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A Terceira Guerra Mundial já começou | Pt 1: o êxito russo e a propaganda pró-nazi da Otan

Até o momento, a Rússia sequer envolveu suas armas mais poderosas nem mais que 20% dos efetivos no ativo em ações de combate
Daniel Vaz de Carvalho
Resistir.Info
São Paulo (SP)

Tradução:

Vocês pensam que só os outros é que são maus. Ouvem as notícias e não pensam em mais nada. Este gajo (Obama) quer dizer-me que vivemos em comunidade? Não me façam rir. Eu vivo na América e a América não é um país. É apenas um negócio. Agora pague-me, porra.
Brad Pitt, no filme Mate-os suavemente de Andrew Dominick

1 – Eles morrem para que a “Europa” viva

O título vem de uma manchete nazi, aquando da derrota em Stalingrado: “Eles morrem para que a Alemanha viva”.

Não nos podemos admirar que apoiando o regime de Kiev que toma ucranianos criminosos de guerra nazis como heróis, a UE/Otan siga critérios idênticos.

A Terceira Guerra mundial já começou e a prova disto é a propaganda facciosa que constantemente se ouve ignorando os fatos, o processo histórico, hipocritamente alardeando impolutos sentimentos por parte daqueles que apoiaram ou calaram os crimes cometidos da Iugoslávia e Líbia ao Afeganistão, já não falando da Coreia do Norte, Vietname, Camboja.

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A propaganda é orientada para a diabolização do já declarado inimigo, no maniqueísmo noticioso e censura, no apagamento da História recente e de tudo o que contradiga a sua versão dos acontecimentos.

Na mente da generalidade das pessoas ou é plenamente justificado ou dada como não existente a expansão da Otan para leste, a sabotagem dos acordos de Minsk – exemplos de felonia –, o abandono pelos EUA em anos anteriores de tratados de limitação de armas, o desprezo com que foi votada a proposta russa de novembro de 2021, para um tratado de segurança na Europa.

A versão oficializada dos acontecimentos é repetida piamente por políticos e “comentadores”: a guerra começou em 24 de fevereiro de 2022; Putin quer submeter a Ucrânia para depois invadir a “Europa”. Do lado Otan estão os povos civilizados, do outro, os bárbaros, párias internacionais. Com mentalidade colonialista, referem-se a si próprios como a “comunidade internacional”. Porém, na realidade, este mundo “civilizado” tem com acentuada frequência espalhado a guerra e o caos onde quer que intervenha, da América Latina ao Extremo Oriente.

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O golpe de 2014 em Kiev nunca pretendeu acabar com a corrupção nem instaurar uma democracia plena. Desde o início foram levados ao poder os mais ligados à corrupção de poderosos oligarcas, grupos neonazis tornaram-se senhores do país e a russofobia política de Estado – proibindo a língua, queimando livros, perseguindo minorias. Tudo isto é por demais – ou devia ser – conhecido.

O objetivo nunca foi melhorar a vida dos ucranianos, mas sacrificar o seu povo numa tentativa de vir a dominar a Rússia. Os interesses da Ucrânia nunca foram levados em consideração; o conflito sempre foi decorrente da obsessão dos EUA em destruir uma Rússia em ascensão. Os europeus não passam de danos colaterais desta agenda imperialista, sem que os líderes da UE tenham soluções para a crise em que se envolveram.

As destruições e perdas humanas da Ucrânia são uma realidade que torna as palavrosas manifestações de apoio a Zelensky ou de total inconsciência ou cinismo. Kiev perdeu 50% da sua infraestrutura energética, fábricas, oficinas, zonas industriais, que tornadas alvos militares são destruídas.

A população foge para outros países, restando apenas no território controlado por Kiev cerca de 20 milhões (dos 48 quando República Soviética) com 8 milhões abaixo da linha da pobreza. É com estes infelizes – controlados por grupos nazis – que a UE/Otan quer vencer a Rússia. Desde o início da guerra, segundo a UNICEF, o número de crianças pobres passou de 43% para 82%, além dos riscos de stress pós-traumático.

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Face a esta situação, o clã de Kiev não cessa em pedir mais armas, mísseis, tanques, aviões… apesar do que lhes tem sido continuamente dado e praticamente levou ao esgotamento dos estoques dos países europeus da Otan e mesmo dos EUA.

