A revitalização de legítimos organismos de integração regional, impulsionada por vários governos latino-americanos e caribenhos, torna mais aguda hoje a crise de uma Organização de Estados Americanos (OEA) sem Donald Trump no ano que se inicia.
Especialistas acreditam que a nova administração estadunidense de Joe Biden continuará empregando esse agrupamento para proteger seus interesses, mas que também se abre um período de incerteza, especialmente para o uruguaio Luis Almagro, o questionado secretário geral da OEA.
O ano de 2020, nefasto em termos sanitários, sociais e econômicos para todo o mundo, afetou com especial dureza a América Latina e o Caribe, embora recentes eleições e mobilizações populares assinalam possíveis mudanças dentro e fora desse organismo.
Líderes de vários países convocaram no fim de 2020 a mobilização de outros mecanismos como a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), o mais representativo e que neste ano será presidido pelo México, como espaço de intercâmbio e diálogo das 33 nações membros.
A Celac, que não inclui os Estados Unidos nem o Canadá, se propõe, entre outros objetivos, converter a região em uma Zona de Paz para impulsionar seu desenvolvimento.
De maneira similar, houve pronunciamentos recentes para reativar a União de Nações Sul-americanas (Unasul) e o Mercado Comum do Sul (mercosul), entre outros, à margem das decisões da OEA.
A Bolívia será sede, em março, de uma reunião da Unasul, onde também será apresentada a Runasul, dedicada à defesa dos direitos dos povos originários da região.
OEA
Líderes de vários países convocaram no fim de 2020 a mobilização de outros mecanismos.
O papel de Almagro à frente da OEA durante o golpe de estado contra o presidente Evo Morales em fins de 2019 foi criticado apesar do respalda da administração Trump, como continua sendo agora.
O porta-voz da presidência da Bolívia, Jorge Richter, reiterou a falsidade das “conclusões” da OEA sobre aquelas eleições: Além do que diz o inconsistente informe da OEA, disse, não se pode evidenciar que exista fraude.
O Parlamento da América do Sul (Parlasul) propôs em janeiro iniciar uma investigação sobre o papel de Almagro durante a crise boliviana de 2019, exigindo-lhe que explique “o terrível erro que cometeu para submeter América Latina e o povo da Bolívia”, segundo anunciou seu presidente, o uruguaio Oscar Laborde.
Da mesma forma, o boliviano Adolfo Mendoza, presidente do Parlamento Andino (PA), solicitou uma auditoria formal ao informe da OEA sobre a Bolívia.
Há necessidade de que este tipo de fato nunca mais fique no limbo e que a investigação possa contribuir para o fortalecimento da democracia na América Latina, sublinhou.
Por sua parte, várias organizações humanitárias argentinas, onde deveu asilar-se Evo Morales, denunciaram Almagro ante a Comissão de Direitos Humanos das Nações Unidas por seu intervencionismo contra a soberania da Bolívia.
Entre outras críticas, destacou-se uma da congressista estadunidense Jan Schakowsky, presidenta da Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Representantes, a qual pediu que fosse investigada a manipulação de dados da OEA nessas eleições.
A esse respeito, disse a meios estadunidenses que Trump e a OEA têm uma aliança que “parece coincidir com algo sinistro”.
Dentro da organização, com sede em Washington, também se questionou seu papel diante do governo venezuelano.
O primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Keith Rowley, que presidirá este ano a Comunidade do Caribe (Caricom) anunciou que seu país não participará em novas votações até que seja destituído o questionado delegado venezuelano e reincorporado o representante legítimo do presidente Nicolás Maduro.
Sustentou que “tampouco apoiaremos qualquer resolução até que as pessoas que estão sentadas ali representando os países não seja as adequadas”
Às possíveis mudanças da OEA contribuirão também eleições gerais e parlamentares prevista para este ano em vários países, como Equador e Peru, e mais adiante em Honduras, Nicarágua, Chile e Colômbia, entre outros, embora todas com prognostico imprevisível.
* Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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