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A Terceira Guerra Mundial já começou | Pt 1: o êxito russo e a propaganda pró-nazi da Otan
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3 – Uma guerra existencial para os contendores
O drama desta guerra, para além dos dramas de todas as outras guerras, é que se tornou existencial para ambos os contendores.
Quando no Kremlin foi decidida a “Operação Militar Especial” (OME), é possível que não antecipassem que essa intervenção iria colocar as duas superpotências nucleares numa situação que se transformaria num confronto existencial: para a Rússia como Estado uno e soberano, conforme Putin expressou no seu discurso de 21 de fevereiro de 2023, “Eles planejam liquidar-nos de uma vez por todas. Por outras palavras, eles planeiam transformar um conflito local num confronto global. É assim que entendemos e responderemos de acordo, porque isso representa uma ameaça existencial ao nosso país”.
Os russos não esquecem os efeitos do capitalismo após a dissolução da União Soviética. Em 1990, mesmo após uma década de sabotagem econômica, o Índice de Desenvolvimento Humano da URSS, segundo os critérios da ONU, era de 0,92, o 25º maior no mundo. Em 2019, a Rússia estava em 52º lugar muito longe da prosperidade que o ocidente havia prometido. Quanto à Ucrânia, o golpe de 2014, ainda mais agravou a situação, passando de 83º lugar para 88º em 2018. Em 2022, nenhuma das antigas repúblicas soviéticas havia recuperado seu nível de 1990. Mesmo meses antes de dissolução da URSS, os cidadãos soviéticos desfrutavam de maior prosperidade do que depois da sua “libertação” em que os capitalistas do ocidente puderam saquear o país. [1]
“Na Rússia, pelo menos cinco milhões de mortes adicionais devido à fome, falta de assistência médica, dependência de drogas, privações, ocorreram entre 1991 e 2001. Mas houve algo de que estes países “beneficiaram”: universidades fundadas com subsídios da USAID, fundos dos EUA e da UE. A orientação destas faculdades era abertamente pró-ocidente, com ligações a “grupos de reflexão” nos EUA e outros países da Otan. A Open Society Foundation, apoiada por Soros, criou dezenas de novas universidades no leste e produziu livros didáticos para escolas primárias e secundárias. Entre seus ex-alunos estão presidentes, membros de Parlamento, inúmeros burocratas, líderes de grupos neonazis como o Azov. Tudo isso foi posto ao serviço de guerra contra o comunismo, sendo particularmente irônico o furor anticomunista de George Soros que obteve enormes lucros saqueando a antiga União Soviética. [1]
Quanto aos EUA, veem a Rússia aliada à China, como uma grave ameaça à sua hegemonia global, ao “modo de vida” das suas oligarquias dominantes. O dólar, um dos alicerces sobre o qual se baseia esta construção, está em risco de chegar ao fim do seu domínio. Cinco projetos ameaçam a hegemonia do dólar encaminhando o mundo para a desdolarização. As fragilidades da sua economia, endividada, desindustrializada e altamente dependente do exterior em bens e matérias-primas, são evidentes. Segundo um relatório de 2021 do Departamento de Energia, “dos 35 minerais identificados como críticos (…) os Estados Unidos carecem de produção doméstica de 14 e são mais de 50% dependentes de importações para 31”.
Para manter a hegemonia, os EUA gastam 768 mil milhões de dólares por ano com a chamada “defesa”. Porém, levando em conta outros gastos militares o total estará em cerca de 1 milhão de milhões. Mas os EUA, pouco mais têm para oferecer aos países que a sua globalização neoliberal, e uma “democracia liberal”… quando possível. Produzem armas e capital fictício que passa por riqueza, na mão de um punhado de oligarcas.
A dívida federal atingiu 31,6 milhões de milhões de dólares, 120,37% do PIB. crescendo 2,3 milhões de milhões por ano. Incluindo a dívida dos Estados e locais a dívida atinge 134% do PIB. O défice da BC é de 1,2 milhões de milhões, dos quais 387,6 mil milhões com a China e 270 mil milhões de importações de petróleo.
