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Argentina: reta final da campanha indica que Fernández segue favorito a ocupar Casa Rosada

Tudo indica que o enfrentamento televisivo entre os candidatos consolidou a liderança do candidato progressista faltando dez dias para as eleições
Martín Granovsky
Carta Maior
Buenos Aires

Tradução:

O primeiro debate presidencial na Argentina, ocorrido no começo desta semana, permite três tipos de análises: ninguém fracassou em sua estratégia, não houve nenhuma gafe de maior repercussão, ninguém deixou de expressar o que queria. Ou seja, nada mudou. A hipótese proposta aqui é a de que, ao final do encontro, a Argentina eleitoral era idêntica à de antes dos seis candidatos chegarem ao estúdio montado no edifício da Universidade do Litoral, na cidade de Santa Fe.

O maior risco para Alberto Fernández, Mauricio Macri, Roberto Lavagna, José Luis Espert, Juan José Gómez Centurión e Nicolás del Caño era o de fazer um papelão. Não aconteceu. Ninguém conseguiu tirar os adversários do sério, ou do seu roteiro pré-estabelecido. Tampouco houve movimentos mais arriscados, todos preferiram a cautela.

Quem tinha mais para perder era o peronista Alberto Fernández. Ficou em primeiro nas eleições primárias, em agosto. Das pesquisas mais recentes, a menos otimista dá a ele uma vantagem de 18 pontos sobre Mauricio Macri. Na sondagem que o instituto Proyección publicou esta semana, a vantagem já é de mais de 20: Fernández tem 53,8%, enquanto Macri aparece com 33,4%. Caso não aconteça nenhuma tragédia nos próximos dias, o mais provável é que ele seja eleito já no primeiro turno, no dia 27 de outubro.

Portanto, o debate não alterou a tendência que já existia antes dele. Se isso é verdade, podemos dizer que Fernández saiu de Santa Fe com o primeiro lugar cômodo que já tinha antes da votação, e agora continua sendo favorito para vencer já no primeiro turno. Ou seja, colocou sua vitória em jogo, e não a perdeu.

Alberto Fernández

O candidato da Frente de Todos teve um desempenho transparente. Insistiu em que Mauricio Macri mente, que está fora da realidade, que não resolveu os problemas, e que ainda por cima os piorou, e lembrou de grandes erros de sua gestão, como o não uso do orçamento disponível para áreas como a prevenção da violência contra as mulheres. Fernández tampouco evitou o fantasma da Venezuela. Disse que não quer uma escalada que leve a que soldados argentinos morram em Caracas.

Tudo indica que o enfrentamento televisivo entre os candidatos consolidou a liderança do candidato progressista faltando dez dias para as eleições

Twitter Alberto Fernandez Oficial / Reprodução
Pesquisa apontou consolidação da liderança de Alberto Fernández sobre o presidente Mauricio Macri nas eleições argentinas

Macri

Macri evitou os slogans que vinha repetindo nas últimas duas semanas (como o “sim, é possível” (em referência a uma virada eleitoral, e dedicado especialmente ao seu eleitorado mais cativo) e usou um tom mais pacífico, pedindo a uma classe média frustrada com a realidade socioeconômica do seu governo que lhe desse mais tempo. Só saiu desse roteiro duas vezes, no final do debate. Uma delas foi quando disse que Axel Kicillof (candidato peronista a governador da Província de Buenos Aires, favorito para vencer a atual governadora, e macrista, María Eugenia Vidal) vai impor um sistema de narco educação. A outra foi ao afirmar que “o kirchnerismo não mudou” porque “voltou o dedinho acusador, voltou a soberba”, e completou dizendo “voltou o pedestal”, desde o seu pedestal.

Roberto Lavagna

Por sua parte, um sereno Roberto Lavagna (terceiro colocado nas pesquisas) quis apresentar um meio termo Macri e Fernández. Mas as concordâncias com a agenda peronista foram tão evidentes que Fernández o citou favoravelmente três vezes, deixando uma mensagem implícita: “se você não gosta de Macri vote por mim, porque eu penso igual ao Lavagna e se vota em mim nós vencemos no primeiro turno”.

Nicolás del Caño

Nicolás del Caño, da Frente de Esquerda e dos Trabalhadores (quarto colocado nas pesquisas) parecia buscar, como primeiro objetivo, a manutenção do seu eleitorado nas primárias (cerca de 2,7%). O segundo objetivo era roubar alguns votos de Fernández. Ainda assim, atacou a todos os oponentes, mas sem citar nomes, e também se referiu a muitos peronistas não kirchneristas que votaram a favor de projetos do governo de Macri. Ademais, se diferenciou ao usar 25 segundos disponíveis para fazer um silêncio em homenagem aos equatorianos mortos nos recentes protestos.

Juan José Gómez Centurión

Talvez devido à presença do ultradireitista Juan José Gómez Centurión, o presidente Macri não quis repetir o discurso de “defender às duas vidas” no caso da Lei do Aborto, embora seja uma das suas principais ideias usadas em comícios recentes. Se o fizesse, poderia ser arrasado por esse adversário, que tenta roubar dele os votos ultraconservadores, com frases como “as feministas tomam misoprostol (pílula abortiva” como se fossem balas de caramelo.

José Luis Espert

Por sua parte, o candidato José Luis Espert ocupou o lugar clássico dos ultraliberais, com sua tradicional fórmula mágica: um país com sindicatos frágeis. “Moyano (famoso líder sindical argentino), chega de fazer fortuna com a justiça social”, acusou o candidato, além de utilizar a consigna “não queremos mais greves”, com a que promove seu projeto de criar um limite ao direito de greve em setores como a educação e a saúde. Além disso, afirmou que a educação sexual integral “degenera os jovens, promovendo a ideologia de gênero”.

Último debate

Ainda falta outro debate, que acontecerá na Faculdade de Direito da UBA (Universidade de Buenos Aires), no próximo domingo (20/10), sete dias antes da votação. O 10 de dezembro (dia em que o próximo presidente eleito toma posse) está cada vez mais perto.

*Publicado originalmente em Página12

**Tradução de Victor Farinelli 

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Martín Granovsky

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