“Só com o rifle e o sangue vamos nos libertar.” A declaração forte do embaixador Ahmed Mulay Ali Hamadi, representante da Frente Polisário no Brasil, sintetiza a resistência do povo saarauí contra a ocupação marroquina.
Em entrevista ao programa Dialogando com Paulo Cannabrava desta terça-feira (27), Ahmed reforça que a República Saarauí permanece como a última colônia africana, mesmo sendo reconhecida por mais de 80 países e pela União Africana.
O embaixador detalha que, após a retirada da Espanha em 1976, o Saara Ocidental foi dividido entre Marrocos e Mauritânia, com apoio da França e dos EUA, mas o povo saarauí não aceitou essa divisão. “Nosso povo, unido na Frente Polisário, luta com armas em mãos pela libertação total do território. Não queremos só parte, queremos toda a pátria ou o martírio.”
Ele denuncia o muro de mais de 2.700 km construído pelo Marrocos, com apoio militar da França e de Israel, separando o território e cercando por oito milhões de minas terrestres. “Vivemos divididos por um muro como na Palestina, enfrentamos desaparecimentos, prisões e massacres. A luta pela autodeterminação é a mesma.”
Ahmed critica duramente a omissão da ONU e o apoio de potências ocidentais a Marrocos. “Os Estados Unidos reconheceram a soberania marroquina sobre o Saara Ocidental em troca da normalização com Israel. Mas no terreno, somos nós, com nossas armas e nossa resistência, que mantemos viva a luta.” Ele também aponta que mais de 800 soldados marroquinos desertaram recentemente, temendo o avanço das forças saarauís.
Sobre o papel do Brasil, o embaixador destaca: “O Brasil sempre se posicionou pela descolonização, mas segue omisso em relação ao Saara Ocidental. Reconhecer a República Saarauí seria um ato de justiça histórica e fortaleceria a luta contra o colonialismo.” Ahmed lembra que mais de 26 países latino-americanos já reconhecem a República Saarauí, e que a solidariedade cresce na região.

O embaixador também manifesta esperança no presidente Lula: “Acreditamos que o mesmo coração que reconheceu a Palestina um dia reconhecerá o Saara Ocidental. Se Brasil e México derem esse passo, a ONU será obrigada a agir.” Ele reforça que o Brasil possui tradição diplomática alinhada aos direitos dos povos, e que agora precisa transformar essa tradição em ação concreta.
Por fim, Ahmed convida o público brasileiro a conhecer de perto a causa: “Estamos organizando a terceira caravana ao Saara Ocidental, em novembro. Quem quiser ver nossa luta e nossa resistência com os próprios olhos, será bem-vindo.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global no YouTube: