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Informe da ONU contra Venezuela usa dados de ONGs ligadas aos EUA e ignora provas

As inconsistências deste informe das Nações Unidas estão baseadas, em parte, na ostensiva parcialidade, na imprecisão das fontes e na extrema politização do tema
Missión Verdad
Misión Verdad
Caracas

Tradução:

Complementando do informe da “Misión Independiente” de Determinação dos Fatos na Venezuela, nesta oportunidade realizamos uma revisão crítica das fontes utilizadas pelo informe.

Evidentemente, as inconsistências deste informe estão baseadas, em parte, na ostensiva parcialidade e na imprecisão das fontes. E ocorre que, sem nenhum tipo de objetividade na recopilação dos dados, nem uma investigação in situ que evidencie o que foi escrito, o objetivo do informe é meramente político, em vista das eleições parlamentares de dezembro na Venezuela.

Inclusive, no preâmbulo do informe, a Missão indica que tiveram dificuldades na investigação, “lamentando profundamente” não realizar a investigação na Venezuela.

Sendo assim, é necessário se perguntar sobre a origem da informação apresentada como válida. Considerando os níveis institucionais nos quais foi conduzido o informe, este deveria ter sido realizado com muita perícia, mas não foi o caso.

Foto: Informe de la “Misión Independiente” 

“A missão lamenta profundamente não ter podido visitar a Venezuela e realizar uma investigação no país. Em 14 de janeiro de 2020, os Membros solicitaram oficialmente que se celebrasse uma reunião com a Representação Permanente da República Bolivariana da Venezuela perante as Nações Unidas em Genebra. Uma solicitação similar foi formulada pelo Coordenador da Missão em 7 de janeiro de 2020. Em 3 de março de 2020, os Membros solicitaram oficialmente o acesso para realizar investigações na Venezuela. A Missão também enviou cartas ao Governo em 14 de maio de 2020, em 2 de junho de 2020 e em 7 de agosto de 2020, nas quais solicitava informação sobre questões de interesse para o mandato. Em 21 de julho y em 4 de setembro de 2020, a Missão escreveu ao Governo expressando sua intenção de lhe entregar o informe antes de sua publicação para que o…”

A politização do informe e de sua apresentação serviu de catalisador para que os diferentes atores políticos internacionais justifiquem e cubram as costas ao assumir posições de repúdio perante as referidas eleições, já que as ameaças da administração atual dos Estados Unidos orbitam sem descanso.

As inconsistências deste informe das Nações Unidas estão baseadas, em parte, na ostensiva parcialidade, na imprecisão das fontes e na extrema politização do tema

Foto: Elma Okic / UN Photo
A politização do informe e de sua apresentação serviu de catalisador para diferentes atores políticos internacionais

As principais fontes são ONGs:

Embora a Missão especifique no item 10, que utilizou informação de domínio público para realizar a investigação, incluindo as redes sociais, são as Organizações Não Governamentais (ONGs) as fontes utilizadas fundamentalmente.

O Comitê de Familiares de Vítimas do Caracazo (COFAVIC), que no começo se dedicava a trabalhos de denúncia do massacre, aparece como fonte principal nas alegações do informe para, supostamente, corroborar determinados casos.

Sabe-se que COFAVIC é uma das ONGs venezuelanas que tem recebido financiamento da alemã Fundação Konrad Adenauer e da USAID, e que, dentre suas atividades, está administrar o financiamento de organizações não governamentais de direitos humanos para que respondam de alguma maneira ao Departamento de Estado estadunidense.

Unido a isto, acrescenta-se a sua parceria com Human Rights Watch (HRW) que data desde alguns anos, em que a COFAVIC fornece relatórios ligados a essa matéria.

Foto: Twitter

Nesse leque de incongruências, surge o Centro de Justiça e Paz (CEPAZ), outra ONG vinculada a setores opositores e que, em 2018, recebeu financiamento da União Europeia para o reforço de organizações no campo dos direitos humanos.

Ambas, em geral, focaram em fornecer informação conveniente para seus interesses em matéria de direitos humanos, ignorando ou afastando por completo casos como o de Orlando Figuera, jovem assassinado em 2017 nos violentos protestos contra o governo venezuelano.

