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ToggleHollywood é influenciada pelo sionismo, o que limita a disposição dos grandes estúdios em abordar de maneira crítica as questões relacionadas ao conflito israel-palestino.
Como resultado, apenas cineastas independentes ou de fora do circuito da capital mundial do cinema assumem o papel de contar as histórias do povo palestino, enfrentando desafios financeiros e de distribuição. É nesses filmes, no entanto, que muitas vezes encontramos uma representação mais autêntica e sensível das experiências e do sofrimento dos palestinos.
Tais produções desempenham ainda um papel crucial em ampliar o entendimento público sobre o conflito no Oriente Médio e em dar voz aos marginalizados, desafiando ativamente a visão unidimensional perpetuada pelo sionismo na indústria cinematográfica mainstream. A seguir, conheça algumas dessas produções:
Paradise Now (2005)
“Paradise Now“, dirigido por Hany Abu-Assad, é um filme profundamente impactante que mergulha nas complexidades do conflito entre Israel e Palestina, explorando as motivações por trás de atos de terrorismo suicida. Lançado em 2005, o filme segue a jornada de dois amigos palestinos, Said e Khaled, que são recrutados para realizar um ataque suicida em Tel Aviv.
A narrativa começa com a rotina monótona dos protagonistas em Nablus, uma cidade na Cisjordânia ocupada, enquanto trabalham em um lava-rápido. Conforme o enredo se desenrola, descobrimos suas motivações para se tornarem mártires: o desejo de vingança pela ocupação israelense e a busca por uma forma de resistência contra a opressão.
O filme retrata de forma intensa os dilemas morais enfrentados pelos personagens, suas dúvidas e conflitos internos à medida que se preparam para o ataque. Durante o processo, eles confrontam suas próprias crenças e questionam se estão realmente fazendo a coisa certa. O diretor, Hany Abu-Assad, habilmente humaniza os personagens, mostrando-os como seres complexos e não apenas terroristas unidimensionais.
O clímax do filme ocorre quando Said e Khaled se preparam para realizar o atentado. No entanto, um evento inesperado faz com que eles reconsiderem suas ações, levando a um desfecho emocional e surpreendente que – sem spoilers – oferece um momento de intensa reflexão sobre a natureza do conflito e o impacto devastador da violência.
“Paradise Now” recebeu aclamação da crítica e ganhou vários prêmios, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro, causando protestos do lobby sionista de Israel. Sua abordagem corajosa e provocativa sobre um assunto tão delicado gerou debates e discussões sobre a questão palestina e a natureza do terrorismo. O filme também foi elogiado por sua cinematografia envolvente e pela atuação poderosa de seus protagonistas.
Trailer:
Hany Abu-Assad, diretor por trás da obra-prima, é um cineasta palestino conhecido por seu compromisso em dar voz aos marginalizados e explorar questões sociais e políticas em seus filmes. Nascido em Nazaré, Israel, em 1961, estudou cinema na Holanda e desde então vem produzindo filmes aclamados internacionalmente, muitos dos quais abordam a situação do povo palestino. “Paradise Now” é um exemplo marcante de seu talento e de sua capacidade de provocar reflexão e empatia através do cinema.
Farha (2021)
“Farha” é um filme de 2021 dirigido por Darin J. Sallam, um cineasta palestino-americano. O filme conta a história de Farha, uma jovem palestina que vive na Faixa de Gaza, área marcada por conflitos e dificuldades socioeconômicas em razão da violência sionista. Farha é uma estudante promissora com grandes sonhos e aspirações, mas sua vida é abruptamente interrompida quando sua família é afetada por um bombardeio israelense.
Após essa tragédia, Farha é forçada a lidar com as consequências emocionais e físicas do conflito, enfrentando a perda de entes queridos e a destruição de sua comunidade. Determinada a encontrar esperança em meio à adversidade, ela se une a outros jovens palestinos para reconstruir suas vidas e lutar por um futuro melhor.
O filme retrata de forma sensível e realista as lutas e a resiliência do povo palestino, destacando as experiências pessoais e humanas por trás das manchetes dos conflitos na região. O longa oferece uma visão poderosa e comovente da vida em Gaza e das dificuldades enfrentadas pelos seus habitantes, enquanto também celebra a força e a determinação da juventude palestina.
Trailer:
Quanto ao diretor, Darin J. Sallam tem se destacado por sua dedicação em contar histórias autênticas e impactantes sobre a Palestina e sua diáspora. Ele nasceu nos Estados Unidos, mas sua herança palestina influencia profundamente sua arte e visão como cineasta.
Lágrimas de Gaza (2010)
“Lágrimas de Gaza” é um documentário lançado em 2010, dirigido por Vibeke Løkkeberg. O filme oferece um olhar poderoso e comovente sobre a vida dos habitantes da Faixa de Gaza, uma região marcada por conflitos constantes e violência decorrente do conflito entre Israel e Palestina.
Através de relatos pessoais, imagens de arquivo e entrevistas com moradores locais, “Lágrimas de Gaza” apresenta uma visão intimista das experiências de crianças, mulheres e homens que enfrentam as consequências devastadoras dos confrontos armados. O documentário retrata os desafios diários enfrentados pelos habitantes da região, desde a falta de recursos básicos, como água potável e eletricidade, até o trauma psicológico resultante da exposição constante à violência e ao medo.
Ao longo do filme, são trabalhadas temáticas como a resiliência da comunidade palestina, a luta pela sobrevivência e a esperança por um futuro de paz e dignidade. “Lágrimas de Gaza” também lança luz sobre a humanidade por trás das estatísticas e dos relatórios de notícias, destacando as histórias pessoais e as vozes silenciadas dos palestinos.
Trailer:
Quanto à diretora, Vibeke Løkkeberg é uma cineasta e atriz norueguesa conhecida por seu compromisso com questões sociais e políticas em seus filmes. Nascida em 1945, começou a carreira cinematográfica na década de 1960. Ao longo de sua trajetória, dirigiu e produziu uma variedade de filmes que abordam temas como direitos humanos, feminismo e justiça social.
O monopólio da dor em Hollywood
É crucial reconhecer o monopólio do sofrimento na cultura audiovisual, que dá ao Holocausto uma atenção jamais dedicada a outros genocídios e tragédias humanitárias.
Enquanto filmes como “A Lista de Schindler” (1993) e “O Pianista” (2002) oferecem fortes retratos do massacre de judeus pela Alemanha nazista, crimes históricos como o massacre de Ruanda em 1994 e os cometidos na guerra na Bósnia na década de 1990, além do próprio sofrimento palestino, recebem menos ou nenhum destaque.
O Holocausto, compreensivelmente, é um dos eventos mais sombrios e devastadores da história humana, e sua representação precisa e respeitosa é crucial. No entanto, o sionismo em Hollywood muitas vezes moldou narrativas para servir a seus próprios interesses políticos, promovendo a ideia de que o Estado Sionista é a única resposta ao genocídio judeu e silenciando vozes críticas que questionam as políticas israelenses em relação aos palestinos.
O sionismo em Hollywood contribuiu ainda para retratar o conflito entre Israel e Palestina como um mero “conflito” ou “disputa territorial”, em vez de reconhecer a realidade do genocídio e da opressão que os palestinos enfrentam há décadas. Essa narrativa simplificada e unilateral reduz a complexidade do conflito e disfarça a responsabilidade de do Estado Sionista pelas violações dos direitos humanos que opera.
Edição: Guilherme Ribeiro