O entusiasmo propagandístico dos “comentadores” escamoteia o enorme custo destas armas: Os Abrams dos EUA, mais de 10 milhões de dólares por unidade, são “extremamente complexos de operar e manter”, e devoradores de combustível de avião precisam de uma enorme cadeia logística. Os Leopard 2, sem os problemas logísticos dos Abrams, custam cerca de 6 milhões de dólares cada. Os Challenger 2 da RU, têm um custo de cerca de 4,9 milhões de dólares.

Este esforço de guerra tem como intenção Kiev vir a retomar o controle sobre as províncias de Donbass, que deveriam ter-se tornado autônomas sob o acordo nunca implementado de Minsk II, e sobre a Crimeia, cuja maioria dos residentes destas regiões não tem absolutamente nenhum desejo de voltar ao domínio de Kiev. Mas isto é simplesmente a capa para tornar a Ucrânia território da Otan, aí estacionar tropas e bases de mísseis.

Sem explicarem aos seus cidadãos o que isto significa para as suas vidas, a UE/Otan tornou oficial a posição de apoiar a Ucrânia até à vitória, pois “a Rússia não deve vencer esta guerra.” O que equivale a uma declaração de guerra.

Até o momento, a Rússia sequer envolveu suas armas mais poderosas nem mais que 20% dos efetivos no ativo em ações de combate

Fatos Desconhecidos
A Rússia encontrou oposição firmemente entrincheirada: se as forças ucranianas perdem uma posição, imediatamente as russas mudam para outra




2 – Nada de novo na frente leste?

O que aconteceu afinal? Em março, cerca de um mês após o início das operações para, segundo a Rússia, defender as repúblicas do Donetsk que já estavam a ser bombardeadas pelas forças de Kiev com elevado número de efetivos estacionados na sua proximidade, o exército ucraniano havia sido derrotado, a sua aviação sem capacidade operacional e muito material pesado perdido. Este exército fora organizado, armado e treinado com total apoio da Otan, durante oito anos.

As forças russas prosseguiram a ofensiva. Em maio, a Ucrânia sofria importante derrota no complexo do Azovstal e, no verão, as regiões do Donbass, que abrigam as repúblicas de Lugansk e Donetsk – e tinham se separado de Kiev, dado não aceitarem o regime nazifascista russofóbico instaurado – não tinham conseguido ocupar, pelo menos em permanência, estavam na sua posse, excetuando algumas zonas de Donetsk. Ao Sul, a província de Zaporizhia, incluindo Melitopol, estava parcialmente controlada pelas forças russas ameaçando Kerson e daí Nikolaev e Odessa. Olhando o posicionamento das tropas, tornava-se claro que o que restava do exército ucraniano no Donbass iria ser cercado e, se não se retirasse, aniquilado.

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Por que isto não aconteceu? No início de setembro, a Ucrânia lança uma contraofensiva sobre zonas mal defendidas das linhas russas e recupera boa parte dos territórios antes tomados. É fácil compreender que face ao descalabro das tropas de Kiev nos meses anteriores a Otan subiu o nível de apoio e de intervenção na Ucrânia, em material, treino, efetivos contratados e, evidentemente, propaganda.

Do lado russo, a versão foi que tinham se retirado de zonas de defesa difícil para zonas estrategicamente mais consistentes. Uma forma “elegante” de admitir a derrota… Do lado da Otan, gerou-se um delírio triunfalista, em que a Rússia estava derrotada, com a capacidade militar esgotada, o avanço só pararia com a recuperação dos territórios ocupados pela Rússia, incluindo a Crimeia, Putin seria derrubado do Kremlin, etc. Tudo isto não passava de propaganda idiota.

