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Covid-19: passado primeiro golpe, relaxam-se precauções e aumentam vítimas mortais

As pessoas se arriscam, retomam rotinas, desquitam sua ansiedade em reuniões sociais irresponsáveis e, terminam por ocasionar um aumento mortal de contágios sem culpa alguma
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

A estupidez humana parece não ter limites. Especialmente, quando se apodera daqueles que administram as instituições das quais depende a segurança e sobrevivência de milhões de seres humanos. Nunca essa falência tinha se manifestado de maneira tão clara como diante da presença de uma pandemia que quase nenhum governo tem conseguido controlar e à qual os povos menos favorecidos – como os nossos – enfrentam com uma carga imensa de enganos, ignorância, ceticismo, medo e rechaço. Mas não é um quadro exclusivo dos países subdesenvolvidos, está presente também naquelas nações cujos líderes se encontram fortemente atados a compromissos imorais com um sistema neoliberal desumanizante e controlam uma emergência sanitária com uma perspectiva eminentemente empresarial.

Este vírus revelou de repente a verdadeira dimensão da miséria humana; mas também da poderosa maquinaria desde cujas engrenagens se manejam as redes de influência planetária, os acordos secretos de grupos de imenso poder econômico, as pressões de complexos corporativos dos quais depende a vida humana e a integridade do entorno natural. Enfim, de todo esse conjunto de fatores cuja presença ubíqua, e em muitos casos anônima, condiciona até o mínimo aspecto de nossa existência. Nestes meses, mas muito pontualmente nas últimas semanas, a falsidade de um discurso político comprometido marca uma rota cheia de perigos para uma população enfrentada sem ferramentas a um inimigo invisível e altamente letal.

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Chegou a hora da ressaca e se começam a ver as beiradas desfiadas de um tecido institucional débil: falta de infraestrutura hospitalar, carência de recursos para o pessoal da saúde, incapacidade para manejar as emergências e um sistemático ocultamento das cifras verdadeiras com o absurdo objetivo de apresentar uma cara um pouco mais decente diante da comunidade internacional. No entanto, esse afã de ocultamento terminará por explodir quando as consequências da falta de estratégias sensatas e orientadas ao serviço público sejam tão avassaladoras que seja impossível ocultá-las. 

As pessoas se arriscam, retomam rotinas, desquitam sua ansiedade em reuniões sociais irresponsáveis e, terminam por ocasionar um aumento mortal de contágios  sem culpa alguma

Reprodução: pixabay
Muitos países tem enfrentado uma segunda onda do Covid-19 depois de flexibilizações

Além disto, e devido ao caótico e pouco eficiente desempenho das autoridades, começa-se a vislumbrar um relaxamento das medidas. Em parte, pelas pressões dos grupos corporativos cuja incidência nas políticas públicas vem de longa data e cujos interesses comerciais começam a mostrar certo desgaste, e em parte porque a falta de informação oportuna e veraz para a cidadania se traduz em um total desconcerto e, consequentemente, em uma tomada de decisões pouco afortunadas e de alto risco. 

Por não estarem acostumada a manter uma rotina de confinamento durante um tempo prolongado, as pessoas se arriscam, saem de seu encerro, retomam rotinas normais, desquitam sua ansiedade em reuniões sociais irresponsáveis e, finalmente, terminam por ocasionar um aumento descontrolado do índice de contágios sem  experimentar culpa alguma pelo impacto de suas ações.

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O inveterado costume – sempre presente em nossos âmbitos políticos – de outorgar posições de enorme responsabilidade a personagens carentes dos conhecimento e da experiência necessárias para desempenhá-las, tem levado os nossos países a um situação cada vez mais vulnerável e ao fracasso sistemático dos governos de turno. Se isto, em situações normais, já é uma tragédia para milhões de cidadãos em situação de pobreza, nestes tempos de pandemia será uma catástrofe humanitária de proporções inimagináveis. O que nos depara o destino é algo impossível de predizer. 

A falta de informação veraz e oportuna é uma constante ameaça.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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