Cristopher Figuera, ex diretor do SEBIN. Foto: Facebook – reprodução

Outras das ONGs — que servem de fachada no financiamento por parte de entidades externas para desestabilizar o país — também participaram nesta recopilação de acusações sem respaldo, a saber:

* O Observatório Venezolano de Conflictividad Social (Observatório Venezuelano de Litigiosidade Social) (OVCS) emprestou à Missão sua documentação de protestos, classificados como “políticos”, ignorando absolutamente toda a incitação à violência e danos ao patrimônio nacional gerados pelas guarimbas.

* A Missão também obteve dados sobre a Operação de Liberação do Povo (OLP) da página web da Associação Civil Controle Cidadão, dirigida por Rocío San Miguel, dos quais são bem conhecidos seus vínculos com o Departamento de Estado dos EUA. A partir dos dados de Controle Cidadão são documentadas as supostas “violações dos direitos humanos”, preservando em alguns casos o anonimato. Chama a atenção esta simplicidade na metodologia on-line.

* Também aparece a ONG Espacio Público (Espaço Público), dirigida por Carlos Correa, conhecido por sua participação em atividades de “ajuda humanitária”, e que agora é investigado por desvio de verbas nessa manobra. Não se fazem comentários no informe sobre as irregularidades nesta matéria, sendo o deputado José Brito quem conduz a investigação com documentos que demonstram que Espacio Público recebeu dinheiro da USAID destinado a “fins humanitários” e que documentos desclassificados do governo dos Estados Unidos no ano 2015, mostram que esta ONG é financiada pela Fundação Pan-americana para o Desenvolvimento (PADF, por suas siglas em inglês), que recebe fundos da USAID e Freedom House.

Além disso, em cada caso descrito não desenvolvem os fatos antidemocráticos nos quais estavam envolvidos tanto Leopoldo López como Freddy Guevara — por nomear duas pessoas da longa lista de golpistas —. Unicamente fazem referência às detenções de políticos, ou seja, fabricam uma cobertura de vitimização que os colocaria por cima das leis venezuelanas.

E, não menos importante, no tocante aos indultos presidenciais, nenhuma fonte proporciona os vídeos dos detentos, muito probatórios, de que efetivamente não foi realizado nenhum tipo de tortura. 

Cristopher Figuera: outra “fonte” chave do informe:

O presidente venezuelano Nicolás Maduro expressou que, após a tentativa de insurreição militar em 2019, o ex-diretor do SEBIN, Cristopher Figuera, tinha sido recrutado pela CIA e trabalhava como delator nos cargos atribuídos.

Não podia faltar neste informe. Figuera foi um dos entrevistados da Missão. Sem provas, cada sinalização foi feita no limite de repetidas acusações, centralizadas nas torturas e maus tratos por parte do SEBIN. Para a Missão, cada palavra foi “coerente e plausível”, mas, e as provas?

São numerosas as entrevistas feitas a Figuera: desde sua fuga para os Estados Unidos nada mudou. De fato, em cada entrevista alega que ele tinha conhecimento das supostas torturas e que era o presidente Maduro quem instruía esses procedimentos, outorgando-lhe uma credibilidade absoluta às opiniões de Figuera.

Orlando Figuera foi incendiado e morto por grupos da oposição. Foto: Arquivo 

Mais uma vez, os Estados Unidos e seus aliados promovem outro ataque nesta guerra multiforme que a Venezuela está enfrentando, esta vez, mexendo suas fichas no sistema multilateral para continuar com as pressões neste crucial último trimestre do ano.

No livro Overthrow de Stephen Kinzer é feita uma recopilação interessante da metodologia de derrocada por parte da CIA.

Em princípio, o autor percebe uma série de padrões similares na hora de pressionar para derrubar politicamente os governos legítimos que são atacados.

Um dos padrões fundamentais implica justificar a intervenção, com base em princípios morais e urgentes, sobre a base de premissas ou informações. E pouco importa quem proporciona a informação ou sua veracidade, já que existem mecanismos para impor a verossimilhança de tais argumentos.

Baseado nisto, Kinzer assinala que o argumento mais potente é: “Fizemos isso para liberar as pessoas oprimidas”, garantindo que é bastante ignorada a situação que o país enfrentará, mas esse não é o ponto que interessa.

Não muito distante, para esse caso a desculpa que aplicaria é: “Fazemos isso pelos direitos humanos”.

Misión Verdad | Grupo de investigação e análises


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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