Manter o império custa caro: 800 bases militares à volta do mundo, 7 esquadras navais e 13 porta aviões. Há ainda que financiar “combatentes pela liberdade” (mesmo que a sua atividade seja o terrorismo), os que lutam “pela democracia” (mesmo que não passem de sucedâneos nazis e notórios corruptos), financiar a CIA e o seu universo de ONG. Acrescente-se o ininterrupto fornecimento de armas à Ucrânia e dinheiro para manter um Estado fantoche. Só a ajuda militar excede em média anual a gasta com a guerra do Afeganistão.
A quase totalidade dos países do “ocidente” têm dívidas que nunca poderão ser pagas, mostrando que do ponto de vista financeiro e industrial, não poderão manter um clima de conflitos políticos e militares de longa duração, mesmo limitados, com potências como a Rússia ou a China, sem provocar o descalabro dos seus próprios sistemas econômicos e sociais, sendo improvável manter a passividade das populações com base em propaganda desligada dos factos.
O ocidente – ao qual pertencemos – afunda-se econômica, social e politicamente. A guerra na Ucrânia, evidenciou os limites do império e traçou para o mundo um rumo diferente em que a Rússia e a China assumem protagonismo em iniciativas econômicas e políticas (Cinturão e Rota da China, Organização de Cooperação de Shangai, União Económica Euroasiática, BRICS) e aceleram a criação de um sistema de pagamentos comum, desafiando o sistema monetário do ocidente. A cooperação comercial e económica entre a EAEU e os BRICS aumentou 1,5 vezes no primeiro semestre de 2022.
É evidente que o plano de submeter a Rússia econômica e politicamente falhou. Governos que representam 85% da população mundial recusaram-se a seguir as sanções impostas pelos EUA e seus aliados, apenas países que representam 15% da população mundial as seguem.
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As exportações russas mantêm-se, o aumento dos preços compensa algumas descidas. O saldo comercial da Rússia foi de 370 mil milhões de dólares em 2022 contra 190 mil milhões em 2021. É agora evidente que sem a Rússia e seus recursos não é possível assegurar um crescimento econômico global.
A Rússia promoveu com êxito a substituição de importações e a passagem de empresas dos EUA ou da UE, obrigadas a sair devido às sanções, para o Estado russo ou participadas. Os brilhantes estrategistas ocidentais pensavam que lidavam com um país do chamado terceiro mundo e a economia russa cairia no caos. A Rússia aproxima agora o funcionamento da sua economia do sistema da China combinando o mercado, com um papel determinante do Estado, aumentando as competências nos diversos ramos industriais e militares.
Na Europa do ocidente, desindustrialização, crise econômica e financeira, são as consequências de seguirem a voz do dono. Neste processo a sabotagem do gasoduto Nord Stream 2, executada pelos EUA, agrava a competitividade da UE, a começar pela Alemanha, cedendo perante a China e a Rússia. Como meros vassalos, Alemanha e França tornaram-se parceiros menores na Otan, cujo o eixo fundamental está agora em Londres e Varsóvia.
O problema é que o ocidente, incapaz de inverter a via do seu próprio declínio, avança para o abismo de um guerra mundial. A Rússia faz-lhe frente, tomou a decisão de aumentar os efetivos das Forças Armadas para 1,5 milhão de militares e estão operacionais “super armas” como o Poseidon e o Sarmat, que entrou em produção acelerada.
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Os grandes perdedores são os povos europeus da UE/Otan, mas a consciência disto é limitada
Este armamento não tem que ver com a guerra na Ucrânia, é a preparação para uma guerra total com os EUA/Otan, caso o império decida ultrapassar as linhas vermelhas traçadas pelo Kremlin: ataques que ponham em causa a segurança e soberania do Estado e infraestruturas estratégicas.
4 – Os “sete inefáveis” e o dilema do mundo unipolar [1]
É espantoso como os estratégias ocidentais ficaram longe de prever o que veio a acontecer. Um novo centro geopolítico, econômico e militar, foi criado centrado-se na Rússia, China e Irã. O Irã é um país rico em matérias-primas, populoso de 87 milhões de habitantes e com um poder militar que contém os seus inimigos. Este bloco vai agregando em relações econômicas e políticas terceiros países que se afastam das estratégias ocidentais.
Desta forma o poder global dos EUA vacila. Para travar uma guerra com adversários como a China e a Rússia é importante a disponibilidade de matérias-primas e capacidade e industrial. A parte da China com a Rússia no PIB mundial (em termos de PPP) superou a dos EUA com a Alemanha: em 2019, 20,4% contra 19,3%. Em relação ao sector produtivo da Rússia, a França representava apenas 44,3%, a Alemanha 90,0%. Nas tecnologias mais avançadas, a China superou os EUA obtendo neste campo uma liderança que pode ser decisiva. (Intel Slava Z – Telegram, 16/01)
O plano inicial arquitetado pela Fundação Rand de esgotar e submeter a Rússia através da Ucrânia, falhou, tendo-se passado para uma guerra que a Otan tomou como sua, não importando quantos ucranianos (e mercenários ocidentais) terão de morrer, levando a Ucrânia a um monte de ruínas e a ameaça de as superpotências nucleares se envolverem diretamente em guerra.
Podem os media contar a história improvável de uma vitória ucraniana, mas a realidade impõe-se: a Rússia pode esmagar o regime imposto pela Otan em Kiev. A questão é como irá reagir o poder hegemônico. A hipótese de uma provocação de falsa bandeira (já várias foram tentadas) implicando a Rússia ou a Bielorrússia num ato de agressão, por exemplo na Moldávia, seria uma forma – desesperada – de alargar o âmbito da guerra.
Perante isto: afinal o que pretende a Otan? E como? Os EUA/Otan têm bombardeado, invadido países, organizado golpes, aplicado sanções ilegais que constituiram crimes sobre os seres mais frágeis. Processos que representam milhões de mortes. No ocidente, tudo passou como justificado e normal. Eram as chamadas “guerras assimétricas” contra países empobrecidos e sem forças armadas minimamente à altura do desafio.
Agora é diferente. A RAND apresenta um novo estudo afirmando que uma longa guerra na Ucrânia tem consequências negativas para os EUA, em que os custos e riscos superam os possíveis benefícios. Os Estados Unidos devem estabelecer políticas que levem a guerra a uma conclusão, incluindo a oferta de alívio de sanções à Rússia ou a ameaça de cortar a ajuda financeira e material à Ucrânia. Isso induziria Kiev a buscar acordos com a Rússia, mesmo que isso inclua perda territorial.
O apoio à guerra diminui nos EUA, apenas 26% dos inquiridos acha que o seu papel deve ser maior, contra 49% menor e 24% nenhum. A principal preocupação é neste momento limitar os danos à economia, algo incompatível com a guerra na Ucrânia.
Washington e seus subordinados da Otan não têm uma estratégia consistente para vencer a guerra na Ucrânia, nem para pará-la, o auto convencimento é tão grande devido ao domínio nos media que olham para seus fantoches como representativos de todo o povo, achando que recheando de dólares alguns seus adeptos podem controlar um país. Exemplo: o caso Guaidó… ou o Navalny!
A manipulação mediática chegou ao ponto de levar muitas pessoas, que se revoltam (e justamente) contra maus tratos aos animais, considerarem que a solução para esta guerra seria: matar Putin. Claro que a sua mente não está em condições de refletir sobre o que os assassiOtans de Kadafhi, Sadam (ou N. Ceausesco) trouxeram de benefício para os seus povos e para o mundo. Infelizmente também não estão em condições de refletir sobre as prováveis consequências de um ataque à Rússia a partir de bases Otan na Europa.
