Como vive o povo venezuelano? Você já parou para pensar nisso? Como encaram o desabastecimento, o bloqueio norte-americano, o governo? Como convivem em meio a tudo isto?
As respostas chegam por meio de um documentário ‘Esquinas Calientes: Geopolítica do bairro venezuelano’, realizado por Nacho Lemus. Através do material colhido, Nacho buscou mostrar a chave da resistência do venezuelano frente a tantos ataques. E mais, mostrar que, mesmo sob ataque, a população continua apoiando o governo de Maduro, apesar da fome, do desabastecimento e da direita raivosa.
O apoio acontece não por culto ao presidente, mas pela certeza de que não se pode abrir mão da soberania do país. Politizados, os venezuelanos se organizam para que a resistência seja mais efetiva.
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Vista dos morros de Caracas, municipio Libertador
Nacho pondera que, no meio de todo o caos, alguns elementos facilitam esta luta. Os serviços públicos, como metrô e gasolina, são gratuitos. Isso dá algum fôlego à população. A água costuma faltar, mas dá-se um jeito.
O jornalista comenta que são bem poucos os moradores de rua em Caracas. Este é um problema que não afeta o país. No entanto, o pior fica por conta da distribuição de alimentos. Para driblar a questão dos alimentos, algumas comunidades criaram os Comitês Locais de Abastecimento e Produção – CLAP, que teve seu modelo adotado nos municípios e que coordena a distribuição de alimentos, fazendo com que todos tenham seu quinhão.
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A CLAP também funciona como uma barreira contra o “bachaqueo”, que é o contrabando de produtos e especulação. Daí a importância desses Comitês até que se resolvam os problemas ocasionados pelo bloqueio econômico.
“Essas redes levam do produtor aos bairros, sem depender de ninguém, a um preço justo”, explica Nacho, “é uma solução parcial para o grande problema de desabastecimento”, conclui.
Lemus esteve por uma semana envolvido com este documentário, em Caracas. Aponta, como fato importante, que as medidas criadas pela população, para burlar os problemas, acabam sendo abraçados pelo governo, evidenciando o sucesso das ações populares dentro da institucionalidade.
“Faltam remédios, alimentos, maquinários, e os populares se organizam para conseguir driblar”, conta. A população criou um “exército” de pessoas que consertam máquinas, “um exército não convencional para uma guerra não convencional”, diz ele.
Um dado muito importante diz respeito à politização do venezuelano. ‘Todos falam das necessidades que têm, mas fazem também a relação dessas feridas com o assédio econômico e geopolítico’, diz Nacho, ‘num bairro você consegue entender o que acontece no planeta. Venezuela virou um eixo da briga geopolítica mundial’.
‘Bairro é uma organização política forte’, explica Nacho, “quando existe tentativa de golpe, são os bairros que saem em defesa do governo. Representam os dois lados: os que mais sofrem e os que mais defendem a Venezuela soberana”.
Nacho Lemus esteve na Venezuela em 2017 e agora, de novo, em 2019. Para ele, algumas diferenças são perceptíveis. Um deles é que mais dificuldades econômicas são evidenciadas, mas agora se vê menos problemas com abastecimento, solucionados em parte pelas CLAP’s.