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Apesar do circo, Guaidó deixou de ser presidente da Assembleia Nacional

O autoproclamado presidente venezuelano armou um cenário para posar de vítima e disfarçar a derrota na própria oposição
Victor Farinelli
Revista Fórum
São Paulo (SP)

Tradução:

A Assembleia Nacional (AN) da Venezuela elegeu ontem, para o período 2020-2021, uma nova direção, ainda dominada pela oposição ao chavismo, mas sem Juan Guaidó e na qual prevalece a vontade de levar a cabo um trabalho “ao serviço dos venezuelanos”, de “reconciliar o povo” e “evitar ações violentas ou confrontos”, segundo afirmou o segundo vice-presidente, José Gregorio Noriega.

Para a presidência da AN foi eleito Luis Parra, que denunciou os entraves colocados ao processo de eleição pelo ex-presidente, Juan Guaidó, uma vez que a oposição se encontrava dividida e o autoproclamado não ia alcançar os votos necessários à reeleição.

Em declarações à imprensa, Francisco Torrealba, membro do Partido Socialista Unido da Venezuela e líder do Bloco da Pátria (que inclui forças políticas que apoiam a Revolução Bolivariana), sublinhou que, com esta nova direcção, a AN poderá reentrar na ordem constitucional do país – uma vez que ainda se encontra em situação de “desobediência jurídica” perante o Supremo Tribunal de Justiça.

Sobre a ausência de Juan Guaidó na AN, Torrealba – um dos deputados chavistas que voltaram a ocupar os seus assentos em Setembro último, após um acordo entre o governo e sectores da oposição – afirmou que se tratou de um facto “inédito mas previsível, já que Guaidó não tinha os votos para ser reeleito”, e destacou a “divisão existente no seio da oposição”.

O autoproclamado presidente venezuelano armou um cenário para posar de vítima e disfarçar a derrota na própria oposição

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Juan Guaidó e a encenação de pular o portão da Assembleia venezuelana

Torrealba disse ainda que a nova mesa, apesar se ser constituída por elementos da oposição, “responde aos interesses do país e não acata ordens da administração dos EUA”, tendo por isso considerado que se inicia uma nova etapa, refere a Prensa Latina.

Também presente na sessão, esteve o secretário-geral do Partido Comunista da Venezuela, Oscar Figueroa, tendo expressado no final à imprensa que este processo abre as portas “à recuperação da legitimidade do Parlamento”.

Acrescentou ter testemunhado uma importante “fractura” na oposição e disse ter apoiado este sector – com o qual mantém “importantes divergências” – porque se opõe aos “entreguistas” e defende “a soberania do país” face ao intervencionismo imperialista norte-americano.

O “show” de Guaidó

Entretanto, no lado de fora, o mandado de Washington, a quem os correligionários da oposição fazem graves acusações de corrupção, tentou fazer parecer que os guardas da “ditadura de Maduro” o estavam a impedir de entrar na AN, de tal modo que até chegou a subir por uma vedação acima.

Contudo, registos videográficos mostram que, ao falar com efetivos da Guarda Nacional Bolivariana, é Guaidó quem se recusa a entrar nas instalações parlamentares a não ser que Gilberto Sojo, deputado que o acompanha, sobre o qual pendem diversos processos e que se encontra inabilitado, pudesse entrar também. Mas esse, como Guaidó bem sabia, estava impedido de entrar.

Depois deste episódio, o autoproclamado há cerca de um ano realizou uma ação em que é especialista: uma assembleia “paralela”, nas instalações do jornal pró-oposição El Nacional, onde foi “reeleito” pelos seus apoiantes, segundo indica a RT.

Apesar de tudo isto, figuras como a autoproclamada na Bolívia – Jeanine Áñez – e o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, já deram os parabéns a Guaidó pela sua “reeleição”, com críticas a Maduro.

Na sua conta de Twitter, o ministro venezuelano dos Negócios Estrangeiros, Jorge Arreaza, denunciou a tentativa de os EUA “prolongarem a ficção de um governo falso e inexistente”, bem como o “falhanço completo” da “estratégia do golpe” em 2019.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Victor Farinelli

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