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Derrota de Macri ameaça modelo Bannon de manipular a democracia

A questão é que a realidade virtual não derrotou a crueza dos fatos. Bannon e sua trupe podem ser muito eficientes, mas não mudam esse fato da vida das pessoas
Renato Rovai
Revista Fórum
São Paulo (SP)

Tradução:

As pesquisas na Argentina anunciavam antes das primárias uma vantagem de 7 a 8 pontos para a fórmula Alberto Fernandez e Cristina Kirchner. Algo que prenunciava uma eleição equilibrada em outubro. 

Em 2015, quando Macri venceu as eleições havia perdido as primárias por margem semelhante. Depois perdeu o primeiro turno por 2 pontos e por conta da rejeição menor que o candidato kirchnerista à época, Daniel Scioli, ganhou por 2 pontos de margem num segundo turno disputadíssimo.

Havia muito receio de que isso pudesse acontecer de novo. Não por conta das qualidades do governo Macri, mas de como a campanha demolidora organizada por Bannon e sua máquina de difamação estavam atacando a democracia em diversos países e de quão eficiente ela já havia sido para a própria eleição de Macri.

Em 2015, a Cambridge Analítica atuou naquela derrota do kirchnerismo aproveitando-se do desgaste de mais de uma década à frente do governo pelo casal Nestor e Cristina.

A questão é que a realidade virtual não derrotou a crueza dos fatos. Bannon e sua trupe podem ser muito eficientes, mas não mudam esse fato da vida das pessoas

Revista Fórum
Eduardo Bolsonaro, Steve Banon, Jair Bolsonaro e Maurício Macri

Este modelo de fake news para arrasar adversários foi usado quase como um teste naquela eleição. Ainda sem a força do WhatsApp, mas já naquele momento foi demolidor.

Até hoje Cristina tem que explicar que não tem uma filha com síndrome de down que esconde do país. Ou que não é uma amante fogosa que vive a trocar de namorado como de sapatos. Enfim, os ataques não foram menores nesta eleição.

Ao contrário, a campanha de Macri usou o WhatsApp de maneira muito “profissional”. E ninguém tem dúvida de que Bannon e sua equipe o auxiliaram nisso.

A boa notícia é que não funcionou. E mais do que isso, parece ter tido efeito contrário. Pois, as pesquisas que apontavam uma diferença de 7 a 8 pontos também não mostravam a realidade das urnas, onde Macri foi derrotado por 15 pontos.

A intoxicação com as fake news parece ter levado mais gente a votar nas primárias. Foram 75% dos eleitores e isso estabeleceu um novo recorde de participação.

Algo como se as pessoas que estavam pensando em deixar seu voto para lá tivessem ficado com medo de ser novamente enganadas pela máquina de mentiras.

A questão é que a realidade virtual não derrotou a crueza dos fatos. A Argentina com Macri se tornou um país muito pior para se viver. A bela Buenos Aires virou uma cidade acampamento, com milhares de pessoas vivendo nas ruas. O povo não não consegue mais comer carne e nem beber leite, o consumo desses produtos caiu sensivelmente no país nos últimos anos. A inflação já passa de 50% ao ano e o desemprego é brutal.

Bannon e sua trupe podem ser muito eficientes, mas não mudam esse fato concreto da vida das pessoas. E a democracia ressurge, mesmo que das ruínas, para dar sua resposta.

A eleição da Argentina pode se tornar um marco não apenas para a América Latina, mas para as novas disputas que virão. O aprendizado será o de como derrotar Bannon e as transnacionais que o financiam.

Se der certo, muita coisa pode vir a se mover por outros cantos. Inclusive nos EUA, onde uma candidatura de Bernie Sanders pelo Partido Democrata já não é apenas um sonho.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Renato Rovai

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