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Peru: auxílio emergencial ainda precisar chegar em pessoas que perderam a fonte de renda

"Creio que o essencial é ampliar muitíssimo o alcance do subsídio", analisa economista peruano sobre o Sistema de Localização de Famílias em vigência no país
Manuel Robles Sosa
Prensa Latina
Lima

Tradução:

O governo peruano enfrenta a Covid-19 no terreno da saúde – sendo que para muitos o inimigo não é apenas a pandemia, mas também as carências estruturais do sistema sanitário -, mas também em outra frente, a economia, duramente golpeada pela emergência.

Sobre este assunto, Prensa Latina entrevistou o destacado economista peruano Pedro Francke, duro crítico do neoliberalismo, que enfoca o lado econômico-social da guerra contra o novo coronavírus.

Prensa Latina – Como avalia os subsídios sociais e outras medidas econômicas e sociais tomadas pelo governo para remediar o impacto da emergência? Deve fazer-se algo mais?

Pedro Francke – O governo tomou algumas medidas, mas insuficientes. Agiu cedo, oportunamente, com a quarentena e o subsídio (a pobres e setores de menores ingressos), e isso é bom, mas a meu ver tem que chegar a muito mais gente, a muitos informais, autônomos, que perderam sua fonte de renda.

"Creio que o essencial é ampliar muitíssimo o alcance do subsídio", analisa economista peruano sobre o Sistema de Localização de Famílias em vigência no país

Foto: La República
"Passada a quarentena não podemos simplesmente voltar para que tudo continuar igual", diz o economista

A lista do Sistema de Localização de Famílias para os quais vão os 380 soles (aproximadamente 110 dólares) de subsídio, usada para entregá-lo, é bastante imperfeita. Creio que o essencial é ampliar muitíssimo o alcance do subsídio.

Qual é sua opinião sobre a atitude dos sindicatos patronais frente à emergência e o impacto econômico e social da pandemia no Peru?

Creio que os sindicatos patronais reagiram tardia e, lamentavelmente, priorizando seu próprio bolso. Os bancos depois de duas semanas disseram que vão deixar de cobrar juros durante a emergência, seguramente pressionados pelo governo.

As Administradoras privadas de Fundos de Pensão (AFP) tiveram que aceitar que durante um mês não vão receber contribuições, mas não há uma mudança de fundo.

Foi dado um privilégio especial às empresas mineradoras, para que possam continuar trabalhando quando ninguém trabalha. Então acho que se manteve bastante desigualdade quanto aos benefícios.

E me parece que chamam particularmente a atenção grêmios como Comex, que agrupa alguns dos maiores empresários exportadores do Peru. O que querem é que todos os benefícios para as pequenas empresas sejam para eles além de ter uma série de descontos tributários, em vez de estar pensando em sua contribuição para o país. Parece-me bastante negativo.

Qual é sua opinião sobre o comunicado da Associação de Bancos, em que pede um “comitê técnico” integrado pelo Ministério da Economia e Finanças e os organismos do setor, para identificar medidas com vistas a uma pronta reativação econômica?

Parece-me que é bom ir pensando em medidas para uma pronta reativação econômica, mas me parece essencial que se inclua nesse comitê, e que presida esse comitê, o Ministério da Saúde. Não podemos separar as medidas de reativação econômica das disposições de isolamento social, porque estão juntas.

Passada a quarentena não podemos simplesmente voltar para que tudo continuar igual – voltemos a estar apinhados nos meios de transporte, em alguns mercados e em trabalhos em que não há suficiente distância social.

É indispensável que as medidas de reativação econômica sejam discutidas com participação do Estado, mas também do setor de Saúde e provavelmente do Primeiro Ministro para poder ter um equilíbrio entre as necessidades econômicas e de saúde pública.

Deve o governo tomar medidas para que os bancos se adequem à grave situação e assumam sua parte do custo?

Creio que os bancos já aceitaram reduzir os juros por um período de tempo, mas é preciso pôr na balança duas coisas.

Por um lado, os bancos obtiveram grandes lucros nos últimos quatro ou cinco anos, uma rentabilidade de 20% de seu patrimônio, o dobro do que podemos considerar razoável ou mais. Então, há um lucro histórico que deveriam pôr na mesa.

Também é preciso reconhecer que é provável que muitas famílias e pequenas empresas tenham dificuldade para pagar suas dívidas, e nesse sentido será preciso rever este assunto com bastante cuidado.

E é preciso analisá-lo para que o sistema financeiro e econômico não entre em colapso, mas ao mesmo tempo deve existir uma certa consideração de justiça com relação a como se repartem os custos e os benefícios entre o Estado e os bancos privados.

Não queremos regressar às experiências do passado, quando os bancos obtêm grandes lucros quando as coisas funcionam, porque assim é o sistema privado e quando tem perdas, estas são assumidas pelo Estado. Isso não pode continuar  assim.

A Sociedade de Petróleo e Hidrocarburos pediu ao governo que suas empresas petrolíferas deixem de pagar benefícios e impostos por três meses, devido às perdas que alega sofrer pelo coronavírus. O que acha?

Sobre o tema da Sociedade de Petróleo e Hidrocarburos, é verdade que o preço do petróleo caiu substancialmente. Os efeitos não são em princípio devidos ao coronavírus, e sim à queda do preço do combustível, em função desta guerra econômica entre a Arábia Saudita e a Rússia.

Mas creio que essa realidade deve ser situada no contexto dos grandes lucros obtidos nos anos anteriores.

Então, creio que estamos cansados de que os bancos quando tem fartos lucros nos digam que não se pode tocar nos contratos, pois assim é o sistema privado, que é preciso respeitar estritamente os contratos e as regras estabelecidas. Não nos peçam para pagar nem um sol mais.

E quando sofrem riscos novamente querem passar a fatura para o Estado, deixando de pagar impostos. Isso não pode ser assim e tem que ser visto de uma maneira mais equitativa.

*Correspondente de Prensa Latina no Peru

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Manuel Robles Sosa

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