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Do México à Argentina: detalhes sobre a jornada de Evo após golpe na Bolívia

Ao desembarcar em Buenos Aires, Morales agradeceu ao povo e ao presidente mexicano por ter lhe garantido proteção em circunstâncias tão dramáticas
Stella Calloni
La Jornada
Buenos Aires

Tradução:

Depois de ter sido recebido como exilado político no México no marco do golpe de Estado e das ameaças de morte, o presidente constitucional da Bolívia no exílio, Evo Morales Ayma desembarcou em Buenos Aires. Morales estava acompanhado pelo vice-presidente Álvaro Garcia Linera e pela ministra da Saúde, Gabriela Montaño. Suas primeiras palavras foram de agradecimento ao povo e ao presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador por ter lhe garantido proteção em circunstâncias tão dramáticas.

Morales e seus acompanhantes ingressaram na Argentina como exilados, mas já haviam solicitado serem admitidos como refugiados, o que está sendo preparado na nova chancelaria, como admitiu o atual ministro de Relações Exteriores, Felipe Solá.

Esperavam por ele no aeroporto, seus filhos Eva Liz e Álvaro que estão em Buenos Aires desde o dia 23 de novembro. Há uma quantidade de bolivianos que fugiram de seu país, entre os quais também jornalistas, todos perseguidos no que foi anunciado como “uma caçada” por parte dos funcionários golpistas.

Existe aqui uma grande comunidade boliviana que soma quase meio milhão de residentes, que foram surpreendidos com a chegada de Evo Morales. 

Enquanto isso, integrantes de movimentos de solidariedade com a Bolívia permanece à frente do consulado e da embaixada, onde resistem os funcionários e diplomatas do governo de Morales, pois chegaram representantes dos golpistas querendo tomar essas representações e agredindo e golpeando o seu pessoal, quando ainda estava Maurício Macri no governo e amparados pela polícia da cidade. 

Diante dessa situação, decidiram ficar e inclusive na embaixada os diplomatas estavam em greve de fome. O governo de Alberto Fernández não reconhece as autoproclamada presidenta Jeanine Añez, surgida do golpe de Estado, que assumiu rodeada de militares responsáveis do golpe e das mortes, torturas, perseguições e encarceramentos que continuam acontecendo no país andino e do qual chegam permanentemente denúncias a esta capital e são processadas por organismos humanitários.

Ao desembarcar em Buenos Aires, Morales agradeceu ao povo e ao presidente mexicano por ter lhe garantido proteção em circunstâncias tão dramáticas

Facebook / Reprodução
Evo Morales e Alberto Fernández

Alberto Fernández e o mandatário mexicano conseguiram ajudar em uma incrível e quase cinematográfica rede solidária a Morales e seus acompanhantes cada vez mais isolados e literalmente cercados pelos golpistas civis ultra racistas, paramilitares, e policiais na zona do Chapare.

Fernández apelou em horas dramáticas para conseguir que se permitisse que o avião da Força Aérea mexicana que recolheu os perseguidos em Cochabamba pudesse passar por países como o Paraguai e o Brasil. No caso do Equador, o presidente Lenín Moreno negou essa possibilidade, fazendo mais extensa a viagem rumo ao México. 

Na embaixada do México na Bolívia há vários exilados, entre eles o ministro Juan Ramón Quintana, que era procurado pelos violentos grupos cívicos, policiais e militares, sendo incrivelmente acusado de sedição e terrorismo”, como querem acusar a todos os funcionários do Movimento ao Socialismo (MAS), cujo governo foi interrompido pelo golpe de Estado. 

O MAS ganhou as eleições de 20 de outubro no primeiro turno e foi o secretário da Organização dos Estados Americanos (OEA), Luis Almagro que, sem haver cumprido sua missão de realizar uma recontagem – que outras importantes instituições internacionais fizeram – e antes de conhecer os resultados finais já havia declarado a “necessidade” de um “segundo turno” e instalado a ideia de uma “fraude” que não existiu, dando início ao golpe de Estado e à extrema violência racista aplicada ao povo boliviano, deixando vários mortos, feridos e castigados impunemente, particularmente exercendo violência e atacando as mulheres de “pollera” (que é como vestem as mulheres das comunidades indígenas) que representam 67% dos habitantes do país). 

O contato entre Morales e Alberto Fernández para solicitar o início dos trâmites para ser admitido como refugiado aqui, realizou-se no mesmo dia da posse do novo presidente. Sabe-se que Fernández acedeu de imediato, comunicando-se com a vice-presidenta Cristina Fernández de Kirchner e com o novo chanceler Felipe Solá. Tudo isso foi realizado silenciosamente em um operativo político e diplomático para que os exilados pudessem chegar em um clima de tranquilidade. O pedido de refúgio chegou e começou a ser trabalhado de imediato pela Comissão Nacional de Refugiados, o que permitiu que Morales e seus acompanhantes ingressassem ao país, onde chegaram em um voo regular de Aeroméxico acompanhados de dois diplomatas mexicanos. 

A pedido do governo, o líder do MAS terá custódia permanente da Polícia Federal; existe uma forte expectativa na comunidade local e em diversos círculos políticos e intelectuais no país, onde o presidente boliviano é muito querido e reconhecido. 

“Meu eterno agradecimento do presidente López Obrador, ao povo e ao Governo do #México por salvar-me a vida e por abrigar-me. Me senti como em casa junto às irmãs e irmãos mexicanos durante um mês”, tuitou Evo Morales.

“Há um mês cheguei ao México, país irmão que nos salvou a vida, estava triste e destroçado. Agora cheguei à Argentina para continuar lutando pelos mais humildes e para unir a Pátria Grande, estou forte e animado. Agradeço ao México e à Argentina por todo seu apoio e solidariedade”. 

*Stella Calloni, Correspondente de La Jornada em Buenos Aires

**La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

***Tradução: Beatriz Cannabrava

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Stella Calloni Atuou como correspondente de guerra em países da América Central e África do Norte. Já entrevistou diferentes chefes de Estado, como Fidel Castro, Hugo Chávez, Evo Morales, Luiz Inácio Lula da Silva, Rafael Correa, Daniel Ortega, Salvador Allende, etc.

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