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Um continente transformado em laboratório de um sistema neoliberal cruel e radical

Jogar com vantagem é trapaça; próprio de políticos que não seguem regras porque elas não os favorecem
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

O panorama mundial é desalentador. Os movimentos populares surgidos em distintos pontos do globo como protesto pelos abusos do sistema econômico imperante se chocaram contra um muro de repressão, cuja violência demonstra que os donos do capital estão dispostos a qualquer extremo para impedir uma volta a sistemas mais democráticos e a uma repartição mais justa da riqueza.

Mesmo quando o sistema liberal foi posto em crua evidência ante os povos que sofrem seus abusos, estes ainda carecem dos meios e do espaço para recuperar o protagonismo político ante governos totalmente sequestrados por grupos econômicos e financeiros, locais e internacionais.

O jogo, habilmente estruturado a partir dos escritórios das poderosas multinacionais e dos esteamentos políticos do primeiro mundo, conta com a cumplicidade de outros centros de poder entre os quais se destacam, por sua influência, os grandes consórcios jornalísticos. No entanto, as consequências dessa voracidade começam a golpear com força aos mesmos que têm apostado pelo desequilíbrio, pelo incremento da pobreza, e pela superexploração dos recursos. Isto, devido a políticas que desataram uma onda imparável de movimentos migratórios e substanciais perdas humanas e econômicas devido aos efeitos devastadores de uma mudança climática cuja existência negam com grande ênfase.

Jogar com vantagem é trapaça; próprio de políticos que não seguem regras porque elas não os favorecem

Wikimedia Commons
As elites apoiadas no império continuam utilizando as "famosas" cartas na manga

Na América Latina, um continente transformado em laboratório de um sistema neoliberal extremo, o esquema de poderes foi se consolidando em torno de personagens cujo papel não vai além de abaixar a cabeça e aceitar as condições impostas a partir da Casa Branca. Para isso, contam com o aval para aproveitar o período e enriquecer-se com os recursos públicos, amarrar laços com grupos de elite empresarial e buscar proteção de exércitos treinados para manter o status quo, tudo isso sempre e quando reprimam qualquer possibilidade de rebelião popular. Assim são as coisas, a população dos países administrados sob um sistema neoliberal – cujo objetivo reside em explorar ao máximo os privilégios outorgados por governos corruptos – encontra-se impossibilitada de exercer uma cidadania ativa e, menos ainda, de participar politicamente em iguais condições. 

Quando em algum dos nossos países as coisas não saem como eles queriam – como está sucedendo na República Argentina – os poderes ocultos do sistema se põem em “modo emergência” e começam a lançar mão de todos os mecanismos possíveis para convencer a cidadania das bondades de seu estilo de administração, utilizando táticas populistas – tardias e evidentemente falsas – e lançando mão do sempre bem-vindo apoio dos consórcios jornalísticos e dos sindicatos patronais que os apoiam. Diante dessa arremetida dos poderes, o risco de retrocesso está sempre presente. 

Outro exemplo é o resultado do processo eleitoral na Guatemala, celebrado no mesmo dia que o país sul-americano, só que neste caso as cartas já haviam sido convenientemente marcadas para evitar qualquer desvio da rota estabelecida pelo Departamento de Estado.

Portanto, graças a esses ases na manga do governo atual, a Guatemala não apenas mantém um estado de “zero riscos” para o sistema de exploração de seus recursos e cooptação de suas instituições, mas além disso conta com a vantagem de um ambiente cidadão temeroso e psicologicamente preparado para o que está vindo: quatro anos mais do mesmo e, possivelmente, em piores condições para o exercício livre de seus direitos democráticos. 

*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala

Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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