma escultura o material que sobra e acrescentar aquele que falta. É um período de grandes experiências, quando as mentes ávidas de informação absorvem tudo o que estiver ao alcance e também quando a qualidade do educador e do entorno são vitais para fixar o interesse do alunado e otimizar os resultados do exercício pedagógico.
Resulta, então, pertinente perguntar o que sucede quando os docentes carecem da preparação adequada para dar aulas no sistema educativo de um país. Quando esses profissionais da educação não chegam nem a ser aprovados nas aptidões básicas para pleitear uma vaga no sistema. É de supor-se, então, a existência de uma falha fundamental cuja origem –estrutural, claro- procede de políticas públicas deficientes e opostas à priorizar a qualidade da educação. Essa falta de atenção a uma das bases fundamentais de todo processo de desenvolvimento priva a infância de uma formação intelectual mínima de acordo com padrões internacionais. Ou seja, se prove um sistema insensível com o único objetivo de apresentar estatísticas mais ou menos aceitáveis para uma comunidade mundial crítica.
O produto de semelhante sistema não pode ser outro que um série de gerações incompletas desde o ponto de vista acadêmico, cujo potencial se desperdiça por diversas razões, nenhuma das quais considera as devastadoras consequências que isso implica. Não se propicia a análise, os processos de intercâmbio intelectual, os projetos de pesquisa e tampouco se conduz às novas gerações à busca de respostas aos grandes temas da atualidade. Tais deficiências vem junto com uma formação deficiente desde o âmbito familiar, o que deriva em comunidades humanas em que as variantes de pensamento são consideradas como ofensas  e soem ser reprimidas por ser diferente da norma.
A tendência, então, é produzir gerações de humanos aptos para trabalhos rotineiros e que permanecem durante toda sua vida sem pretender mudanças. Pessoas cujas capacidades sejam anuladas em função de um sistema produtivo desenhado para cidadãos obedientes e não deliberantes, como disciplinados soldados de uma mega indústria multinacional. Ali vemos então a uma valiosa juventude desperdiçada sem oportunidades de crescimento intelectual por falta de recursos, mas sobretudo pela ausência de um Estado capaz de identificar nela o enorme potencial de desenvolvimento e bem-estar para a nação. Esta é a realidade nos países governados por elites incapazes de afrouxar as rédeas para que o garanhão abandone o trote e possa galopar.
*Colaboradora de Diálogos do Sul, da capital da Guatemala.
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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