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Foto: Matt Brown / Flickr

América Latina deveria seguir exemplo de Rússia e China e enfrentar big techs, diz especialista

Jorge Elbaum, doutor em Ciências Econômicas, explica ainda que a recente ofensiva do X no Brasil faz parte de uma “guerra cognitiva” que visa enfraquecer democracias no Sul Global
Sergio Pintado
Sputnik Mundo
Montevidéu

Tradução:

Ana Corbisier

As sanções contra a empresa X dispostas pelo Brasil deveriam ser “um exemplo” para outros países da América Latina em um contexto em que as grandes plataformas digitais acumularam “um poder enorme”, disse ao Sputnik o analista internacional Jorge Elbaum. Para o analista, a América Latina deveria seguir o exemplo da Rússia e da China.

O especialista argentino, também sociólogo e doutor em Ciências Econômicas, considerou que o bloqueio da rede social X disposto pelo Supremo Tribunal Federal (STF) brasileiro é uma “prática soberana” que, como outras de seu estilo, “implica em um enfrentamento com a lógica neocolonial e imperialista” que este tipo de empresas mantêm.

“Estas plataformas têm, em conjunto, um orçamento superior ao de vários países e equivalentes a países como a França. Têm muito poder econômico e um grande poder de influência, além de fortes contatos com organismos de segurança, inteligência e espionagem, razão pela qual estão sempre articuladas com o lado obscuro da governança global”, afirmou o analista.

Nesse sentido, Elbaum indicou que existe uma questão “estrutural” por trás tanto do X como de outras grandes empresas tecnológicas como Google, Amazon, Apple, Microsoft e Meta (proscrita na Rússia como extremista), que nos últimos anos “acumularam um poder enorme”, tanto no plano econômico como em seu poder e influência sobre os usuários de internet.

Ainda segundo Elbaum, embora possa haver diferenças, este tipo de empresas expressa “interesses que não são contraditórios com a política externa dos EUA” e que, para além das simpatias com Donald Trump ou Joe Biden, movem-se em “um tridente que inclui o complexo militar industrial, Wall Street e as empresas transnacionais“.

Nesse cenário, Elon Musk aparece como o CEO que “mais abertamente está jogando uma partida global em favor de uma direita brutal, nacionalista e reacionária”, o que para Elbaum se relaciona diretamente com a rejeição da influência da China na economia global.

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“Pensemos que Musk era o primeiro produtor de automóveis do mundo, mas foi desbancado pelos chineses. Está desesperado”, ilustrou Elbaum, recordando que o CEO do X e de Starlink defendeu o golpe de Estado contra Evo Morales de 2019, tendo afirmado pelo X que impulsionaria “todos os golpes que quisesse” desde que tivesse acesso aos recursos de lítio do país, chave na indústria de veículos elétricos.

Uma “guerra” contra os BRICS e o Sul Global

Para Elbaum, episódios como o do Brasil com o X ou a detenção do fundador do Telegram, Pável Dúrov, fazem parte de uma “guerra cognitiva” estimulada pelo Ocidente com o objetivo de “limitar a capacidade das sociedades de pensar com cabeça própria, basicamente a partir dos algoritmos e dos condicionamentos das telas”.

“Nesta guerra cognitiva a América Latina e a África são consideradas próprias pela OTAN e o Atlântico Norte, mas começam a rebelar-se, especialmente nos casos de México, Brasil, Honduras e, claro, Venezuela, Nicarágua e Bolívia, por exemplo. O modelo da ingerência, das sanções unilaterais e dos bloqueios está ficando difícil”, sentenciou o sociólogo.

Estando assim as coisas, a decisão do STF do Brasil de sancionar o X pela divulgação de discursos antidemocráticos é a expressão de “uma guerra contra os BRICS que os EUA, a União Europeia e o Japão levam adiante”, tentando evitar o fortalecimento de países do Sul Global.

Elbaum defendeu as medidas adotadas pelo Brasil, que, aliás, “vêm da Justiça, o que lhes dá um ar de maior neutralidade, não podendo ser atribuídas a Lula“.

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Para o analista, outra alternativa para os países latino-americanos seria seguir algumas práticas adotadas pelas potências dos Brics e que lhes permitem ter redes sociais “próprias” e baseadas em seus próprios territórios.

“É preciso fazer o que a Rússia fez com o VK ou a China com o WeChat. Se fosse possível, a América Latina deveria ter um formato comum de interação, cujos algoritmos e inteligência artificial fossem manejados pelos países soberanos”, opinou.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Sergio Pintado Jornalista da Sputnik

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