Que aconteceria aos aeroportos, portos, refinarias, depósitos de combustível, instalações militares, cidades, centrais elétricas? Os mísseis Patriot são inúteis contra os mais avançados mísseis hipersónicos russos. Claro que a Rússia não ficaria incólume, apesar da eficácia sem paralelo dos S-400 e S-500, mas também não os EUA que não têm defesas contra os Sarmat e os Poseidon. Compare-se no entanto a extensão da Rússia com qualquer daqueles países e os meios de que dispõem. Só gente enlouquecida pode imaginar uma terceira guerra mundial como “a política por outros meios”. Isto, como Eisntein advertiu, acabou em 1945.
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Mas é com loucos que estamos lidando. Não bastou a sabotagem das negociações de março-abril pelos EUA, quando 17 projetos de acordo entre a Rússia e a Ucrânia tinham sido preparados pelas partes, antes de o ocidente interromper as negociações. (Intel Slava Z – Telegram, 5/2)
A oposição ao prosseguimento da guerra, ou pelo menos à forma como é conduzida pela Otan, levou na Ucrânia a toda uma série de demissões, de governadores, ministros e vice-ministros. A alegação foi corrupção, se fosse esta a razão teriam de começar pelo chefe: o fantoche Zelensky. Aquela pessoas tinham certamente relatórios sobre a confrangedora situação dos soldados e da população, mas Zelensky limita-se a cumprir o que os patrões da Otan mandam.
Cessar uma guerra horrível que se torna cada vez mais ameaçadora e destrutiva e voltar a considerar um tratado de paz e segurança coletiva na Europa, como o proposto pela Rússia em dezembro de 2021, seria a prioridade – não enviar mais armas.
Nas atuais condições, a Rússia relativamente à Ucrânia, apenas está interessada numa rendição e nos seus termos. Conforme expresso por Putin e Lavrov, a Rússia não aceita qualquer espécie de privilégio nas relações internacionais de uma nação ou grupo de nações, exigindo ser tratada em pé de igualdade, tendo em conta os seus interesses e opções políticas e sociais, que têm que ser respeitados, sem tentativas de ingerência. Nenhum plano de paz pode existir se não levar em conta a incorporação das quatro novas regiões na Rússia.
Neste momento, dificilmente haverá acordos para negociações. O que vemos são as nuvens de uma guerra global, que se adensam com o envio pelos EUA para Taiwan de forças militares e mais armamento, renegando a posição que assumiram de a ilha fazer parte da China, procurando pretextos para a transformar noutra Ucrânia.
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O mundo divide-se – perigosamente – em dois campos opostos. A China desenvolve a sua capacidade convencional e nuclear aceleradamente, com equipamentos de última geração. A Rússia modernizou totalmente sua tríade nuclear. As suas fábricas de armamento trabalham seis dias semanas com três turnos: “A soberania do país será baseada no crescimento das capacidades de nossa tríade nuclear como o único garantidor confiável da soberania político-militar”. “Responderemos em conformidade, porque estamos a falar da existência do nosso país”. (Putin)
Os grandes perdedores são os povos europeus da UE/Otan. Mas a consciência disto é limitada. Há manifestações contra a guerra, exigindo negociações e a retirada da Otan, sem o que será impossível evitar de uma forma ou de outra uma drástica queda civilizacional nos seus países ou mesmo a sua destruição. Os políticos do sistema mentem, dizendo que não há condições para negociar com a Rússia. Então qual a qual a vialbilidade de o conseguirem?
E dizer que os EUA – com as ofertas de Gorbachov… – tinham todas as condições para serem líderes globais… se não fossem o que são: capitalistas e imperialistas. Por isso estamos perante uma Terceira Guerra Mundial. Só não sabemos como vai evoluir.
[1] How a Network of Nazi Propagandists Helped Lay the Groundwork for the War in Ukraine
[2] “nomes inefáveis” – seres cabalísticos, segundo as crenças demónios ou seres divinos. O que se aplica ao G7…
Daniel Vaz de Carvalho | Resistir.info
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