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Argentina: Macri quer destituir juiz que investiga rede de extorsão judicial no país

O prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel advertiu a La Jornada sobre a gravidade desta situação para o país e a afetação internacional que isto configura
Stella Calloni
La Jornada
Buenos Aires

Tradução:

O presidente argentino, Mauricio Macri instruiu o representante do Poder Executivo na Magistratura, Juan Bautista Mahiques, a apresentar uma denúncia contra o juiz federal de Dolores, Alejo Ramos Padilla, que possa levar à sua destituição e impedi-lo de investigar a mais importante rede de extorsões, espionagem ilegal e outros tipos de ações ilegais que comprometem promotores como Carlos Stornelli, que está à frente do processo das chamadas “fotocópias” de cadernos escritos por um ex-motorista de um ministério do governo anterior, com a única finalidade de acusar a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner, membros de seus gabinetes e empresários nacionais supostamente por receber e pagar subornos por obra pública. 

O aparecimento de documentos e várias pastas encontradas recentemente durante uma diligência realizada pelo juiz Ramos Padilla – ante a denúncia de extorsão do empresário Pedro Etchebest em fevereiro passado –  no domicílio de Marcelo D’Alessio, um falso advogado e agente ligado à DEA estadunidense e a outras agências similares, incluso nacionais, evidencia uma rede de características mafiosas, que trabalhava com impunidade, manejando informações confidenciais de organismos do Estado e de outros países como Estados Unidos e Israel.

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Isto não apenas afeta o governo no nível nacional, mas também internacional. Já que além disso teria havido espionagem, de que há provas concretas, no Uruguai e contra missões comerciais e funcionários iranianos, bem como contra políticos e dirigentes sindicais e sociais locais, e é considerado o maior escândalo político, judicial e midiático da história nacional, com utilização de métodos relacionados com a última e cruenta ditadura militar. 

Tudo isso aparece em pastas de relatórios e documentos sequestrados a quem fazia as extorsões em nome do promotor Stornelli, com o qual a cada dia aparecem mais comunicações alarmantes e escandalosas que complicaram definitivamente o magistrado e figuras importantes da aliança governante ‘Cambiemos’, como as deputadas Elisa Carrió e Paula Olivetto, a ministra de Segurança, Patricia Bullrich, o diretor da Agência Federal de Inteligência, Gustavo Arriba -também denunciado no processo dos subornos da construtora brasileira Odebrecht e outros.

Além disso, envolve o jornalista Daniel Santoro, “estrela” do Clarín, já denunciado em outras oportunidades, que aparece em quase todas as declarações e comunicações de D’Alessio, assim como uma série de nomes vinculados ao poderoso Grupo Clarín. A estratégia era apresentar os “quebrados”, ou seja, os que D’Alessio conseguia “quebrar”, mediante ameaças enviar provas reais ou fictícias, que poderiam afetar a eles e suas famílias, à imprensa “cúmplice” em primeiro lugar e depois à justiça. 

O  prêmio Nobel da Paz, Adolfo Pérez Esquivel advertiu a La Jornada sobre a gravidade desta situação para o país e a afetação internacional que isto configura

Vermelho
Maurício Macri.

A isto se acrescenta o que foi denunciado por advogados defensores de vários detidos sobre o juiz Claudio Bonadío e o promotor Stornelli que enviam para a prisão aqueles a que se acusa falsamente para que “amolecidos” – é o termo que usam – decidam colaborar e testemunhar o que quer o juizado: acusar à ex-presidenta e seu entorno. 

Com esses elementos de extrema ilegalidade se mantém o processo dos “cadernos”, já que não existe nenhuma outra prova e as fotocópias não puderam ser autenticadas e, inclusive a esta hora vários meios denunciaram esses “cadernos” escritos à mão, de acordo com as fotocópias, foram preparados sob orientação do juiz Bonadío, em sua presença, em reuniões secretas em um hotel importante desta capital, com alguns jornalistas. 

O processo dos cadernos, considerado como “inapresentável” por importantes juristas locais, surgiu na desesperada corrida do oficialismo para dar uma resposta às enquetes que neste domingo – como mostra o periódico Página 12 – estão adiantando que Cristina Fernández de Kirchner, violentamente perseguida e ofendida diariamente pelos meios do Grupo Clarín, La Nación, Infoabe e outros, ganharia as próximas eleições presidenciais de outubro caso seja candidata. Ela ou a figura que impusesse um peronismo unido junto a outros setores políticos derrotariam Macri no primeiro e no segundo turno.  Imediatamente Clarín e La Nación e outros médios ligados ao governo chegaram ao extremo de não publicar até agora uma só palavras sobre essa rede de extorsão e espionagem, apesar de que já ganhou o mundo. 

Por sua parte, o  prêmio Nobel da Paz (1980) Adolfo Pérez Esquivel advertiu a La Jornada sobre a gravidade desta situação para o país e a afetação internacional que isto configura, depois que a Comissão Provincial pela Memória de La Plata, que ele preside, investigou uma primeira remessa de documentos realizada pelo juiz Ramos Padilla, para que os investigadores reconhecidos deste Instituto estudassem documentos e arquivos deste caso. 

Mas além de apresentar o informe desta comissão, do qual várias conclusões foram lidas perante uma Comissão Bilateral do Congresso na semana anterior, Pérez Esquivel se expressou contra essa tentativa do governo de Macri de agir “uma vez mais contra os juízes verdadeiramente independentes quando assumem uma investigação e tomam resoluções que não agradam ao presidente e sua equipe”. 

Lamentou que o governo controle o poder judicial, “pelo qual muito juízes se submeteram às políticas oficiais, esquecendo de seus deveres para com o país, o que não só afeta severamente a democracia, mas se trata de impunidade em um país que tem lutado tanto contra isso, e além do mais estamos ante um envolvimento de outras nações. Não há nenhuma razão para tentar destituir um juiz que cumpre com o seu trabalho, sustentou. 

Também advertiu que o juiz Ramos Padilla não tem nenhuma segurança, nem a ajuda suficiente que a justiça está obrigada a lhe dar para investigar, ao que se agrega este vergonhoso ataque contra este magistrado. 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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