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Curuguaty: Supremo Tribunal de Justiça do Paraguai rejeita nomeação do juiz Jalil Rachid

Rachid atuou como promotor-geral do caso, fabricou e falsificou provas contra os acampados de Marina Kue, em Curuguaty
Leonardo Wexell Severo
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Em uma decisão histórica nesta terça-feira, quase sete anos após a carnificina de Curuguaty, o Supremo Tribunal de Justiça do Paraguai rejeitou a nomeação do juiz Jalil Rachid, carrasco dos camponeses, para a Promotoria da localidade. Em seu lugar foi indicado Alfonso Mascareño.

Peça-chave na fabricação e falsificação de provas contra os acampados de Marina Kue, em Curuguaty, elemento central na coerção e chantagem de testemunhas, Jalil Rachid agiu como promotor-geral do caso – e posteriormente como vice-ministro da Segurança do governo do presidente Horacio Cartes – para que as lideranças dos sem-terra fossem incriminadas e condenadas a até 35 anos de prisão por “homicídio doloso”, “associação criminosa” e “invasão de imóvel”.

Jalil é filho de Blader Rachid, ex-presidente do Partido Colorado, do ditador Alfredo Stroessner (1954-1989), mesmo cargo que ocupou Blas Riquelme, autointitulado proprietário dos 1.748 hectares ocupados pelos camponeses da área em disputa.

Rachid atuou como promotor-geral do caso, fabricou e falsificou provas contra os acampados de Marina Kue, em Curuguaty

Foto: Leonardo Wexell Severo
"Que segurança terá o povo com quem encobre a seus assassinos? Fora Rachid", exigem manifestantes

O massacre de Marina Kue, em Curuguaty, ocorrido em 15 de junho de 2012, envolveu 324 policiais que cercaram um acampamento onde se encontravam cerca de 60 trabalhadores rurais – entre homens, idosos, mulheres e crianças – reivindicando uma propriedade que vinha sendo criminosamente usurpada com base na violência. No momento em que as lideranças começaram a dialogar, tiros de franco-atiradores, membros de tropas de elite treinadas pelos Estados Unidos, provocaram artificialmente o “conflito” e a morte de 11 camponeses e seis policiais. 

A manipulação grotesca dos acontecimentos pelos grandes conglomerados de comunicação, em favor do latifúndio, provocou a destituição do presidente Fernando Lugo uma semana depois. Assim, passou a valer a tese do Ministério Público de que as tropas haviam sido “emboscadas” por “criminosos” que deveriam pagar o preço. Um detalhe: as garruchas encontradas com os camponeses não dispararam um único tiro. 

A farsa tinha um objetivo claro: fazer com que 2,5% dos proprietários, donos de 85% das terras cultiváveis, 94% delas destinadas à exportação, seguissem mandando e desmandando no país que alimenta 60 milhões de pessoas no planeta, enquanto oficialmente quase um terço da sua população de 6,7 milhões passa fome.

“Nestes momentos extremamente difíceis que estamos vivendo, a não confirmação de Jalil Rachid representa um sopro de vento fresco, um suspiro de alívio em meio à tanta injustiça social e econômica”, declarou Ana Bella Vera, ativista da Central Unitária de Trabalhadores Autêntica do Paraguai (CUT-A). Na avaliação da sindicalista, é preciso lutar para que se faça Justiça, “pois houve um dano irreparável a dezenas de famílias de camponeses inocentes, que foram privadas do convívio de parentes que perderam suas vidas ou que passaram longos anos presos pela atuação ilegal de Rachid”.

* Leonardo Wexell Severo é jornalista e colaborador da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Leonardo Wexell Severo

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