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ToggleIsrael não se contenta com seus crimes diários de assassinatos, destruição e cerco contra os palestinos por terra, ar e mar. Acrescentou à sua artilharia um método ainda mais vil e desprezível: recrutar ferramentas locais para executar seu projeto colonial com mãos palestinas.
Relatórios israelenses revelaram que o chefe do serviço de segurança interna “Shabak” (Shin Bet), Ronen Bar, é o mentor do chamado projeto “Abu Shabab” – uma milícia palestina recrutada e armada com o objetivo de reproduzir a ocupação sob um rosto local. Segundo as mesmas fontes, Benjamin Netanyahu aprovou o plano, e o “Shabak” supervisionou o envio de armas e o financiamento do grupo para iniciar suas tarefas sujas sob o disfarce de “governo alternativo”.
Mercenários sem causa
Quem são os membros de “Abu Shabab“? Um grupo de foras da lei envolvidos no tráfico de drogas, contrabando e crimes contra a propriedade. Não possuem qualquer pertencimento nacional, não empunham bandeira alguma – formam uma milícia funcional cujo objetivo é desarticular a sociedade e atingir sua estabilidade, em troca de um punhado de dinheiro e a serviço da agenda da ocupação.
O que se promove sob o nome de “governo alternativo” não é uma iniciativa de salvação, nem uma solução política – é uma nova forma de guerra, travada com ferramentas vis e com o intuito de desmantelar o tecido nacional palestino desde dentro, liquidando sua causa por meio de mãos compradas.
Al-Dahniyya: a velha incubadora do projeto de segurança
Para entender o contexto de segurança desse projeto, é necessário voltar-se à região de al-Dahniyya, a leste da cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, próxima aos territórios ocupados em 1948. Esta zona agrícola fronteiriça foi, até 2005, um ponto de atividade intensa da segurança israelense, usada para disseminar agentes e coletar informações devido à sua localização remota e à baixa densidade populacional à época.
Antes da retirada israelense de Gaza, al-Dahniyya era um centro de coordenação de segurança e ponto seguro de comunicação para espiões. Mas, após o desmantelamento dos assentamentos, tornou-se um reduto da resistência, alvo de operações de varredura, perseguições a colaboradores e local de construção de fortificações para monitorar os movimentos da ocupação.
Hoje, ao promover novamente al-Dahniyya como ponto de partida para seu projeto, a ocupação revive a mesma mentalidade de segurança que enxerga a geografia como instrumento para golpear o interior palestino.
Nem do Hamas, nem da Fatah: o país da Traição
Desde o início da agressão, Netanyahu busca impor uma nova equação: não há lugar para o Hamas, nem para a Autoridade Palestina em Gaza. Quem é o substituto?
A resposta chocante: uma milícia a serviço da ocupação, que recebe ordens do “Shabak” e se prepara para formar uma entidade paralela subordinada ao inimigo. Um grupo ilegítimo que oferece serviços públicos e anuncia vagas de emprego pode se tornar uma autoridade governante? Isso não difere da experiência dos ‘comitês de vilarejos‘ – estruturas implantadas por Israel na Cisjordânia, nos anos 1970, para governar através de líderes locais colaboracionistas – nem do “Exército de Lahad’ – milícia libanesa financiada por Israel, entre 1978 e 2000, para reprimir a resistência no sul do Líbano –, ambas ferramentas da ocupação para desmontar os movimentos de libertação desde dentro.
A Autoridade Palestina: cúmplice pelo silêncio… ou por ação
Diante desse cenário, a Autoridade Palestina se refugia num silêncio suspeito. A negativa dos seus porta-vozes quanto a qualquer relação com “Abu Shabab” não a exime de responsabilidade. O silêncio, sem uma posição clara que condene e criminalize o projeto, só pode ser interpretado como uma concordância implícita.
A ausência de uma postura nacional firme da Autoridade e a negligência dos grupos políticos (partidos) em preencher o vazio político e de segurança em Gaza concedem à ocupação a chance de expandir sua influência com mãos palestinas.
“Abu Shabab“: punhal envenenado no abdome da pátria
Esse projeto não é experimental. É uma ferramenta de segurança e inteligência plenamente integrada, com o objetivo de espalhar o caos, atacar a resistência e dilacerar a unidade de Gaza. É uma ocupação disfarçada sob uma fachada palestina – mais perigosa que a ocupação direta, pois se esconde por trás de máscaras locais.
Sem misericórdia para traidores… nem perdão para cúmplices
A escolha agora é clara: ou derrubamos o projeto “Abu Shabab“, ou aceitaremos uma nova ocupação administrada por nomes e sotaques palestinos. Todo aquele que coopera com a ocupação – qualquer que seja sua filiação ou função – é um traidor que deve ser exposto e levado a julgamento. E quem silencia diante da traição é cúmplice do crime.
A aposta na consciência do povo
Essas quadrilhas só cairão diante de uma revolta popular consciente e corajosa, que as denuncie, cerque e impeça sua expansão pela força. Se persistir a leniência em enfrentá-las, todos se verão diante de uma versão palestina do “Exército de Lahad” no coração de Gaza.
A punhalada que vem de dentro é a mais dolorosa
“Abu Shabab” não é o nome de uma pessoa, mas o rótulo de uma traição organizada, implantada sob fogo, cerco e silêncio. Se deixarmos o projeto avançar, estaremos diante de um cenário em que a Faixa de Gaza será administrada por ferramentas da ocupação – como ocorreu no sul do Líbano.
É chegada a hora de decidir: quem levanta armas contra seu próprio povo a serviço da ocupação não é resistente – é traidor. E não há lugar para traidores entre nós.
Edição de Texto: Alexandre Rocha