Pesquisar
Pesquisar

Militar denuncia que política dos EUA para Venezuela não tem a ver com democracia

“Nenhuma ação em nosso hemisfério de que tenha memória jamais se tratou de democracia e liberdade embora usemos essas palavras facilmente"
David Brooks
La Jornada
Cidade do México

Tradução:

O regime de Donald Trump anunciou de maneira repentina a retirada de todos os seus diplomatas da Venezuela ao mesmo tempo que reiterou, com o mesmo roteiro de seu líder “interino” venezuelano, que o apagão dos últimos dias é culpa do presidente Nicolás Maduro e mostra a urgência da mudança de regime para “resgatar a democracia”, objetivo que foi refutado por um distinguido coronel estadunidense retirado que foi o braço direito do ex-secretário de Estado Colin Powell.

Uns minutos antes da meia-noite de segunda-feira, o secretário de Estado Mike Pompeo anunciou via o canal favorito de seu chefe, o Twitter, que seu país está “retirando todo o pessoal que resta” na embaixada estadunidense em Caracas e que “esta decisão reflete uma situação deteriorada na Venezuela como também a conclusão que a presença de pessoal diplomático estadunidense na embaixada converteu-se em uma limitação sobre a política estadunidense”.

Leia também:
Diálogos do Sul lança campanha de assinaturas colaborativas no Catarse 

Umas horas antes, Pompeo havia oferecido uma entrevista coletiva sobre a Venezuela em Washington – na qual acusou que Cuba e Rússia estavam sustentando o “regime ditatorial” de Maduro e que o governo da ilha é “o verdadeiro poder imperialista” aí – sem adiantar nada sobre este aviso, o que provocou especulação de ter sido uma decisão precipitada. Mais ainda, vários especialistas expressaram surpresa já que foi interpretada como um revés para Washington que havia insistido em que não aceitaria a ruptura de relações diplomáticas anunciada por um governo que não reconhecia, e que manteria uma presença diplomática em apoio ao “interino” Juan Guaidó.

Ao mesmo tempo, essa última frase da mensagem de Pompeo provocou interpretações diversas, incluindo se era uma referência à possibilidade de uma intervenção militar.  

“Nenhuma ação em nosso hemisfério de que tenha memória jamais se tratou de democracia e liberdade embora usemos essas palavras facilmente"

Youtube
Lawrence Wilkerson, coronel retirado do exército dos Estados Unidos e ex chefe da equipe do secretário de Estado Colin Powell

A retórica oficial estadunidense de que está apoiando as aspirações democráticas do povo venezuelano tem sido disputada por críticos da política exterior de Trump, e não poucos assinalam a longa história estadunidense de intervenções, golpes de estado e invasões por toda a região – algumas das mais recentes sob o mando de, entre outros, o atual “representante especial para a Venezuela” de Trump, Elliott Abrams. Mas agora uma voz com ampla experiência direta em política diplomática e militar na América Latina, entre outras partes do mundo, rechaça as justificações oficiais.

Lawrence Wilkerson, coronel retirado do exército dos Estados Unidos e ex chefe da equipe do secretário de Estado Colin Powell, sob a presidência de George W. Bush, declarou em uma entrevista recente: “eu estive no governo que, em 2002, essencialmente iniciou o que foi um golpe de Estado de combustão lenta contra Hugo Chávez nesse momento, e não tenho dúvida de que essa operação encoberta continuou com altos e baixos contra Nicolás Maduro, e agora Elliott Abrams e outros nos estão dizendo que está rendendo frutos”.

Agregou, em entrevista para The Real News Network, que “nenhuma ação em nosso hemisfério de que tenha memória jamais se tratou de democracia e liberdade embora usemos essas palavras facilmente para descrever nossas motivações, porque fazem com que se sinta bem o povo estadunidense sonolento. Usualmente é por razões comerciais, seja Guatemala e a United Fruit Company… ou como hoje em dia na Venezuela onde se trata de petróleo e desse 5 por cento da população com o qual temos relações”.

O agora professor na Universidade William & Mary recordou que a história das relações estadunidenses com a América do Sul e a América Central “é manter no poder esse 5 por cento da população que costuma ser a cúpula empresarial desses países, porque são os que têm relações com nossa cúpula empresarial… Mas o que isso faz, obviamente, é nos pôr [contra] esse mais de 90 por cento da população, particularmente os que estão nos bairros e nos guetos, os pobres sem poder político, os sem futuro”.  

Concluiu que “o que Hugo Chávez fez… foi começar a reverter isso, como outros já tentaram em outras partes da América Latina, tentou dar um pouco de poder político, um tantinho de dinheiro, de prosperidade às classes baixas. E isso não é aceitável, não se pode permitir isso quando os irmãos Koch, Exxon-Mobil, Coca-Cola e todos os outros interesses comerciais estadunidenses não queiram isso.”

Tradução: Beatriz Cannabrava 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

LEIA tAMBÉM

Jorge-Glas_Daniel-Noboa (3)
Glas pede socorro a Brasil, México e Colômbia, e Noboa alega que países "cooperam com crime"
Pello Otxandiano - País Basco
Favorito das eleições no País Basco, EH-Bildu propõe reconciliação, memória plural e reparação
Daniel_Noboa_Equador
Apagões no Equador detonam aprovação de Noboa e consulta popular pode fracassar
Jorge_Glas_Colombia
Equador: Noboa veta direitos de Glas e tribunal mantém prisão mesmo admitindo violações