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Cadernos do Terceiro Mundo: A situação do Afeganistão vista por Fidel Castro

"Compreendemos toda a manobra que o imperialismo está praticando, explorando a tragédia em busca da dominação e não de reformas"
Gabriel Rodrigues Farias
Diálogos do Sul Global
Rio de Janeiro (RJ)

Tradução:

No trecho abaixo, será exposto uma parte de um discurso de Fidel Castro, junto com breves notas de um jornalista, publicadas na edição de outubro de 2001 da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Em sua fala, Fidel faz comentários sobre a situação do Afeganistão, sobre o grupo Talibã e sobre o papel dos EUA e das Nações Unidas na região:

[…] ‘’Ninguém pode assegurar que a aventura dessa guerra — a procura do conflito e do combate ao terrorismo pelos métodos mais absurdos — não conduza a mudanças internas no Paquistão, que tem sido obrigado a converter-se numa base fundamental dos Estados Unidos na guerra contra o Afeganistão. No Paquistão, formou-se a Milícia Talibã. Lá ela foi treinada, e a etnia afegã dominante tem 10 milhões de pessoas de um lado e oito milhões do outro lado da fronteira. São radicais e se sentem solidários com os talibãs”. 

Fidel lembrou ainda que o uso norte-americano da Aliança do Norte pode levar à ocupação das cidades afegãs, mas não resolve o aspecto da histórica resistência que o povo afegão tem oferecido aos invasores de seu país.

”No Afeganistão, tinha-se produzido uma revolução autêntica, autóctone, com o objetivo de mudar as estruturas do país. No entanto, contra a revolução socialista afegã logo se levantaram os Estados Unidos e as demais potências ocidentais. Tudo isso gerou um grande erro por parte da União Soviética, que, ao intervir lá, ajudou a unificar as forças contrárias e levou à primeira grande guerra naquele país. 

"Compreendemos toda a manobra que o imperialismo está praticando, explorando a tragédia em busca da dominação e não de reformas"

Montagem Diálogos do Sul
Na opinião de Fidel, as Nações Unidas tomaram-se uma "instituição anacrônica, que precisa ser reestruturada e democratizada

A URSS perdeu ali dezenas de milhares de combatentes. O governo acabou por cair nas mãos daqueles que tinham sido treinados no Paquistão 

Nunca tivemos qualquer relação com os talibãs, pois as diferenças ideológicas e políticas entre nós e os talibãs são abissais”, assinalou 

”Nossa posição parte de princípios. Por isso, compreendemos perfeitamente toda a manobra que o imperialismo está praticando, explorando a tragédia em busca da dominação total e não de reformas práticas. Claro que qualquer um percebe que são ideias loucas de pessoas de extrema-direita, tão fanáticas ou mais do que os talibãs. Estes se regem por normas religiosas enquanto o imperialismo se move por um religioso interesse financeiro cultuam o deus dinheiro.’’

Sobre o tema:
Talibã foi patrocinado pela CIA na Guerra Fria e hoje tomou poder no Afeganistão

O líder cubano frisou a falta de justificativas para a agressão norte-americana: “Os talibãs não podem invadir ninguém, não podem pilhar ninguém, enquanto os Estados Unidos têm tudo, podem tudo, podem invadir outros países intervêm sob qualquer pretexto em qualquer parte do mundo. Fazem a pilhagem do mundo exploram o mundo, engendram a pobreza, a miséria e o subdesenvolvimento em toda a parte. Os talibãs não foram sequer admitidos nas Nações Unidas, enquanto os EUA são os donos das Nações Unidas. Fornecem até o café da manhã ou o negam, em virtude do privilégio do veto; cancelam qualquer decisão, mesmo que seja unânime de todos os demais integrantes do mundo reunidos na Assembleia Geral da ONU.” 

Por esse motivo, na opinião de Fidel, as Nações Unidas tomaram-se uma “instituição anacrônica, que precisa ser reestruturada e democratizada. É, porém, uma instituição única no mundo, que presta serviços importantes na área educacional, cultural, na elaboração de projetos, mas desprovida de qualquer poder de decisão. Tem certa influência moral e política, mas as poucas faculdades de que dispunha lhe foram arrebatadas. É como se não existisse” […] 

Memória

A Diálogos do Sul é a continuidade digital da revista fundada em setembro de 1974 por Beatriz Bissio, Neiva Moreira e Pablo Piacentini em Buenos Aires:

A recuperação e tratamento do acervo da Cadernos do Terceiro Mundo foi realizada pelo Centro de Documentação e Imagem do Instituto Multidisciplinar da UFRRJ, fruto de uma parceria entre o LPPE-IFCH/UERJ (Laboratório de Pesquisa de Práticas de Ensino em História do IFCH), o NIEAAS/UFRJ (Núcleo Interdisciplinar de Estudos sobre África, Ásia e as Relações Sul-Sul) e o NEHPAL/UFRRJ (Núcleo de Estudos da História Política da América Latina), com financiamento do Governo do Estado do Maranhão.


Textos publicados originalmente na página Revista Cadernos do Terceiro Mundo – Acervo Digitalizado

‘’Fidel condena o terrorismo e justifica a luta revolucionária’’ por Procópio Mineiro.

CADERNOS DO TERCEIRO MUNDO. Rio de Janeiro: Terceiro Mundo, ano 26, n. 236, out.-nov. 2001, p. 48-51 


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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Gabriel Rodrigues Farias

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