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O fato é que as tais zonas “pouco defensáveis” que a Rússia perdeu em escassas semanas, estão há meses a ser recuperadas. Nestas circunstâncias não é por acaso que um coronel do FSB (ex-KGB) publica um livro, sob pseudônimo, dedicado à análise da “Operação Militar Especial” (OME) “em termos da prontidão de combate do exército russo, do profissionalismo dos serviços de informação, da prontidão do comando para conduzir operações ofensivas competentes e bem-sucedidas e do estado das nossas armas”, comentado em “Retirada de Izyum: Testemunho de um oficial do FSB”:

“A retirada de Kharkov, que tem a importância estratégica mais importante – acabou privando as tropas russas da perspectiva de fechar o “cerco de Slavyansk” e levou a mudanças significativas na perceção da OME na sociedade russa e suas autoridades”.

“O seu abandono levou ao colapso na direção de Kharkov, a perda de Kupyansk, Balakleya e um grande número de outras povoações, fortaleceu as capacidades ofensivas das Forças Armadas Ucranianas (FAU) e criou um trampolim para um ataque na direção da República de Lugansk (…) Izyum tornou-se um excelente exemplo de erros de tática, falhas devido a mentiras sistêmicas em relatórios, motivação fraca e problemas no uso das forças”.

“Na realidade, verificou-se haver setores deixados praticamente sem defesa, com duas, três ou mais vezes menos pessoas que as necessárias para os objetivos pretendidos. Mas tudo isto tem causas e o comentário esclarece: “a incompetência coletiva dos liberais que ocupam cargos em cada ministério da Federação Russa – às vezes bastante altos na hierarquia – diariamente tentando inviabilizar decretos e as ordens de Putin causou a retirada temporária da Rússia de Kharkov”[1].

Recordemos que já Sergey Glasiev se havia manifestado em sentido semelhante no campo financeiro do Estado.

É então que todo o comando da frente é remodelado, os efetivos reforçados, a industria de guerra entra em modo de produção contínuo, procede-se a uma mobilização parcial de 300 mil militares. O Kremlin compreende que não há como evitar uma guerra longa e complexa, tendo pela frente como adversário não propriamente a Ucrânia, mas a Otan decidida a tudo – e este tudo ninguém sabe até onde pode ir.

As ilusões de “blitzkrieg” por parte da Otan, logo se desvaneceram. Incapazes de prosseguir o avanço, organizaram-se em fortes linhas defensivas, reforçadas com novas vagas de mobilização na Ucrânia, armamento tecnicamente mais avançado, apoio logístico e efetivos da Otan contratados.

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Porém, a tomada de Soledar, a ofensiva para Bakhmut, mostram que nem o apoio da Otan nem as melhores forças especiais de vários tipos, quantidade de equipamentos e inteligência operacional proporcionada pela Otan conseguiram evitar a derrota, resistindo basicamente no interior das cidades.

A ofensiva russa enfrenta contudo séria resistência. Evgeny Prigozhin (líder do grupo russo Wagner) “observou que o inimigo está lutando até o fim e um colapso moral e psicológico significativo das suas unidades ainda não ocorreu”.

As forças ucranianas/Otan estão gradualmente perdendo áreas fortificadas que foram construídas durante meses. Nestas condições, as forças russas avançam gradualmente nos setores leste, sul e sudoeste da frente. As perdas das FAU aumentaram muitas vezes, bem como de equipamento militar. De acordo com informações privilegiadas, as perdas excedem os 500 efetivos por dia, em que a mobilização não compensa não apenas em termos de quantidade, mas também em termos de qualidade, intimações estão sendo entregues a pessoas sem experiência militar. (https://t.me/s/intelslava 25/02)

O general Sir Richard Barrons, ex-comandante do Comando das Forças Conjuntas do Reino Unido, diz que a Ucrânia precisa manter 200 mil soldados em campo para defender a linha da frente de 1 600 milhas [2575 km] [2] e manter a estratégia de esticar as forças russas no maior número possível de lugares. “Dado que a taxa de vítimas por dia atinge 200 a 300 mortos, pode-se ver quantos seriam necessários para reabastecer isso“. Com base nestes dados, os índices de perda comumente aceitos de 4 feridos por morte ou desaparecimento, a Ucrânia/Otan poderão ter nos dias mais intensos umas 1000 baixas diárias.

