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Recém-nascidos, grávidas e mães: em Cuba, as vidas que não foram levadas pelo tornado

"Foi um trauma grande mas estamos vivos!", comenta a mãe de uma das mulheres hospitalilzadas em maternidade efetada pelo fenômeno
Ana Maria Dominguez Cruz
Havana

Tradução:

Um tornado raro atingiu a capital cubana, na noite de domingo (27), provocando imensos danos materiais em casas, carros e edificios que desabaram. Até o momento, de acordo com o governo, quatro pessoas morreram e há mais de 170 feridos.

Grávidas e puepérias hospitalizadas na Maternidade Dez de Outubro, localizada no municipio do mesmo nome, em Havana, foram transportadas para outras instituições. Muitas perderam alguns pertences, mas todas têm seu maior presente. 

Dairene Hernandez perdeu todos os seus pertences “mas o mais importante é Kevelyn, e está comigo”.

“Um tornado em Luyanó!? Quem poderia crer Nisso?, e quando Angel Lavrada fala conosco se nota a incredulidade que, lamentavelmente, se converteu em certeza. “A cesárea da minha esposa saiu bem, ela foi para a sala de recuperação às 18h40 e me mandou fotos do Angelo , o bebé, e eu fiqueio tranquilo. Pouco depois, comecei a ficar preocupado porque ligava no seu celular e ela não me atendia, e, de repente, vejo na internet o que tinha passado… Não podia acreditar. Não pude esperar mais, fui ao aeroporto e às sete da manhã já estava aqui em Cuba. Foi um alívio encontrá-los vivos”.

"Foi um trauma grande mas estamos vivos!", comenta a mãe de uma das mulheres hospitalilzadas em maternidade efetada pelo fenômeno

Roberto Ruiz Espinosa
Marilyn Nogueras foi a última paciente a dar à luz por meio de uma cesárea na Maternidade Dez de Outubro.

Marilyn Nogueras, de 30 anos, tem o bebê em seus braços e não sabe como me explicar a felicidade imensa que sente após tudo. “Eu estava son o efeito da anestesia, não tinham passado duas horas e eu estava na maca, sentindo a chuva e os vidros das janelas sobre mim, às escuras… não entendia nada”.

A mãe de Marilyn, Rosemary Santos, chora. Não pode conter as lágrimas. “O melhor é que sua filha e o menino estão vivos”, digo a elas. Mas me olha com olhos úmidos, me toma a mão e me diz: “Foi um trauma grande, é uma experiência muito triste… mas isso é o mais importante. Estamos vivos!”.

Me conta que tudo passou muito rápido, que parecia que um avião havia caído em cima do hospital, que ela arrastou a maca de sua filha até um quarto próximo com outras pacientes e depois foram até a neonatologia.

“Estávamos sozinhas, não havia homens perto. aMas depois, na sala de neonatologia, todo mundo ajudou. Meu filho, estudante de Medicina, se incorporou à evacuação, meu outro filho acompanhava Marilyn… Um enfermeiro e um pai bloquearam uma saída de gás, houve uma explosão… Esse hospital ficou destruído, mas às 4 da manhã já estávamos fora de perigo, nos receberam muito bem… Estamos vivos!”

***

Yaraisy Herrera ainda encontra vidros entre os cabelos. “Olhe, jornalista… Eu ainda estou impressionada. Eu não podia imaginar que a estrada na qual meu esposo e eu regressávamos para casa se destroçaria. Os vidros das janelas se arrebentaram, nos atiramos no chão, ficamos molhados pela chuva… O semáforo de Guanabacoa era uma loucura nesse momento”.

A mulher se encontra hospitalizada, tem 37,3 semanas de gravidez e apesar de ter tido contrações, está fora de perigo. “Chegaram os bombeiros, as ambulancias… havia muitos feridos e eles prestaram os primeiros auxílios. Pareciam magos, não sei como puderam atender todos. Eu dizia a eles que podia esperar, que estava bem, para que atendessem os mais precisados. Agora estou tranquila”.

Yaraisy Herrera ainda encontra vidros nos cabelos depois do acidente de trânsito que sofreu

***

Dairene Hernandez, de 22 anos, estava há onze dias na Maternidade Dez de Outubro esperando que a ferida de sua cesárea cicatrizasse bem para voltar para casa com sua pequena Kevelyn.

“Por volta das 20h30 o céu ficou vermelho, minha mamãe quis fechar as janelas e aí tudo caiu em cima dela. Foi-se a luz, a gente começou a gritar, estávamos muito assustados. Corremos até a enfermaria, eu llevaba a menina nos braços. Tudo estava muito feio”.

—Não sofreram lesões?

—A bebê tem um arranhão no nariz, quase não se vê. Minha mãe tem os pés feridos, pelos vidros. Perdemos todos os pertences, mal pude pegar umas coisas da bebê, mas a saúde dela é o que importa, e está bem. Aqui estaremos bem.

***

Dainiel Rodríguez, com uma venda no braço esquerdo e com várias suturas nas costas, tem um brilho inconfundível em seus olhos. Está rodeado por sua família, esteve com ela no pior momento e pôde protegê-la.

“Eu fui levar comida para minha esposa e vi o bebê… tudo estava bem. Quando comecei a ouvor aquele barulho, a chuva e os ventos, disse a ela que levantasse da cama e junto com a outra paciente, minha sogra e os meninos, nos escondemos em um pequeno quarto perto. Eu fechei a porta e sozinho tive a ideia de me colocar na frente deles, sustentando a trava, para que não acontecesse nada com eles.

“Eu nunca tinha visto tanto sangue, tanto medo na cara das pessoas. Foi muito triste. Perdemos todo o enxoval, mas Irina sabe que isso não é o importante. Edson e ela estão bem e aqui nos atenderão como deve ser. Confiamos nisso”.

***

O especialista em ginecologia Armando Lozano e a enfermeira Martha Débora Pérez, atendem às recém chegadas à instituição hospitalar, explicam que os berços para seus bebês chegarão logo e que, por enquanto, deve ser evitado que eles durmam junto a elas. Prestam assistência a elas, mas antes de mais nada, lhes garantem que estarão bem, pois o presente da vida não lhes foi tirado por este tornado.

Original de Juventud Rebelde. Traduzido por Diálogos Do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Ana Maria Dominguez Cruz

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