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“Mercosul não é só comércio”: Uruguai defende retorno de discussões sociais ao bloco

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

O encontro de chanceleres do Mercado Comum do Sul (Mercosul) realizado neste domingo (17) na sede da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmenbol), na cidade de Luque, no Paraguai, foi emblemático do caminho escolhido pelos governos de turno para a integração regional.

Vanessa Martina Silva*

Nesta segunda-feira (18) foi realizada a cúpula dos chefes de Estado, na qual o Paraguai passou a presidência pró-tempore do bloco para o Uruguai. A cada seis meses um país assume a liderança regional, rotacionada em ordem alfabética.

Vale destacar também o local escolhido. A sede da Conmenbol é amplamente contestada pelos paraguaios pelos privilégios que abriga. Isso porque a chamada cidade Conmebol tem status similar ao de uma embaixada estrangeira e pode ser comparada a uma espécie de “Vaticano” sem precedente no mundo, por não precisar se submeter às leis do país. Apenas a Ordem Soberana e Militar Hospitalar de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta tem status semelhante no mundo.

 

De volta às origens

 

Chama a atenção o fato de o bloco estar de volta à sua formação original (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai), já que a Venezuela foi suspensa em decorrência da má aplicação das normas democráticas do Protocolo de Ushuaia, por uma suposta quebra da ordem democrática do país.

Nesta formação original, em que os governos, com a exceção do Uruguai, são de caráter conservador, o Mercosul retoma também sua proposta inicial de ser um projeto comercial, deixando de lado as iniciativas realizadas durante a última década de fazer do bloco um instrumento para os povos. Esse foi o tom dado pelos chanceleres de Argentina, Jorge Faurie, e Paraguai, Eladio Loizaga, e do ministro das Relações Exteriores de fato do Brasil, Aloísio Nunes.

Nunes, em sua fala, destacou o empenho do governo ilegítimo do Brasil de fazer acordos de livre-comércio com outros países e blocos. Neste sentido, estão sendo realizadas tratativas com Canadá, Singapura, Índia, Líbano, Tunísia e Coreia do Sul, além da União Euroasiática e do acordo que se desenha do bloco sul-americano com a União Europeia.

 

Mercosul social

 

Já o Uruguai, representado pelo chanceler Rodolfo Nin Novoa, destacou o compromisso de levar adiante as negociações econômicas em curso, mas destacou que durante sua liderança será fortalecido o relacionamento com a sociedade civil, melhorando a comunicação institucional e mediante a realização da Cúpula Social do Mercosul — totalmente abandonada pelas últimas gestões — a última edição do encontro foi realizada em Montevidéu em 2016.

“Mas o Mercosul não é apenas comércio”, disse Novoa. “O Mercosul busca, desde o início, dar ao processo de integração órgãos articuladores que compreendam todos os aspectos sociais relacionados à atividade comercial, incluindo democracia e direitos humanos, equidade e educação de gênero, saúde e cultura, combate ao narcotráfico e à cooperação fronteiriça”, destacou o chanceler uruguaio ressaltando aspectos deixados para o segundo plano pelos demais integrantes do bloco.

Neste sentido, o representante uruguaio conclui: “os avanços no campo social só são alcançados através de uma sólida integração política entre os Estados Partes. Por essa razão, a presidência pró-tempore do Uruguai dará especial atenção ao aprofundamento do processo de integração política e ao avanço do processo de integração, promovendo o desenvolvimento humano e social integral com uma perspectiva de direitos humanos e com a participação de todas as instâncias sociais do Mercosul”.

* É jornalista, editora do site Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Revista Diálogos do Sul

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