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"Ainda temos um déficit, falta criar a nação latino-americana", diz ex-presidente Mujica

“Estivemos muito juntos no discurso, mas muito distantes de construir uma realidade latino-americana"
Redação Prensa Latina
Prensa Latina
Buenos Aires

Tradução:

Com seu brilhantismo intelectual e político, o ex-presidente uruguaio José Mujica sublinhou hoje que no continente foram construídos muitos países, mas ainda falta criar a nação latino-americana.

“Estamos nisso, esse é o deficit que temos”, apontou em uma longa entrevista ao meio argentino El Destape Radio, na qual mergulhou na situação atual na região, nos processos judiciais contra líderes populares e insistiu em que hoje “ainda não construímos uma consciência latino-americana”.

Interrogado sobre a época dos governos progressistas no continente nos últimos anos e a realidade atual, Mujica disse que houve alguns avanços parciais com relação a contribuir a mitigar certas diferenças materiais muito profundas nas sociedades.

“Melhoramos os ingressos e a repartição, não equivale a que tenhamos construído cidadania. Muita gente que recebeu os benefícios nem sequer é consciente das causas e dos porquês. E na realidade contribuímos para fazê-los devotos da nova religião que é o mercado. São compradores necessitados submetidos a urgências, portanto nossos projetos chegam limitados.” 

“Estivemos muito juntos no discurso, mas muito distantes de construir uma realidade latino-americana"

Wikimedia Commons
O ex presidente uruguaio José (Pepe) Mujica

Com esse olhar certeiro que o caracteriza, o líder político uruguaio considerou que “estivemos muito distantes de construir uma realidade latino-americana. Muito juntos no discurso, mas na realidade a agenda dos problemas nacionais de cada um terminava por levar a parte central do esforço”. 

Sobre as próximas eleições tanto em seu país como na Argentina e na Bolívia, afirmou que a luta vai continuar, com avanços e refluxos. É dura, apontou, mas não há nada ganho nem nada terminado definitivamente. Somente há uma incerteza e caminho de luta. 

Depois de ressaltar que não acompanha essa espécie de derrotismo de alguns, opinou que é certo que há uma versão de direita em parte dos governos, mas já esteve muito pior, com estados ditatoriais, e acrescentou que há um caminho que será ou não será, dependendo da atitude que assumamos.

Ao aprofundar na figura do candidato presidencial argentino Alberto Fernández, que aparece com grandes possibilidades de ganhar a presidência em outubro após os resultados das primárias de agosto passado, disse que é um velho conhecido e brincou: “para poder resolver a crise econômica que vive essa nação será preciso um mago”. 

“Tem um desafio muito grande, mas tem que ser consciente, primeiro, que com a melhor intenção não se cometam erros graves. A Argentina tem um problema de liquidez rápida. Teria que não brigar, pelo menos de entrada, com o setor que lhe pode dar resposta mais rápida, que é a agricultura do grão”, sublinhou. 

Por outro lado, fez referência ao que hoje se conhece como lawfare na região, processos judiciais abertos contra os ex-mandatários Cristina Fernández, Luís Inácio Lula Da Silva e Rafael Correa, por exemplo. 

A esse respeito, disse que existe toda uma tecnologia instaurada para judicializar a política, de enveredar pelo lado da perseguição política que está envenenando tudo e tentam substituir os velhos golpes de Estado por versões mais edulcoradas do mesmo por outros caminhos. 

“É bastante lógico que o façam. Não deveríamos esperar outra coisa. Em definitivo, o capitalismo é o padrasto permanente da corrupção. A implementou, a gera e a maneja. Remarcou que semeou a ideia de que triunfar é ser rico”.

*Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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