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Segundo a Der Spiegel, o Serviço Alemão de Inteligência está alarmado com as perdas do exército ucraniano no leste da Ucrânia: um número de três dígitos de soldados diariamente, lutando contra tropas russas em Bakhmut. (Intel Slava Z – Telegram, 19/01)

De todo o modo, a Rússia encontrou oposição firmemente entrincheirada: se as forças ucranianas perdem uma posição, imediatamente mudam para outra, depois para a terceira ou quarta, havendo perdas reais, tanto do lado russo como ucraniano, mas 70 a 80% mais do lado ucraniano. Uma sondagem realizada pelo Rating Group, com sede na Ucrânia, mostrou que 17% dos entrevistados disseram ter perdido um ente querido na guerra, 9% há 6 meses. Cerca de 95% dos entrevistados disseram estar confiantes na vitória de seu país. Admitamos que é arriscado dizer o contrário, num país em que os partidos da oposição foram proibidos e se é perseguido por ser “russófilo”.

A Rússia se recompôs e a ofensiva ucraniana/Otan tornou-se uma armadilha, que esgota os arsenais da Otan, põe a nu a sua incapacidade industrial para manter uma guerra intensa de longa duração, e em que na ajuda militar e apoio ao regime de Kiev já foram gastos 150 bilhões de dólares. Que se pense então nos resultados obtidos.

Aos que consideram que Kiev deve repor as fronteiras de 1991, deviam pedir para o Pentágono explicar como, dada a situação estabelecida, seria possível invadir a Rússia, considerando que até agora este país não envolveu nem as suas armas mais poderosas nem mais que 20% dos efetivos no ativo em ações de combate.

Uma guerra, contudo, a Otan está a ganhar: a da propaganda. As populações e sobretudo soldados mercenários são, como relata um oficial de blindados do exército francês, constantemente alimentados com argumentos pró-guerra, discursos anti-russos, muito pró-Otan. (Intel Slava Z – Telegram, 16/02)

Passadas as hesitações, vão ser enviados tanques modernos para a Ucrânia com que será realizada uma ofensiva vencedora – mais uma manobra de propaganda, ou não copiassem a Alemanha nazi. Notemos que é preciso treinar tripulações para lidar com a complexidade das armas mais modernas (mesmo que sejam operadas por “mercenários” Otan), fornecer munições suficientes, mecânicos e peças de reserva para repará-los. Depois há o transporte até à frente, a mais de 1000 quilômetros de distância, durante a qual sem cobertura aérea se tornam alvos fáceis.

Uma ação ofensiva com tanques é das ações militares mais complexas. Envolve preparação do terreno pela engenharia e unidades anti-minas, apoio aéreo, artilharia fixa e móvel de longa distância, infantaria blindada com todos os tipos de armas, tanques pesados e ligeiros, cada formação com posicionamento e tarefas bem definidas e uma complexa coordenação geral de tudo isto.

A Rússia sofreu perdas relativamente significativas no início em blindados, pelos Javelin, por ter negligenciado alguns destes aspetos.

Ao desencadearem-se os confrontos é fundamental a capacidade de decisão e disciplina de cada uma das unidades, o que só é obtido com intenso treino e competência ao nível dos escalões hierárquicos inferiores.

Mas não é tudo, há necessidade de total capacidade e eficácia nos abastecimentos, serviços médicos, técnicos de manutenção e reparações mesmo sob fogo, etc.

(continua)

[1] Numa intervenção em maio de 1941 Estaline critica Vorochilov pelas suas “medidas excessivas” na depuração das Forças Armadas, tendo já sido reintegrada a maioria. Em Maio de 1948: “Podemos naturalmente compreender o camarada Voroschilov. Baixar a vigilância é algo de extremamente perigoso, já que, para lançar uma ofensiva na Frente são necessárias centenas de milhares de soldados, mas para provocar o seu fracasso bastam dois ou três canalhas traidores no Estado-Maior. No entanto, apesar de todas as justificações, a destituição de 40 mil comandantes das forças armadas foi uma iniciativa não só excessiva, como também extremamente prejudicial em todos os sentidos. O Comité Central do Partido corrigiu a atuação do camarada Voroschilov.” (A Verdade sobre Stáline, pg. 28, Para a História do Socialismo)

[2] Com uma área de 603 700 km², a Ucrânia é o segundo maior país da Europa em extensão, apenas menor que a Rússia Europeia

Daniel Vaz de Carvalho | Resistir.Info


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