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ToggleDesde que o poeta montevideano do século XIX, Juan Manuel Zorrilla de San Martín, chamou o rio Uruguai de rio dos pássaros pintados, até os dias presentes com alarmes de contaminação, muita água correu por uma artéria de lírica inspiração, geradora de expectativas e também de conflitos.
Registros históricos consignam 1520 a data em que essa corrente fluvial foi divisada e explorada pela nave Santiago, comandada por Juan Rodríguez Serrano, pertencente à Primeira Volta ao Mundo de Fernando de Magalhães.
O integrante da expedição chamado Francisco Albo comentou o achado em seu Roteiro da viagem do grande navegante desde o Cabo de São Agostinho no Brasil até o regresso à Espanha, confundindo o rio Uruguai com o rio de Solis.
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Depois apareceu no planisfério Salvati (1526-1527) com a denominação de “rio San Cristóbal”. Mas desde muitíssimo antes a originária população guarani o chamava de acordo com sua etimologia linguística e cosmovisão, cuja tradução foi submetida a versões parecidas entre si.
Uma delas defende que aqueles aborígenes uniram o vocábulo uru, uma ave da família da perdiz e da codorniz e guai (rio); outra que a sintetiza em rio dos pássaros, e da qual Zorrilla prefere uma interpretação poética de rio dos pássaros pintados.
Prensa Latina
Uruguai dos Pássaros Pintados
Rio Uruguai
Trata-se de um rio internacional da América do Sul que com os rios Paraná, Paraguai e outros cursos fluviais formam a bacia do Prata.
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Nasce na Serra do Mar (Brasil), de onde cursa ao longo de 1800 quilômetros até sua desembocadura no rio da Prata, 32% aproximadamente por território brasileiro, 38% forma o limite entre a Argentina e o Brasil, e 30% forma o limite entre a Argentina e o Uruguai.
Este último trecho se encontra acautelado por uma Comissão bilateral, criada pelas Repúblicas Argentina e Oriental do Uruguai como concretização da vontade de ambas de institucionalizar um sistema de administração global do rio Uruguai no trecho que compartilham.
Estatuto do Rio Uruguai
Esta Comissão foi constituída pelo “Estatuto do Rio Uruguai”, subscrito entre ambos os países em 26 de fevereiro de 1975 e tem como principal antecedente “O Tratado de Limites do Rio Uruguai”, de 7 de abril de 1961.
Mediante a adoção de decisões conjuntas em questões de interesse comum, ambos os países acham a desejada coordenação de suas atuações, com um moderno instrumento internacional.
O rio Uruguai é um importante recurso hídrico cujo potencial de desenvolvimento está ainda em uma etapa incipiente e sua manutenção em condições tais que possa servir às gerações atuais e futuras é um dever que foi assumido pelas Partes que o compartilham.
O aproveitamento principal do rio é a geração de energia por meio da Represa Salto Grande, propriedade do Uruguai e da Argentina, que se encontra localizada perto do que previamente era o salto de água natural que levava esse mesmo nome.
Brasil
Em território brasileiro também se encontram várias represas e, além disso, os governos da Argentina e do Brasil abraçaram um projeto para construir um complexo hidrelétrico chamado Represa de Garabí.
No entanto, seu mais autêntico uso, do qual fez o acompanhante de Magalhães, navegando-o, continua sendo no presente uma exploração incompleta apesar das expectativas que há muito tempo abrigaram seus ribeirinhos.
Um primeiro e original obstáculo se interpõe em um rio com três seções e características próprias, uma parte superior de curso rápido e pouco navegável de 816 quilômetros e um desnível de 43 centímetros, uma seção média de 606 quilômetros e um desnível muito menor, e o trecho inferior de circulação de embarcações.
Em resumo, águas abaixo o rio se alarga e para cima, até Salto, a navegação se interrompe por falta de dragagem e só é apta para embarcações de pequeno porte.
Até o ano passado, sob a gestão turística do governo da Frente Ampla foi impulsionada a campanha Pássaros Pintados, para percorrer, em embarcações próprias, ilhotes e estreitos canais, desfrutar a paisagem e os sons da natureza.
Hidrovia
Até o ano passado, sob a gestão turística do governo da Frente Ampla foi impulsionada a campanha Pássaros Pintados, para percorrer, em embarcações próprias, ilhotes e estreitos canais, desfrutar a paisagem e os sons da natureza.
A aspiração de fazer do rio Uruguai uma hidrovia cobrou ímpeto entre os três países ribeirinhos, não só nos dois mais próximos da bacia do Prata, mas também o Brasil mostrou interesse em se envolver no chamado projeto Salto Grande, para cruzar águas acima, já que desde sua proposta em 1992, já havia saturação em seus portos em Rio Grande.
Quaisquer que fossem as orientações de mutantes governos em Montevidéu e Buenos Aires, a perspectiva de uma hidrovia nessas águas partilhadas foi colocada na agenda bilateral e na mesa de negociações.
A iniciativa pretende conectar por via fluvial o sul do Brasil com os portos do rio da Prata e, em princípio, se espera pode movimentar a produção arrozeira e madeireira do Brasil e da Argentina.
Para os mais entusiastas vai baratear os custos de carga e por isso, haverá possibilidades de mais produção uruguaia, como também argentina, brasileira e inclusive paraguaia.
Em 2019 uma delegação da autoridade portuária da Bolívia visitou as autoridades do Tratado para o uso futuro de alguns de seus embarcadouros com a finalidade de levar ao oceano Atlântico mercadorias com destino aos compradores, depois de transportá-las via fluvial Paraná-Uruguai como alternativa à falta de saída ao mar pelo Pacífico.
Relações Uruguai-Argentina
Em uma recente conversa telefônica entre os presidentes Lacalle Pou e Alberto Fernández, um dos temas foi precisamente a navegabilidade do rio Uruguai e acordaram que nas próximas semanas as delegações binacionais da comissão que o administra avançarão para começar a concretizar a iniciativa.
De alguma forma, os mandatários retomaram um projeto que ficou truncado desde a inauguração da represa de Salto Grande em 1979; no entanto, os estudos sobre a navegabilidade do rio Uruguai datam de 1890.
Depois foram realizados outros sobre o comportamento do rio e sua potencialidade hídricas. Em 1946 foi firmado o primeiro acordo binacional que incluía a navegabilidade do rio.
Estudos e custos
Um estudo com dados recentes e de 2004, aponta duas opções em matéria de custos, dependendo das obras a serem realizadas, uma de 260 milhões de dólares e outra de 620 milhões.
Obviamente a região que já arrastava situações econômicas inapropriadas para tal ambicioso empenho antes da pandemia da Covid-19, pior será quando ao ciência médica consiga vencê-la se os prognóstico indicam o recrudescimento da pobreza.
Isso sem contar o acúmulo de problemas diplomáticos e jurídicos para ser solucionados, previsivelmente marcados em sensitivos conflitos históricos.
Por ora, os Estados atores terão que limitar-se a plausíveis atos de fé futurológicos que desenhem uma dinâmica via fluvial conciliada ambientalmente com pássaros pintados.
Hugo Rius, Correspondente de Prensa Latina no Uruguai.
Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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